Juventude Reversa 2025: ano em que o envelhecimento virou lente social
Retrospectiva Juventude Reversa 2025 revisita os temas do ano e mostra como a longevidade deixou de ser assunto individual para virar desafio coletivo
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2025 foi o ano em que o envelhecimento deixou de ser apenas uma questão de idade e se tornou espelho da sociedade brasileira. Esta coluna é uma retrospectiva da Juventude Reversa — um balanço dos temas, inquietações e debates que atravessaram o ano, sempre com o envelhecimento como chave de leitura do Brasil contemporâneo.
Foi mais do que um calendário de textos. Foi um ano de escuta, incômodo e atravessamentos sociais. Cada coluna revelou que envelhecer não é apenas acumular anos, mas disputar narrativas, ocupar espaços e reivindicar pertencimento.
O pano de fundo é incontornável. Segundo o IBGE, já somos mais de 55 milhões de pessoas com 50 anos ou mais, e a expectativa de vida ultrapassa os 76 anos. O Brasil envelhece rápido — mas nossas cidades, empresas e sistemas digitais ainda não envelheceram juntos.
Começamos o ano olhando para as novas gerações, como a chamada Geração Beta, e terminamos refletindo sobre pertencimento, dignidade e invisibilidade. Entre um ponto e outro, o envelhecimento se revelou como espelho incômodo do país que somos.
Falamos de etarismo explícito e disfarçado — nas frases que tentam calar quem envelhece, nas empresas que ignoram lideranças maduras, nos estereótipos que reduzem a velhice à perda. Falamos também de quem envelhece fora da norma: pessoas LGBT+, idosos pobres, corpos que não cabem nos discursos otimistas da longevidade.
A cultura apareceu como território de resistência. Seja no cinema brasileiro que enfrenta o etarismo, nas canções que traduzem o tempo vivido ou no acesso à vida cultural como espaço de permanência simbólica, ficou claro que envelhecer também é disputar narrativa.
Mas 2025 também foi um ano duro. A violência segue atravessando o envelhecimento — ora explícita, ora silenciosa — e expõe um país despreparado para a longevidade. Os dados mostram um Brasil que envelhece sem ter preparado calçadas, cidades e políticas públicas para isso. O Japão surgiu como alerta extremo; o Brasil, como risco anunciado.
A tecnologia atravessou quase tudo. Embora o acesso à internet entre pessoas idosas tenha crescido, a exclusão digital permanece. Pesquisa do Procon-SP revela que cerca de metade das pessoas com 60 anos ou mais relata dificuldades para usar serviços digitais essenciais, como bancos, aplicativos públicos e plataformas de atendimento. A exclusão digital tornou-se uma nova forma de exclusão social — silenciosa, cotidiana e profundamente desigual.
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Ao longo do ano, uma ideia se repetiu sob diferentes formas: viver mais não basta. É preciso viver com vínculo, participação, sentido e pertencimento. A longevidade só é conquista quando vem acompanhada de inclusão real.
Esta retrospectiva não é um encerramento. É um ponto de continuidade. O Brasil seguirá envelhecendo — rápido. A pergunta que fica é se vamos amadurecer junto.
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A Juventude Reversa segue como provocação: não para romantizar a velhice, mas para reposicioná-la no centro do debate social, econômico e cultural. Porque envelhecer não é um assunto de amanhã. É o assunto de agora — e talvez o maior teste de maturidade coletiva que o Brasil já enfrentou.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
