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Estado de Minas PADRE ALEXANDRE

Sonhos de inverno


14/08/2022 04:00 - atualizado 14/08/2022 08:03

Ilustração da Virgem Maria com Jesus

'O inverno é a estação da paciência: plantas entram na dormência, perdendo folhas, e quanto menos folha, menor a perda de calor e de água'


 
No próximo domingo, o evangelista Lucas nos convida a olhar para o alto. Primeiramente, para os caminhos montanhosos da Judeia, onde uma jovem camponesa vai às pressas, por mais de 100 quilômetros, visitar sua prima. Maria foi a primeira a acreditar no Filho de Deus ao dizer “sim” ao anjo Gabriel. E Isabel é a primeira a reconhecer e anunciar a presença do Messias em meio à humanidade – as duas grávidas de filhos que, sob o ponto de vista das possibilidades humanas, eram filhos do impossível.

A conversa entre as duas começa com a saudação de Isabel, que embora não saiba como será grande seu próprio filho (João Batista), tem claro conhecimento da grandeza daquele que chega junto com Maria (“Bendito é o vosso fruto”). É nessa casa que a recebe com tanto carinho e respeito que Maria reza o Magnificat (“O Senhor operou em mim maravilhas”) –  cântico hoje recitado nos rituais da Igreja.

Se Maria levava Jesus pelos cantos da terra, agora é Cristo quem leva a mãe pelos caminhos celestes neste segundo olhar para o alto proposto por Lucas. A Assunção de Maria será celebrada pela Igreja no próximo dia 21, por ser domingo, e é uma das mais antigas festas marianas. No século 5, já existia em Jerusalém, em 15 de agosto, uma grande homenagem à Virgem.

No século 7, uma procissão preparatória para a missa na Santa Maria Maior, em Roma, era realizada com o nome de Assunção. Foi na Praça São Pedro, em Roma, que em 1º de novembro de 1950, rodeado por 36 cardeais, 55 patriarcas, arcebispos e bispos, sacerdotes e um milhão de fiéis, o papa Pio XII proclamou  o dogma da Assunção, documentando a veracidade desse evento na vida de Maria.

É muito linda a analogia que São Luís de Montfort faz sobre a devoção dos católicos à Virgem Maria. Para ele, é como se um camponês pobre, desejoso de conquistar a amizade do rei, fosse à rainha e lhe desse uma maçã – sua única posse – para oferecê-la ao rei. A rainha, aceitando a humilde dádiva do camponês, coloca-a em um lindo prato de ouro e a apresenta ao rei em nome do camponês. A maçã em si não seria um presente digno de um rei, mas apresentada pela rainha pessoalmente em um prato de ouro torna-se apta para o rei.

A gente faz o que pode para mostrar nosso carinho a Maria. Em todos os dias do ano, o ano inteiro, pais e mães batizam seus filhos: Maria das Dores, Maria do Carmo, José Maria, Maria Eduarda, Maria do Rosário, Antônio Maria, Maria José. Os compositores colocam em suas pautas musicais canções que celebram a Virgem: “Maria que fez Jesus caminhar”; “E da flor nasceu Maria/de Maria o Salvador, oiá meu Deus”; “Nossa Senhora, me dê a mão/cuida do meu coração”.

Do início dos séculos aos tempos modernos, passando por grandes mestres do Renascentismo e do Barroco, o culto e a devoção a Maria fazem surgir obras de arte como a escultura “Pietá”, de Michelangelo, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, e o quadro “A Virgem, o Menino e Santa Ana”, de Leonardo da Vinci, hoje no Museu do Louvre. São Pedro Damião diz que é justo sempre cantar Maria. “Mas como poderá a palavra mortal, passageira e transitória, exaltar aquela que deu à luz a Palavra que fica?”

Como poderemos mostrar nosso amor a Maria com palavras que passam e o tempo leva? Neste inverno, dizemos que esse vento gelado acaba nos convencendo de que vivemos num tempo ruim, de previsões sombrias, sem folhas e sem frutos. Mas toda dor tem seu tempo, todo frio tem sua intensidade. O inverno é a estação da paciência: plantas entram na dormência, perdendo folhas, e quanto menos folha, menor a perda de calor e de água. Ou não é tão bonita esta cor avermelhada, mostrando que a natureza está se desfazendo da clorofila para que o verde seja liberado durante o período de brotação?

Lindo inverno. Ao invés das flores, nossos sonhos sonhados durante um dia cinzento, na frente da lareira, ao pé da fogueira, sonhando agasalhos no meio da rua para aquele morador coberto só pela lua, enquanto o prato de sopa dá o abraço de esperança, avisando que não está na hora de desistir. Lindo inverno, que tece sonhos enquanto as plantas dormem. Tempo de os brotos sonharem. 

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