(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Sempre em movimento

"Não é saber para onde vamos, mas colocar-se a caminho. Dando jeito do que não tem jeito, acolhendo e recolhendo"


17/07/2022 04:00

Ilustração

 
Sabendo que o Senhor passaria em seu caminho, o profeta Elias caminhou e  esperou anos sem orvalho e sem chuva; foi alimentado por corvos que lhe levavam pão e carne de manhã enquanto à noite bebia da torrente; recebeu da jarra azeite que não diminuía e farinha de uma vasilha que não acabava; enfrentou o terceiro ano da seca e uma fome cruel; desafiou no Monte Carmelo os falsos profetas de Baal a mandarem descer fogo do céu enquanto ele orava e o Senhor mandava fogo para consumir o sacrifício e o altar. 
 
Só aí Elias sobe ao cume do Carmelo e por sete vezes pede ao criador: “Sobe e olha para o lado do mar”. O criado volta: “Não há nada”. Na sétima o criado afirma: “Vejo que sobe  do mar uma nuvem pequena como a palma da mão”. Elias manda avisar ao rei Acab que prepare o carro e desça para que a chuva não o detenha. Em pouco tempo, o céu escurece, há nuvens e ventos e a chuva cai em abundância. Elias arregaça a veste e corre à frente do rei até à entrada de Jezrael. 
 
É neste monte onde o profeta vê chuva forte numa nuvenzinha, que Elias vê então, sucessivamente, o desenrolar de vários fenômenos grandiosos e fica atento, pois Deus poderia se manifestar. Anda 40 dias e 40 noites até o Monte Horeb. Vem um vento impetuoso e forte que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas Deus não estava no vento. Veio um terremoto, mas Deus não estava no terremoto. Veio o fogo, mas Deus não estava no fogo. Soprou uma brisa leve e suave, e Deus estava na brisa. 
 
O primeiro a se colocar em movimento foi Abraão, que ouvindo a voz do Senhor, parte com sua família para Canaã, atravessa o país até o santuário de Siquém, no carvalho de Moré, e ali ergue um altar.  É nessa simplicidade que começa a história do primeiro dos patriarcas bíblicos, fundador da nação hebraica. Terra, família e bênção são os três elementos que colocam Abraão em movimento. Assim, a linha do tempo começa com Abraão, da nona geração de Sem, um dos filhos de Noé, segunda pessoa mais citada no Novo Testamento (73 vezes), atrás apenas de Moisés (80).
 
Abraão ergue um altar no carvalho de Moré, seguindo a tradição de altares perto de árvores, que representam a união entre céu e terra – raízes no chão e galhos alcançando o céu. Ele se desloca constantemente pela Terra Prometida, e sempre ergue um altar para mostrar que aquele lugar não é dele, mas do Senhor. Já idoso e com a mulher estéril, embora às vezes vacilante, Abraão recebe bem os vários mensageiros de Deus, oferecendo-lhes um banquete. 
 
É também de Deus que vêm inúmeras mensagens poéticas: “Tornarei tua descendência tão numerosa como as estrelas do céu”. Acaba tendo dois filhos: Ismael, da escrava Agar (surgimento do povo árabe), e Isaac da esposa Sara, de onde vem o povo judeu. Morre numa “feliz velhice”, após viver anos de manifestações grandiosas de Deus.
 
São histórias, uma atrás da outra, em que Deus nos mostra que o Senhor pode se valer de desequilíbrios da natureza, como um maremoto ou uma chuva que cai sem parar, ou as angústias do dia, como uma doença grave ou a morte na estrada. Normalmente, Deus se manifesta tanto na brisa suave como num jantar com anjos, bem no calor do dia, longe do sol das preces. Acontecimentos simples que nem valorizamos, tão rotineiros que nem percebemos, tão frequentes que nem lhes damos valor. O sorriso da criança, a beleza da flor à beira da estrada, a onda do mar que se desmancha na areia.
 
Sempre estamos no caminho. Para onde vão os cristãos? Simplesmente vamos. Cada um no seu passo, crianças, idosos, jovens, com suas histórias e dúvidas, enfrentando turbulências anunciadas e inesperadas, uma ponte interditada, seguindo o rio que corre sozinho. É caminhando que descobrimos o caminho. Abastecer, reabastecer, viajando de carro de boi ou de avião, acreditando na casualidade e dando chance a que ela se opere. Sabendo que vencer não é chegar mas aproveitar o caminho. 
Não é saber para onde vamos, mas colocar-se a caminho. Dando jeito do que não tem jeito, acolhendo e recolhendo. Como queremos caminhar neste ano? Sem descuidar das brisas, claro.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)