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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Devoção ou fuga?

Vive-se terceirizando fracassos, entregando a direção de suas vidas


15/08/2021 04:00 - atualizado 15/08/2021 09:00

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

 
Conheci um senhor na beira de seus 90 anos que havia perdido a noiva quando tinha 25 anos de idade. Era a mulher da sua vida, o que ele comprovou, pois nunca mais se relacionou com nenhuma outra. Semanalmente, às quartas-feiras, ia ao cemitério depositar-lhe flores e colocar a conversa em dia. Morou o resto da vida com a irmã viúva sem filhos acreditando assim estar mantendo a palavra e o juramento feito à noiva antes que ela partisse.
 
Inicial e ingenuamente achei bonita tanta devoção, mas ao observar mais a fundo relacionamentos humanos percebi que não é um comportamento assim tão saudável. Muitas pessoas quando “perdem seu grande amor para a morte” fazem juras eternas. Quando não conseguem cumprir, se sentem culpadas e traidoras, e tornam novos relacionamentos íntimos fardos difíceis de serem mantidos, quando na verdade deveriam ter um papel bem diferente.
 
Filhos muitas vezes também cobram de seus pais esse “respeito” à memória do pai ou da mãe mortos. Sabotam de todas as formas novos relacionamentos dele ou dela na tentativa de manter viva a presença daquele que faleceu, assim como o homem ou a mulher costumam buscar nos filhos autorização e aprovação para iniciar uma nova vida amorosa. De certa forma, transfere-se para o outro toda a responsabilidade que cabe a cada um no que se refere a procurar a própria felicidade. Vive-se terceirizando fracassos como se estivesse a cargo dos outros a direção de vidas que não são as suas próprias.
 
Conhecemos também casais que se fecham tanto em seus relacionamentos que não abrem espaço para mais ninguém entrar, inclusive excluem os próprios filhos que acreditam e dizem amar. Ambos não deixam os filhos fazerem isso ou aquilo, tirando das crianças o direito e a necessidade de serem defendidas em pontos de vista polêmicos. Um simples exemplo: quantas vezes o filho deseja ir a algum lugar, o pai deixa a mãe não, o que leva a uma discussão saudável e enriquecedora onde cada um defende seu argumento antes de fechar o veredito?
 
A simbiose entre os dois é tanta que sequer conseguem pensar diferente o que equivocadamente costuma ser considerado vantagem, um casal sintonizado. Porém, demonstra muito mais ser desequilíbrio assim como uma espécie de fuga e medo de enfrentar as consequências de suas próprias escolhas. Casais que nunca discutem, que sempre têm pontos de vista aparentemente iguais, anulam-se como pessoas quando deveriam saber valorizar um ao outro em seus pontos de vista. Não somos todos iguais, definitivamente. Não pensamos e agimos igual e é exatamente isso que nos faz crescer e evoluir tanto individual como coletivamente.

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