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Estado de Minas CIÊNCIA

Pesquisa aponta possibilidade de danos neurológicos pós COVID-19

Grupo multidisciplinar estuda sintomas apontados por pacientes em vários estágios da doença apresentando sintomas que permanecem pós-infecção


27/01/2021 16:48 - atualizado 28/01/2021 10:05

(foto: juventuderebelde/Cuba)
Passado quase um ano após a Organização Mudial de Saúde (OMS) decretar a pandemia do novo coronavírus, que mudou o comportamento das pessoas em todo o mundo, ainda são muitas as dúvidas que pairam entre a população e cientistas de todas as áreas.

Pesquisadores de todo o mundo correm contra o tempo na detecção de possíveis sequelas, das leves às mais intensas. Grande parte dessa corrida se concentra nos casos mais graves. Porém, há também registros de pessoas que não chegaram à fase mais crítica que reclamam de cefaleias, insônias, alterações cognitivas de memória. Ainda é cedo para se concluir se serão sintomas permanentes, reversíveis ou por quanto tempo permanecerão. 

"Há mais perguntas que respostas", revela a cientista e  neurologista Clarissa Yasuda, do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia/Brainn/Unicamp, que liderou parte de um estudo em desenvolvimento por equipes multidisciplinares da Universidade de Campinas. Ela analisou imagens do cérebro de 81 pessoas que tiveram COVID-19 com sintomas leves.
 
"Desde o começo, no ano passado, vários grupos do mundo reportaram alterações cerebrais, o que despertou a curiosidade de como seria o desdobramento no Brasil. Tentei ver o que acontecia e percebi que várias publicações tratavam de alterações em pacientes graves, então desenhei um estudo que pudesse avaliar todos, dos mais leves aos mais graves e seus desdobramentos no Brasil."
 
farmacêutico e Ph.D, Flávio Protasio Veras participou do grupo que pesquisa possíveis sequelas neurológicas de pacientes que tiveram a COVID-19
farmacêutico e Ph.D, Flávio Protasio Veras participou do grupo que pesquisa possíveis sequelas neurológicas de pacientes que tiveram a COVID-19
O grupo convidou, via on-line, pacientes a responder questionário sobre seu processo durante a enfermidade e recebeu resposta de 2 mil deles, contribuindo com dados clínicos.

Desse total, 200 participaram da pesquisa presencialmente. Foram submetidos a ressonâcnia magnética, exame neurológico, avaliação neuropsicológica, que inclui testagem de memória e atenção, motricidade, coleta de sangue, entre outros.

Os resultados apontam que mesmo os que não chegaram à internação hospitalar se queixaram, dois meses depois, de dor de cabeça, alterações no paladar e olfato, distúrbios do sono, fadiga e alteração de memória. Testes neurológicos constataram problemas cognitivos e análise de imagems apresentaram alterações nas subtâncias brancas e cinzentas do cérebro.

Depressão, ansiedade e fadiga

 
Os dados desse primeiro momento, que começaram a ser coletados em junho, encontram-se em fase de compilação e os pesquisadores se preparam para receber uma segunda visita desses pacientes, quase seis meses depois.

De acordo com a neurologista, entre 15% e 20% dos pesquisados apresentaram fatores depressivos, 30% de ansiedade, as fadigas se mostraram presentes entre 30% e 40%. Mas no grupo maior, envolvendo 2 mil pessoas, a porcentagem foi mais elevada: 50% com fadiga, 40% cefaleias e 37% alterações de memória.
 
"Na verdade detectamos que o cérebro está afetado, mas o porque ele está afetado ainda não temos essa resposta, como também se o mecanismo de lesão cerebral é reversível", epxlica a doutora Clarice. 


O farmacêutico e Ph.D, Flávio Protasio Veras, do Departamento de Farmacologia da Escola de Medicina em Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), explica que o grupo formado por diversas áreas de conhecimento envolve também especialistas com "conhecimento amplo de doenças inflamatórias, incluindo os efeitos que causam no sistema nervoso central, o que chamamos de neuroinflamação ou neuroimunologia".

Ele explica ainda que o tipo de pesquisa que costumam realizar é do tipo translacional, no qual, a partir de observações na clínica e rotina hospitalar, tenta-se aprofundar em laboratório experimental. "Dessa forma, o nosso trabalho que pesquisa os efeitos da COVID-19 no sistema neurológico surgiu a partir de relatos e exames clínicos de pacientes que tiveram, de alguma forma, alterações comportamentais após a infecção."
 
São pesquisadores nas diversas áreas da imunologia, farmacologia, neurociências, medicina intensiva, patologia etc. Os profissionais que atuam são farmacêuticos, biólogos, médicos, biomédicos. Até matemáticos e estatísticos, segundo Clarice Yassuda.

Consequências a longo prazo 

 
Flávio Veras conta que o conjunto de resultados permite concluir a existência de uma alteração nos cérebros de indivíduos que foram acometidos pela COVID-19, "com uma inflamação nesse cérebro, principalmente decorrente de uma célula do sistema nervoso central chamada de astrócito. O que estamos tentando entender é como essa infecção ocorre lá e quais as consequências a longo prazo".
 
Segundo o cientista, os sintomas específicos ainda estão sendo caracterizados, "o que temos em mente é que os indivíduos apresentam comportamento do tipo ansiedade e depressivo comparado com indivíduos que não foram infectados. São sintomas, as vezes imperceptíveis, que são apurados por exames clínicos altamente específicos."
 
A sugestão é que os indivíduos, após a recuperação, procurem especialista para saber se houve alterações neurológicas, mas também são necessários exames gerais em outros sistemas, como pulmão, coração, rins etc., visto que a COVID-19 é uma doença que afeta muitos órgãos.
 
“O vírus mexe com a maneira que o cérebro produz energia”, diz o neurocientista e professor do Instituto de Biologia da Unicamp, Daniel Martins de Souza um dos coordenadores do grupo de cientistas que descobriu alterações no sistema neurológico causados pela Covid-19.
 
São 75 autores envolvidos para demonstrar que o coronavírus infecta células cerebrais e afeta as funções, o que pode ter consequências graves, como depressão e ansiedade.
 
"Nossos dados mostram o quão perigoso é se expor ao coronavírus ou 'querer pegar logo isso para ficar livre'. Nossa pesquisa mostra que é melhor fugir dessa ideia, pois não há como afirmar se a doença será grave ou não",  alerta o neurocientista.
 
Além da Unicamp, o estudo inclui a Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 


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