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Estado de Minas BEM VIVER

Psicólogo destaca importância dos pais ao ensinar valores aos filhos

Positividade, tolerância, respeito e o modo como o mundo é transmitido são fatores que auxiliam na formação da mente da criança


18/07/2021 04:00 - atualizado 18/07/2021 13:58

Se pudesse, Mariana Penido daria uma espécie de ultimato na violência: 'Que vá embora e não volte nunca mais', afirma
Se pudesse, Mariana Penido daria uma espécie de ultimato na violência: "Que vá embora e não volte nunca mais", afirma (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 14/8/19)
Os conceitos de percepção externa estão ligados intimamente com o tipo de criação que a criança tem em seu modelo familiar-domiciliar, como também paterno ou materno, nos casos de pais separados. São conceitos baseados, principalmente, na forma como que os próprios valores de cada um são introduzidos ou transmitidos dos pais para seus filhos. À medida que as crianças amadurecem intelectual e emocionalmente, a percepção sobre os diferentes aspectos da vida deve ser aprofundada.

É o que salienta o psicólogo Alexander Bez. “Por isso, a importância sumária do papel dos pais em ensinar e praticar a parentalidade positiva, orientando a necessidade em se dar o valor correto às pessoas e instâncias existenciais, desenvolvendo os conceitos de cidadania e de civilidade, como também fazendo a diferenciação entre o que é do bem e o que não pertence a essa esfera”, recomenda.
 
Alexander Bez destaca que quanto mais salutar for a formação psíquica da criança, ela terá uma plataforma psicointelectual e psicoemocional sólida, e poderá absorver todos esses conceitos com uma postura mais serena e bem mais consistente mentalmente. “Em todas as fases, a linguagem usada pelos pais influi na formação psicointelectual da criança, como também a torna capaz de administrar melhor e com mais responsabilidade (dentro do limite cronológico) a importância desses conceitos. Consequentemente, a prepara para enfrentar com mais lucidez as frequentes frustrações”, acrescenta.

Positividade, tolerância, respeito, o modo como o mundo é transmitido, os detalhes contidos nas informações, os momentos de recreação entre pais e filhos e a participação efetiva na criação são fatores que auxiliam na formação da mente da criança. "Entretanto, os componentes da radicalização, ideologias, extremismos de uma maneira geral, devem ser descartados nesses processos de criação familiar, principalmente em um contexto pandêmico, e ainda em plena disposição do século 21”, diz o psicólogo.

Existem algumas crianças, segundo Alexander, que já nascem com o que, psicologicamente, é chamado “personalidade soberana”, e assim são isentas de se influenciar por um radicalismo transmitido propositalmente. “Mas é só nessa situação. A influência paterna e materna é fundamental e intrínseca ao processo de desenvolvimento psicológico/emocional elaborado pelo aparelho mental.” Nesse aspecto, a escola também tem seu lugar de relevância.

Mariana Penido, de 7 anos, já sabe quando o assunto é sério. No último fim de semana, participou com a família da manifestação contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em Belo Horizonte. Mas, diz que não entendia bem o que as pessoas falavam, tamanha a gritaria. “O que vejo é que as pessoas estão odiando o Bolsonaro. Era uma hora que todo mundo falava mal dele. Mas eu não estou ligando muito para isso”, confessa. 

Mariana sabe que a crise sanitária vai demorar a passar. Ela completa 8 anos em dezembro e acha que o fim da pandemia de COVID-19 não será um de seus presentes de aniversário.

Sobre os adultos, diz que são chatos quando ficam sérios demais e reclamando de tudo, mas, ao mesmo tempo, sabem ser amorosos. Para ela, família significa amor e amizade. 

Diante da violência, é como se ela desse um ultimato – “que vá embora e não volte nunca mais”. E quando for adulta? “Quero puxar os meus pais. Ser uma boa pessoa, ter filhos e uma vida feliz. Tenho muita felicidade na minha vida, adoro a felicidade.” E sobre Deus? “É quem controla tudo, uma pessoa muito boa, perfeita, e que sabe de tudo”, afirma.
 
