Viver mais é só o começo: pertencimento também prolonga a nossa vida
O Brasil vive mais, porém enfrenta um desafio comum a jovens e idosos: a invisibilidade. Longevidade exige saúde, vínculos, presença e um ambiente acolhedor
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Em 2024, a expectativa de vida do brasileiro subiu para 76,6 anos. O aumento de dois meses e meio representa um patamar histórico, segundo dados divulgados em 28 de novembro pelo IBGE. É um salto expressivo quando lembramos que, em 1940, o brasileiro não chegava, em média, aos 50 anos. Hoje, os homens vivem em torno de 73,3 anos e as mulheres se aproximam dos 80, mantendo uma tendência de recuperação após o período marcado pelo excesso de mortes na pandemia de Covid-19.
No início da vida, a situação também melhorou. A taxa de mortalidade infantil, que mede a probabilidade de um recém-nascido não completar o primeiro ano de vida, caiu para 12,3 a cada mil nascidos vivos. Entre os brasileiros que chegam aos 60 anos, a longevidade se estende ainda mais. Para os homens, a projeção é de viverem mais 20,8 anos; para as mulheres, mais 24,2. A curva aponta para um país que envelhece de maneira rápida e consistente.
Mas o salto na longevidade não elimina os desafios — pelo contrário, os amplia. A previdência social precisa se fortalecer para uma população que viverá mais tempo aposentada. Os serviços de saúde terão de acompanhar um ciclo de vida mais longo, com tratamentos prolongados e de custo elevado. E as cidades precisarão se adaptar a uma realidade em que os idosos não são exceção, mas parte cada vez maior da paisagem urbana. Viver mais exige recursos, planejamento e políticas públicas capazes de sustentar essa nova sociedade da longevidade.
É nesse ponto que os números se encontram com algo menos mensurável: o pertencimento. Longevidade não é apenas quantos anos se vive, mas como se vive esses anos. Já escrevi aqui na Juventude Reversa sobre os pilares da longevidade, mas hoje acrescento um outro elemento: o ambiente onde circulam nossas identidades. A reflexão ficou ainda mais clara após assistir a um vídeo recente da BBC Brasil sobre jovens influenciados pelas redes sociais. Ali, a busca por visibilidade nasce da sensação de invisibilidade. Essa dinâmica afeta todas as gerações, cada uma a seu modo.
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As redes sociais são incríveis em muitos momentos. Aproximam, informam, criam vínculos e derrubam distâncias. Mas, como tudo, o excesso cobra seu preço. Entre os jovens, a necessidade de ser visto a qualquer custo tem gerado distorções: vale ostentar, exagerar, interpretar papéis. Entre os idosos, o movimento é outro: a invisibilidade do dia a dia leva muitos a buscar no mundo digital uma presença que não encontram fora dele. Assim como muitos jovens vivem no centro das telas, alternando janelas e notificações sem parar enquanto o mundo real passa ao redor, os idosos acabam ficando como aquela mesa de canto num restaurante — estão lá, mas passam despercebidos. E isso também pesa na forma como cada geração tenta ser vista.
Pertencer também é cuidar da mente. É leitura, conversa, troca. Muito além do “brain rot” de quem passa horas rolando a tela. Para viver mais — e viver bem — precisamos fortalecer relações e hábitos simples. Os pilares da longevidade continuam sendo claros: caminhar, comer bem, conviver, exercitar o cérebro, ter propósito.
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O Brasil está vivendo mais. Agora precisa garantir que ninguém — nem jovem, nem idoso — viva à margem do pertencimento.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
