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Antônio Roberto: 'Saudade é uma forma de adiar o trabalho diário de ser feliz'

Colunista fala sobre a necessidade de impedir que a nostalgia nos impeça de seguir em frente. 'Saudade é sonhar em vez de viver'


postado em 24/11/2019 04:00 / atualizado em 24/11/2019 11:22



Antônio Roberto, fale um pouco sobre a saudade, pois esse sentimento me traz muito sofrimento. Sinto saudade de tudo: lugares, pessoas, momentos. Às vezes, chego a chorar de saudade. Por que isso ocorre? Como superar?”
Gabriela, de Sete Lagoas

Quando fiz o curso de direito, toda a turma foi visitar o Instituto Médico-Legal (IML) e lá passamos umas quatro horas. Lembro-me de que saí de lá impressionado e com uma pergunta na cabeça: “Qual a diferença entre uma pessoa morta e uma viva?”. E fui enumerando mentalmente: a pessoa viva respira, tem sangue correndo nas veias, o coração batendo, anda, chora, ri, conversa etc. E, pela primeira vez, tive a consciência de que tudo isso ocorre no presente e, então, só se pode viver agora. Nosso corpo não conhece o passado nem o futuro. Só conhece o momento atual. Estar presente é tudo. É verdade que o nosso pensamento pode visitar o ontem e o amanhã, e que essas viagens podem nos trazer lembranças dolorosas e preocupantes, provocando sentimentos ruins, mas a vida continua, inexoravelmente, aqui e agora. Se você não estiver consciente do momento presente, não fluirá de maneira plena.

A saudade é uma dor provocada pelos pensamentos de coisas, fatos e pessoas do passado. Mas a saudade não é uma coisa boa, prova de amor? Todo sentimento que nos faz sofrer é adoecido. Pensar no passado com alegria não é saudade, é apenas lembrança. O que caracteriza a saudade é a dor profunda de saber que algo passou e não volta mais. A nostalgia dos tempos que se foram, o saudosismo são sentimentos de quem está parado no tempo, tentando viver de pensamento.

Há uma relação direta entre esses sentimentos e uma atitude de acomodação e depressão e a sensação de estar velho. A memória é um dom maravilhoso e que nos facilita a vida e é um desastre quando usada para despertar emoções que nos fazem so- frer. A mágoa e a culpa são companheiras da saudade enquanto memória do que já passou.

A saudade é uma tentativa inútil de parar o fluxo da vida, com seus riscos, suas dificuldades, mas também com suas oportunidades. Os momentos em que temos mais saudade são aqueles em que nos sentimos desanimados, desgastados e cansados. Quando somos pessimistas em relação ao futuro, ansiamos pela volta do passado, numa ilusão de que anteriormente as coisas eram melhores. A saudade é uma forma de arrependimento: “Eu era feliz e não sabia”. Podemos lamentar, queixar, chorar, perdendo nosso tempo e nossa vida com saudade, mas nada voltará. O nosso lar é neste lugar e neste momento. O presente é o palco de nossa atuação. Ele existe para agirmos, fazermos, crescermos, vivermos. O passado é apenas “um pensamento”. Tudo o que aconteceu no passado, doloroso ou prazeroso, é apenas “memória”. Só no presente podemos ser livres e agir. A maior homenagem que podemos prestar aos nossos mortos não é perpetuar a dor de sua perda, mas viver uma vida alegre e feliz.

Quando a leitora Gabriela diz que sente saudade de tudo – lugares, pessoas, momentos, na realidade só temos saudade de uma única coisa: da alegria, que sentíamos com aquela pessoa, naquele lugar, naquele momento. E se a saudade é sempre da alegria, podemos tê-la no momento presente com outras pessoas, outros lugares ou outros momentos. A saudade é uma forma de adiar o trabalho constante e diário de ser feliz. É sonhar em vez de viver. O que agrava é que fomos treinados para sentir saudade como algo positivo e bom.

Existem dois tipos de sofrimento em nossa vida. Distingui-los é o sinal de sabedoria no viver. Há o sofrimento real, no momento de uma perda, de uma doença, de uma separação, por exemplo. E há o sofrimento criado pelo pensamento. A saudade é um deles. Limpar nossos corações de todo o lixo (o que não serve mais) do passado é abri-lo para novas pessoas, novas experiências, novas oportunidades. A vida é para ser vivida e não para ser pensada.

A vida é agora, depois não dá mais. Se insistirmos no retrovisor, vamos virar estátuas de sal.

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