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Estado de Minas Comportamento

Nas entranhas das estruturas

"A condenação às relações homoafetivas está na estrutura de nossa sociedade"


18/10/2020 04:00 - atualizado 18/10/2020 08:41


 
Há algumas semanas, a empresária Luiza Trajano sacudiu as estruturas ao anunciar que seu próximo programa de trainee aceitaria apenas candidatos e candidatas negras. O objetivo principal é aumentar o número de afrodescendentes entre seus colaboradores, de forma que daqui a pouco tempo possam ter maior representatividade entre os líderes e cargos de comando dentro do Magazine Luíza, no qual imperam pessoas consideradas brancas, a exemplo da maciça maioria das grandes empresas brasileiras. Arrancou muitos elogios e apoio de vários setores, mas também protestos e processos na justiça, pois estaria privilegiando pessoas que se enquadram em uma categoria específica.
 
“Temos que entender mais o que é o racismo estrutural. O dia em que entendi, até chorei, porque sempre achei que não era racista até entender o que é o racismo estrutural.” E é exatamente essa declaração feita por ela que me chamou mais a atenção e gostaria de aproveitar esta onda para discutir a homofobia estrutural.
 
Quantos de nós também não afirmam, e creem, categoricamente, não ser homofóbicos ou homofóbicas? Uma amiga, certa vez, para justificar que aceitava e respeitava qualquer orientação sexual, disse: “Eu até tenho amigos gays”. Mas não sabe se aguentaria se um dia um de seus dois lindos filhos assim se revelasse a ela, prefere “eles” lá e “nós” cá.
 
Não jogar pedra na Geni não significa aceitar o fato de que as pessoas podem e devem fazer o que desejarem com seu corpo (e todo tipo de sentimento que isso implica). Assim como o racismo, a condenação às relações homoafetivas está na estrutura de nossa sociedade. Faz parte da história brasileira, da maioria das religiões, que se apoiam em interpretações equivocadas e interesseiras, da linguagem, que atribui os artigos o e a a substantivos masculinos e femininos, quando o melhor e mais justo seria se fosse um só, neutro.
 
Nossas estruturas estão viciadas em piadas que depreciam negros, judeus, deficientes, mulheres, prostitutas, portugueses, caipiras, pobres e ignorantes. “São apenas piadas”, justificam alguns, que, como aconteceu com Luiza Trajano, poderiam abrir um pouco sua mente para perceber que o que faz parte de nossas estruturas são muitas vezes imperceptíveis para nós.
 
Nascemos neste mundo, crescemos e nos educamos com determinados princípios que se tornaram naturais e imutáveis, quando de fato foram incluídos entre as verdades nas quais deveríamos acreditar e simplesmente não as questionamos. Afinal, refazer e questionar conceitos pode dar muito trabalho e implicar lutas aparentemente inglórias. Acostumados ao conforto estrutural, mesmo que doentio, preferimos deixar tudo como está: “eles” lá e “nós” cá. Com isso, abrimos mão de evoluir individual e coletivamente, pagando o preço de sofrimento de toda parte.

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