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Estado de Minas Entrevista/Renata Mafra - Psicóloga, professora e coordenadora do curso de psicologia do Centro Universitário Estácio-BH e professora da Faculdade de Medicina Faseh

Sonhar : poder divino e do inconsciente

Sonhos são importantes para a saúde física e mental. Além da psicologia e da psicanálise, a neurobiologia tem se dedicado ao estudo desse tema


15/11/2020 04:00 - atualizado 13/11/2020 10:16

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)


Os sonhos sempre foram objeto de interesse e registro da humanidade. Seja do ponto de vista histórico-cultural, da subjetividade humana, seja quanto aos seus aspectos neurobiológicos, os sonhos são importantes e ainda há muito o que estudar. Eles são relatados na Bíblia e na Torá, assim como no Egito e na Odisseia, de Homero.

A psicóloga Renata Mafra, professora e coordenadora do curso de psicologia do Centro Universitário Estácio-BH e professora da Faculdade de Medicina Faseh, traduz o mundo fascinante do sonho na existência humana. Ela vai destacar a importância de sonhar, intimamente ligada à qualidade do sono, as revelações advindas deste processo e os ruídos da sociedade contemporânea moderna que impedem a criação de um ambiente adequado aos sonhos. O sono é necessário porque é o reparador da saúde e prepara todos para uma vida de vigília.
 

"Para a psicanálise, os sonhos têm o poder de revelar parte do mundo interno, de quem somos, de nossos desejos e medos. Mais recentemente, eurocientistas têm se debruçado sobre a temática dos sonhos, resgatando conceitos freudianos"

 
 
É para levar os sonhos a sério?
Desde a Antiguidade, nos primórdios da civilização, há evidências de que os humanos não só se interessam pelos sonhos, como os levam a sério. Foi objeto de interesse e de registro no Egito e na Mesopotâmia; relatos de sonhos estão presentes na Ilíada e na Odisseia, de Homero; na Grécia antiga, entre os filósofos, Sócrates, Platão, Aristóteles e Xenófanes; os sonhos dos profetas têm significado especial na Bíblia e no Corão; Galeno (130- 200 d.C.), médico e pesquisador romano, dedicou-se a pesquisar as alterações corpóreas (temperatura, frequência cardíaca, respiração) durante o sonho; no século 19, Charles Darwin (1809-1882) afirmou que pelo menos aves e mamíferos sonham (conceito ainda válido); e no século 20, objeto da psicanálise de Freud e Jung. Atualmente, além da psicologia e da psicanálise, a neurobiologia tem se debruçado sobre os sonhos. Seja do ponto de vista histórico-cultural, da subjetividade humana, seja quanto aos seus aspectos neurobiológicos, os sonhos são importantes.

Os sonhos têm algum poder sobre a vida das pessoas?
Para os povos antigos, os sonhos tinham um poder divinatório e, por isso, serviam para guiar as suas vidas e as tomadas de decisões. Para Freud, os sonhos tiveram o poder de contribuir para a compreensão do funcionamento mental, do psiquismo humano, para a descoberta do inconsciente e para o entendimento e o tratamento das neuroses. Para a psicanálise, os sonhos têm o poder de revelar parte do mundo interno, de quem somos, de nossos desejos e medos. Mais recentemente, neurocientistas têm se debruçado sobre a temática dos sonhos, resgatando conceitos freudianos.

Os sonhos são desejos, fobias ou avisos? Ou tudo isso?
Os sonhos são atividade mental e pensamento durante o sono. A teoria freudiana do sonho indica que os sonhos são formados por restos diurnos, ou seja, fragmentos de memórias vividas durante o dia, combinados a desejos reprimidos, recalcados e, por isso, inconscientes. As novas descobertas da neurociência confirmam a teoria freudiana. Sabe-se, desde a psicanálise, que o mundo interno não é isolado do externo. O dentro e o fora dialogam continuamente. Por isso, o enredo dos sonhos reflete não só a estrutura de personalidade, quanto o contexto em que se vive, podendo expressar desejos, medos, fobias. Agradáveis ou desagradáveis, os sonhos são caracterizados por uma mistura de emoções, às vezes confusas, às vezes nítidas e claras, podendo ainda antecipar acontecimentos futuros, a despeito de uma intensa ansiedade e expectativa em que o sonhador se encontra. Há muito o que se estudar.

Se todos sonham todos os dias,o que ocorre com quem nunca se lembra do que sonhou?
A falta de higiene do sono, o excesso de tecnologia no quarto e na cama, a insônia, a indústria da “saúde do sono medicalizado”, a vida sempre corrida, o despertar forçadamente (despertador) são algumas características da sociedade e parte do mal-estar da civilização contemporânea. Sem contar a banalização com que tratamos a vida interior e também os sonhos. Dormir e sonhar parecem não ser importantes. Tire as tecnologias do quarto, pesquise sobre como fazer uma higiene para o sono, dedique-se à meditação antes de dormir ou ao acordar.
 
A pandemia pode ter mudado  os sonhos? De que forma?
A pandemia trouxe uma realidade inimaginável. Mudou o cotidiano, expectativas, atravessou sonhos e projetos, mobilizou uma série de emoções. Tudo que nos afeta por fora, afeta por dentro. Sem contar que tudo que é novo é vivido como “estranho” para o psiquismo. A intensidade das emoções, a dificuldade de lidar com um mundo “estranho”, a sensação de desamparo vivido nos mobiliza internamente. Essa foi uma temática muito estudada por Freud, que viveu a gripe espanhola e a Primeira Guerra Mundial, sonhos traumáticos, neuroses de guerra. Uma pesquisa multidisciplinar e multicêntrica (UFMG, USP, UFSC), Sonhos confinados – Uma pesquisa sobre a vida onírica no contexto de uma pandemia, conduzida aqui em Minas pela UFMG e pelo psicólogo e professor Gilson Ianini, mostra que durante a pandemia o interesse pelos sonhos foi observado em relatos nas redes sociais. A priori, não podemos afirmar que há predomínio de pesadelos. Precisaremos esperar as pesquisas para identificar o tipo de sonho presente. 


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