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Estado de Minas Comportamento

Muito mais que receitas

O principal tempero era algo tão sutil que jamais será esquecido


08/08/2021 04:00

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

 
Recebi um livro de receitas publicado pelo marido e os filhos de uma amiga que morreu vítima de câncer há quase dois anos. O livro foi uma homenagem a ela no dia em comemoraria 60 anos de idade se ainda estivesse entre nós. As receitas não são criações dela, mas suas preferidas. Todas muito saudáveis, vegetarianas, opção que havia feito há anos. Ela adorava cozinhar embora fosse para poucos, a família basicamente. Fazia questão de uma mesa bem-posta e que todos se sentassem quando estavam juntos em casa.
 
Folheando-o me lembrei que logo que me casei ganhei um livro de receitas básicas de minha mãe, do tipo que ensina a fazer arroz passo a passo. Eu já sabia cozinhar e foi inclusive minha mãe quem me ensinou quando eu ainda era solteira. Na verdade, era ela a responsável por fazer o almoço e o jantar em minha casa e num período em que adoecera eu fiquei a cargo da cozinha. Aprendi na marra. Era praticamente arroz, feijão, bife, um legume e salada de alface com tomate todo dia. Como eu trabalhava muito, o tempo era curto, então era o que dava para fazer. Nada criativo, reconheço, e repetitivo demais para ficar gostoso, assumo.
 
Minha sorte é que esta experiência um pouco forçada não enterrou de vez meu gosto pela culinária. A ideia de minha mãe, ao me ensinar, foi transmitir aquilo que ela acreditava fazer parte das competências de uma boa dona de casa e, ao me dar o livro, foi aprimorar meus conhecimentos de culinária e quem sabe variar o cardápio de vez em quando.
 
Fato é que passei a curtir fazer pratos a partir de receitas que eu lia naquele e em outros livros. No final trocava ingredientes pelos que eu tinha em casa o que modificava tudo, mas com bom senso e sabedoria, arriscando claro, na maioria das vezes saía algo apetitoso. Assim ainda faço até hoje. E o livro que minha mãe me deu, não o abro mais, ao mesmo tempo em que não quero me desfazer dele. O que ele tem a me acrescentar? Algo que não está escrito, mas que nele está registrado.
 
Receitas são uma rica fonte de trocas entre amigos, motivos de encontros e recordações. E foram algumas delas, delicadamente coladas e rabiscadas em um caderno antigo, que afagaram a dor de um grupo de seis amigas que se reencontraram numa tarde fria da semana que passou. A perda do marido de uma delas, vítima de um tumor agressivo e aterrador, fez com que todas se lembrassem de tantos almoços e jantares feitos sob o comando dele com a desculpa de que as receitas precisavam ser experimentadas, degustadas e deliciadas antes de aprovadas.
 
E quem se atreveria ou teria alguma razão para criticar ou mesmo encontrar defeito quando o principal tempero era algo tão sutil e abstrato que jamais será esquecido?

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