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Estado de Minas DIA DOS PAIS

Carta de uma mãe ao pai de seu filho

Filhos amam silenciosamente seus pais, sofrem com suas ausências e vibram com sua presença inteira e dedicada. Filhos perdoam seus pais


14/08/2022 09:32
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Tadeu abraçado com o filho Mathias
Tadeu e o filho Mathias (foto: Arquivo pessoal)

Quando criança, meu pai praticamente obrigava-me a escutar música clássica, em pleno sábado à tarde. E não era uma sonata de Chopin ou uma suíte de Bach, mas sim uma sinfonia de Tchaikovsky, Brahms ou Beethoven. Essa era, talvez, a parte “chata” da convivência com meu pai. Na fase adulta, passamos a ir juntos a concertos e a trocarmos CDs de músicas clássicas. O enlace se fez, silenciosamente, na infância.

Logo que meu filho mais velho nasceu, minha reclamação era que “o pai dele pouco partilhava os cuidados diuturnos, envolvia-se emocionalmente menos”. Minha terapeuta à época me disse algo que sempre carreguei: “o pai adota o filho ao longo da vida”.  E com apenas quatro meses de vida, meu filho sentiu profundamente a ausência do pai, quando saiu em viagem a trabalho, por 10 dias. 

Ao buscar seu pai no aeroporto, a reação imediata do filho, ao vê-lo, foi virar a cara e deitar sua cabeça no meu ombro. O pai tentou olha-lo sobre o ombro e o filho virou novamente a cara e mudou-se de ombro, em um jogo que durou algum tempo. Ao chegar em casa, ambos dormiram juntos e bem colados por cerca de duas horas. 

Os laços paternos da adoção fizeram-se presentes bem cedo e a mãe, tão misturada na relação mãe-filho, amamentação-cuidados diversos, não foi capaz de perceber que o filho também se entrelaçava amorosa e incondicionalmente com seu pai. De fato, há várias diferenças entre o laço mãe e filho, pai e filho, mãe e filha, pai e filha. Na unicidade de cada ser, nos entrelaçamos de forma única com cada um e nunca seremos capazes de explicar ou mensurar o que nos torna tão especialmente ligados amorosamente.

Mas voltando à história do filho primogênito e seu pai, aos quatro anos de idade, essa mesma criança mudou de cidade e passou a conviver quinzenalmente com seu pai. Foi a partir daí que passou a ter várias crises de asma e a mãe, mais uma vez, na sua posição egoica de super-mãe, achou que a adoção de um cachorro seria elo afetivo a suprir parcialmente a ausência quinzenal. Mais um grande equívoco! Àquela época ficou claro que, silenciosamente, o laço entre pai e filho era muito mais forte do que se aparentava. 

Passados mais oito anos, pai e mãe se separaram e o filho, mais uma vez, seguiu em silêncio sua dor. Fingiu não sofrer, mas a rebeldia do despertar de uma adolescência passou a dar sinais claros dessa dor e exigir maiores cuidados e atenção. Nessa altura, tudo se desordenava, filho e pai não estavam sendo capazes de reestruturar, na velocidade exigida pelas dificuldades da fase, arranjos afetivos que dessem conta das dores e das esperanças particulares de cada um em meio ao mar revolto de emoções.  

Filhos amam silenciosamente seus pais, sofrem com suas ausências e vibram com sua presença inteira e dedicada. Filhos perdoam seus pais... filhos são desejosos da presença dos pais. Ao se colocarem no papel de adotantes, pais constroem elo afetivo e de integração. É nesse silêncio de emoções que pai e filho se encontram; nesse lugar em que a palavra é instrumento raramente utilizado. 

O pai é capaz de sentir, sofrer, perceber, mas, muitas das vezes, não é capaz de dizer. E lá na frente, se as diversas tempestades em mares revoltos tiverem sido superadas, pai e filho poderão se reconhecer no escolhido encontro entre adotante e adotado.

Neste domingo, 14/8, os pais que escolheram adotar seus filhos nessa linda jornada chamada vida têm motivos de sobra para celebrarem com os seus em leve, harmônico e fraterno domingo!

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