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Estado de Minas HIT

Anoitecer Inhotim emociona o público que se dividiu entre jantar e shows

Bernardo Paz, criador do museu, lembrou da importância de Tunga, que ganhou performance de Lia Rodrigues


22/08/2023 04:00 - atualizado 21/08/2023 20:26
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O jantar de Cantídio Lanna foi servido sob o Tamboril, árvore símbolo de Inhotim
O jantar de Cantídio Lanna foi servido sob o Tamboril, árvore símbolo de Inhotim (foto: Leca Novo e Ana Clara Martins/Divulgação)

Quem é o maior patrocinador de Inhotim, instituto que reúne um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e é apontado como o maior museu a céu aberto do mundo? Para não errar a resposta, os convidados da segunda edição do projeto Anoitecer Inhotim, reunidos próximo à galeria True Rouge preferiram o silêncio diante da pergunta de Bernardo Paz, que criou o museu. "Acho que ninguém sabe, né, sou eu",  ele mesmo respondeu, em meio a risadas da plateia.

A brincadeira foi seguida de uma declaração amorosa de Bernardo a Tunga (1952-2016). O empresário mineiro apontou o artista pernambucano, seu amigo pessoal, como um dos maiores patrocinadores do Inhotim. "Tunga era feito de ímã e aço", resumiu, lembrando que a obra dele atraía pessoas não só para ver o seu trabalho como também para visitá-lo no seu atelier, no Rio de Janeiro. 

"Era uma figura que cantava em vez de falar. Você se emocionava com as palavras que esse homem fazia. O fato é que esse homem me deu muita força e me ajudou demais a começar esse processo, passo a passo. E o passo era tão rápido que, em 10 anos, estávamos com isso quase pronto. Impressionante", afirmou.

Bernardo lembrou que os primeiros patrocinadores que chegaram não acreditavam no que estava sendo construído porque não existe no mundo nada parecido com Inhotim. "Aqui tem um parque botânico maravilhoso, com plantas do mundo inteiro, com a maior coleção de palmeiras do mundo. E temos arte de primeira qualidade do mundo todo", enumerou.

O empresário não ficou apenas com as lembranças que são a essência de Inhotim. Mirando no futuro, citou o projeto de construção dos dois hotéis que, juntos, irão oferecer 300 quartos, projeto, segundo ele, de uma grande amiga (Taiza Krueder, CEO do Clara Resorts), que estava fora do país naquele dia. "Isso vai trazer mais facilidade e conforto a todos", acredita. 

Disse também que, ano que vem, serão construídas mais algumas galerias.  Por tudo isso agradeceu, mais uma vez, aos patrocinadores. "Me assusto às vezes quando me ligam pedindo para ajudar. E nós aceitamos, claro. Saibam vocês que estão diante de um homem que não vai ver isso acabar."

Aos 73 anos, Bernardo disse que a idade assusta e vai procurar os melhores médicos para dar um dia, um ano, dois anos, 10 anos ou mais de vida. “Porque a minha vida é o dia a dia disso aqui. Minha vida são vocês alegres, felizes, com os olhos brilhando vendo as coisas acontecerem.” Terminou agradecendo a presença do curador André Millan – "que trouxe a amizade de Tunga" –  e a presença de todos – "vocês serão sempre bem-vindos porque aqui é a casa de vocês".

A noite, claro, tinha um objetivo específico: levantar fundos que ajudem na manutenção do museu. Mas, sobretudo, o encontro ficou marcado em torno da emoção dos amigos de Tunga. Bernardo não era o único. A carioca Lia Rodrigues estava na programação do evento não à toa. Foram os bailarinos da companhia da coreógrafa que fizeram a performance no interior da galeria True Rouge e colocaram sobre a obra uma geleca (foram 200 quilos), que deverá ser mantida por alguns dias. 

Os bailarinos surgiram caminhando pelo interior do lago em frente à galeria e, nus, ocuparam o espaço. Sorte, segundo membros da produção da companhia de dança, é que não fez frio durante o dia, e a água não estava tão gelada. Mesmo assim, foi preciso um shot de cachaça para aquecer o elenco. Houve ainda a performance de “Xifópagas capilares entre nós” (1987), também de Tunga.

Foram 21 minutos entre o momento em que os bailarinos começaram a travessia do lago até que as luzes da galeria foram apagadas sob aplausos efusivos do público, que se dividiu em frente à galeria e nas cadeiras colocadas no gramado nas laterais do espaço. "Cada vez mais emocionada por causa de Tunga", disse Lia Rodrigues, enquanto recebia os cumprimentos de admiradores e do público.

A Orquestra de Inhotim, sob regência do maestro Leandro Oliveira, também foi ponto alto da noite, com peças do peruano Jorge Villavicencio Grossmann ("La sombra es un pedazo que se aleja"), do venezuelano Aldemaro Romero ("Fuga con pajarillo"), do alemão Max Richter ("On the nature of daylight") e do russo Vladimir Martynov ("The beatitudes").

Da True Rouge, o público, em sua maior parte, seguiu a pé até o Tamboril, onde foi montado o espaço para o jantar. Foi a cereja do bolo. Paulo Rossi criou um espaço impecável, especialmente para os habitués do museu que conhecem a irregularidade daquele terreno como a palma da mão. 

Mais ou menos 500 metros quadrados de área ganharam piso de madeira sendo que 1/3 ia além do gramado, sobre o lago, montado sobre estrutura metálica. Foram cinco dias para que tudo ficasse perfeito. O bufê foi assinado por Cantídio Lanna. Johnny Hooker, os DJs Valber e Nepal encerraram a noite na Galeria Fonte.

Depois de tudo isso, faz o maior sentido a comparação que Antônio Grassi fez a Paulo Rossi, no início da festa, e teve a coluna como testemunha. O ex-diretor do Inhotim comparou aquela produção ao Met Gala, o mais importante evento de moda dos Estados Unidos, que, assim como o evento daquela noite, também busca recursos para um museu, no caso, o Museu Metropolitano de Arte de Nova York.

Anoitecer Inhotim tem tudo para se consolidar como um dos mais importantes eventos do calendário cultural do país, equiparando-se aos grandes eventos mundiais que buscam na união coletiva a garantia de que sonhos como o de Bernardo Paz sejam para sempre.

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