O psicólogo Alexander Bez ensina que quanto mais salutar for a formação psíquica da criança, ela poderá ter postura mais serena e consistente
O psicólogo Alexander Bez ensina que quanto mais salutar for a formação psíquica da criança, ela poderá ter postura mais serena e consistente (foto: Arquivo Pessoal/Divulgação )
 
O biólogo Pedro Castro Andrade, de 42, é pai de Mariana. Na família, formada também pelo filho mais velho, Rafael, de 11, e a mãe, Patrícia, o diálogo é uma constante. Os pais mostram para os filhos que, apesar de eles terem acesso a uma vida boa, existem muitas pessoas que não têm como satisfazer as necessidades básicas, e falam do abismo social exsitente. "Ensinamos a dar valor a cada coisa, mostrando que nada vem de mão beijada. Ensinamos a ter essa consciência social”, diz Pedro Andrade.

Maria Carolina Pereira, de 11, vê a liberdade como um dos pontos positivos em ser adulto, mas lembra que, com isso, vêm as responsabilidades. “Fazem o que querem, não têm muitas regras. Por outro lado, têm que ter dinheiro para pagar a casa, a escola dos filhos, a comida. As crianças não têm com o que se preocupar”, descreve. E ela gosta mesmo é de ser criança. “No geral, o mundo adulto é, para mim, muito sem graça. Queria ser adulta só pela liberdade, o resto não. Geralmente, ficam chatos. Prefiro quando os adultos continuam sendo divertidos, brincalhões e espontâneos”, conta a menina.

Quando se imagina na fase adulta, Maria Carolina diz que não tem alguém que seja um exemplo para se espelhar – um pouco do pai, talvez. “Só pelo seu lado espontâneo, pelo seu trabalho, não”, diz, com sinceridade. No mais, vai caminhar por onde a vida a levar, em suas palavras. “Espero não ficar chata. Ter filhos e continuar ao lado dos meus amigos, todos brincando juntos, e sem preguiça de brincar.”

LINGUAGEM ADEQUADA  

A administradora Maria Cecília Lemos, de 42, é mãe de Maria Carolina e Téo, de 7, filhos com Renato Pereira. O aprendizado deles reflete muito pelo diálogo, mas, principalmente, exemplo concreto. “Estimulamos coisas que consideramos importantes, e outras passam pela curiosidade deles, à medida que vão questionando. Procuramos explicar de uma forma didática, e com uma linguagem adequada à sua idade. Mas sempre com verdade. Nunca dissemos, por exemplo, que os bebês vêm das cegonhas”, diz.

A psicóloga Cibele Marras explica que as construções sobre os conceitos mais abstratos vão depender do desenvolvimento cognitivo da criança, que vai entendendo tais conceitos aos poucos. Quando são sentimentos, é diferente. “Medo e felicidade são coisas que ela sente, que tem a experiência. Todas essas são questões que podem ser trazidas pela família, e também pela escola”, pontua. Muitas das noções são aprendidas no dia a dia. “Quando ela vê um morador de rua e pergunta o porquê daquilo. Podemos dar explicações dentro do que ela pode entender, e na linguagem dela. Outro exemplo: falar de felicidade no momento em que ela está feliz”, recomenda Cibele.

Sobre a pandemia, talvez crianças menores não percebam todas as implicações da crise aberta pelo novo coronavírus, mas entendem na prática o que é. “Ter que colocar a máscara todo dia para ir para a escola, passar álcool e lavar bem as mãos, que é um bichinho que causa doença.” Quanto à autonomia de pensamento, seja qual for a idade ou a fase do desenvolvimento cognitivo, chegará a vez de acontecer, a menos que a criança tenha alguma dificuldade muito específica de elaboração de conceitos, afirma a psicóloga.

palavra de especialista

Flávia Vivaldi – Doutora em educação pela Unicamp

 
(foto: Arquivo Pessoal - 4/6/20)

Conexões necessárias

“Preservar as crianças do mundo adulto é uma questão absolutamente lógica. Não é justo a criança estar exposta a dificuldades, que geram inclusive condições precárias. Essa hiperconvivência gerada pela pandemia trouxe o aumento acentuado da violência doméstica, por exemplo, e crianças expostas a isso estão sendo prejudicadas no seu processo de desenvolvimento mental, falando de saúde mental mesmo. Não significa que devemos nos eximir de conversar coisas sérias que envolvam tristeza, perda ou luto. O cuidado deve ser no sentido de dar explicações e respostas que sejam do tamanho das condições de compreensão daquela criança. Óbvio que, a depender da etapa do desenvolvimento, podemos usar figuras de linguagem e outros recursos. Só depois dos 11 ou 12 anos é que o sujeito passa a fazer mais conexões. A conversa deve ser de um jeito em que consiga fazer conexões com a realidade dele.”
 
 


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