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Estado de Minas PADRE ALEXANDRE

Histórias sem fim

Monges na Idade Média protegiam e transmitiam o texto bíblico. Quando uma bíblia ficava gasta demais, os copistas preparavam uma cópia nova, tudo à mão


03/07/2022 04:00 - atualizado 03/07/2022 10:56

Ilustração do Lelis

Após sofrida pandemia, agora temos um inverno alegre como uma lua cheia laranja, clareando a escuridão sagrada da noite. Hoje, começando a história com os monges, eremitas e anacoretas (do grego retirar-se), em uma vida isolada no convívio comum dos monges, submetidos à austeridade e à disciplina, entre eles Santo Antão, o Pai de Todos os Monges. Líder de destaque entre os Padres do Deserto (século III), 40 anos no deserto, 105 anos de penitência e orações. Santo Antão tomou o Evangelho à letra e resistiu às visões que se multiplicavam à sua volta, como os demônios que não hesitavam em atacá-lo. Daí pulamos para os mosteiros medievais, construídos em lugares distantes dos centros urbanos.

A vida era dedicada à oração da liturgia das horas, meditação, silêncio, disciplina corporal e divisão de tarefas, como o trabalho na lavoura, cozinha e limpeza das dependências. Brilha no Ocidente o responsável pela formulação das normas para a vida no mosteiro, São Bento de Núrsia, a partir da casa-mãe em Montecassino, sul da Itália, que estabeleceu o conjunto de normas conhecido como Regra de São Bento (século V). Nelas, o santo expôs, item por item, qual deveria ser o comportamento dos monges, o modo certo e as horas de rezar, como manusear e guardar os instrumentos. Tudo resumido na expressão “ora et labora” (reza e trabalha).

Um santo no deserto, um santo na cruz-medalha, e um exército de anjos dispostos a copiar manuscritos antigos, preservando a cultura herdada dos antepassados em escritos de autores gregos e latinos, como Aristóteles e Heródoto, Cícero e Virgílio, Santo Agostinho. Anjos pacientes, cuidadosos e organizados, e os guerreiros, que ofereciam os claustros como refúgio ideal para escritos e documentos de grande valor histórico e cultural.

Anjos que se espalhavam pelos mosteiros e abadias, fazendo da Igreja Católica a única instituição resistente aos ataques dos bárbaros, que assolavam tudo o que viam pela frente na Europa: ruína das estradas, roubos de tesouros de arte. Da maciça devastação não foram poupadas nem as bibliotecas. Anjos ocupando papel fundamental na formação da sociedade.

Chegamos aos monges copistas. Copiar uma obra era um trabalho desgastante e demorado. O desconforto era imenso, às vezes escreviam sobre os joelhos, pela ausência de aquecimento e luz adequada no inverno. Ainda havia o alto custo dos pergaminhos. Nos séculos VII e VIII, certos textos de menor interesse foram apagados ou raspados, cedendo lugar a outros com maior demanda. O copista reescrevia por cima do texto excluído. Hoje, sofisticadas técnicas de recuperação permitem descobrir as marcas "apagadas", revelando, por vezes, textos inéditos. Os monges, sem saber, estavam preservando num mesmo pergaminho dois ou até mais textos simultaneamente.

Estima-se que um bom copista chegava a dar conta de 20 a 30 páginas por dia. Como faziam parte de um seleto grupo que sabia ler e escrever, a reprodução de livros era trabalhosa, algumas obras ficavam dentro de igrejas e bibliotecas de mosteiros, presas por cadeados e correntes, onde só se conseguia a consulta com a permissão de uma autoridade religiosa.

Depois da queda do império romano, na idade Média, os monges protegeram e transmitiram o texto bíblico. Quando uma bíblia ficava gasta demais, os copistas passavam anos preparando uma cópia nova, tudo à mão. Às vezes cometiam erros por cansaço ou falta de iluminação. Agora, já trabalhavam cada um em sua mesa, em silêncio, cuidadosos com o perigo de incêndio que poderia destruir os manuscritos.

Falamos de santos e anjos da corte celeste, entre orações, penitências, livros, histórias sem fim, palavras cheias de cores e tons. Olhos de Deus nos escritos do Novo e Antigo Testamento, a mesma fé superlativa, a eternidade repetida nas cópias, e nas cópias, e nas cópias. Mãos usando penas de ganso e tinturas, escrevendo à mão os livros decorados com pinturas no pergaminho, feito com peles de carneiro ou cabra. Palavras escritas para durar para sempre, misturando o saber do céu com o saber da terra. 

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