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Estado de Minas ANNA MARINA

Mitos, verdades e desafios sobre a adoção de crianças no Brasil

Criança não é mercadoria. É preciso conscientizar a sociedade e assegurar o direito dos pequenos à convivência familiar


26/05/2022 04:00 - atualizado 26/05/2022 07:46

Ilustração tem fundo roxo, com corações desenhados, e a figura de um adulto abraçando uma criança

 
Ontem (25/5), foi comemorado o Dia Nacional da Adoção, mas o setor coloca o tema como destaque durante todo o mês. É uma forma de conscientizar a população sobre a importância de adotar e assegurar o direito de crianças e adolescentes à convivência familiar. Infelizmente, o número de adoções de crianças acima de 1 ano é muito baixo. De acordo com dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), atualmente, há no Brasil mais de 4 mil crianças e adolescentes aptos para adoção.
 
Durante vários anos, a Jornada Solidária do Estado de Minas ajudou um abrigo de crianças de até 7 anos, que aguardavam por adoção. Primeiro fez uma ampla reforma na casa, trocou mobiliário, reformou banheiro, pintou, colocou papel de parede, cortinas, criou brinquedoteca, reformou despensa de alimentos, fez sala de TV, de computação etc. Depois, passou a ajudar com contribuições mensais, significativas. Como sou coordenadora da Jornada, ia ao local duas a três vezes por semana.
 
Não tem como deixar de se envolver com os pequenos. O amor nasce no coração da gente à medida que vamos conhecendo e convivendo com cada uma daquelas lindas crianças. Aprendi sobre o processo de tentar colocá-los na família estendida, ou mesmo tentar recuperar a convivência com a mãe ou o pai – muitos são tirados desse convívio pelo Conselho Tutelar por risco de morte. Quando isso não é possível, passam para a adoção tardia.
 

Se seu filho dá algum problema, você vai entregá-lo em um abrigo? Vai dá-lo para alguém? Então, como escolhe uma criança para adotar, passa meses se encontrando com ela, conhecendo-a, define que é esta a criança e depois de um mês vai devolvê-la?

O processo é lento, e é preciso ser assim, porque depois que a criança vai para a casa dos “padrinhos” (pais que pretendem adotar), não tem como devolver. Criança não é mercadoria, não gostou, devolve para o abrigo. O pensamento tem que ser o mesmo de quando se tem um filho que nasce de uma gestação própria. Se seu filho dá algum problema, você vai entregá-lo em um abrigo? Vai dá-lo para alguém? Então, como escolhe uma criança para adotar, passa meses se encontrando com ela, conhecendo-a, define que é esta a criança e depois de um mês vai devolvê-la? Isso para mim é incompreensível. Lembrando que isso só ocorre durante o processo de adaptação, pois a adoção é irrevogável.
 
Afinal, a adoção revela que, apesar do desejo explicitado de ter um filho, algumas necessidades específicas de cada sujeito, como reflexos de suas histórias psíquicas, repercutem diretamente na relação a ser estabelecida com a criança. Já em algumas crianças abrigadas observamos o desejo de serem adotadas e, ao mesmo tempo, uma idealização da família de origem acompanhada do esforço para conservar uma imagem positiva dos genitores.
 
“Logo, poderão expressar resistência diante dos pais adotivos, em uma tentativa de preservar os laços com sua história de origem, mas também, ao contrário, buscar assumir de forma precipitada uma nova identidade, pelo receio de não serem aceitas”, revela a psicanalista Cinara Cordeiro.
 
Embora a experiência de cada indivíduo possa variar, para muitos, a jornada será uma faca de dois gumes. Ela traz uma grande quantidade de felicidade e um número igual de desafios.
 
Existem também diversos mitos sobre adoção que confundem e afastam as famílias interessadas em dar um novo lar a uma criança ou adolescente. São eles: existem mais crianças que famílias interessadas em adotá-las. Isso não é verdade. Como informei acima, existem cerca de 4 mil crianças e adolescentes na fila da adoção no Brasil, a maior parte delas tem mais de 15 anos de idade, e a fila de inscritos para adotar supera os 35 mil.
 
Crianças que moram em abrigos estão disponíveis para adoção. Nem todas, como expliquei acima. É mais fácil adotar uma criança entregue pela mãe ou família biológica. Essa forma de adoção é conhecida como “adoção à brasileira” e é totalmente ilegal. Escolher a criança é o primeiro passo para a adoção. Não, o correto é iniciar pela Vara de Infância e Juventude.
 
Todos os dias, crianças recém-nascidas são abandonadas à própria sorte. Isso é raro. Encontrar a criança abandonada nessas situações não dá direito ou prioridade na adoção. A fila para adotar uma criança é muito longa e o processo demora tanto que desmotiva a adoção.
 
É longa de acordo com as exigências das famílias. As famílias adotivas temem a devolução da criança adotada. Não existe o cancelamento da adoção, como também falei acima. Com o processo totalmente concluído, a adoção legalizada é irrevogável. É preciso ter boas condições financeiras, casa própria e bens para poder adotar. Não é preciso ser maior de idade e ter a intenção real e comprovada de acolher um novo filho.

* Isabela Teixeira da Costa/Interina

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