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Estado de Minas

Mulheres do Norte de Minas garantem renda com remédios naturais

Grupo composto por mulheres de Claro dos Poções produz e comercializa alimentos alternativos e remédios, feitos a partir de plantas. Iniciativa premiada garante economia e remuneração extra


postado em 31/08/2016 06:00 / atualizado em 31/08/2016 09:17

Claro dos Poções – Apontado como a caixa d'água do Brasil, por abrigar as nascentes de grandes bacias hidrográficas como o Rio São Francisco, o cerrado também concentra centenas de espécies medicinais.

A “farmácia vegetal” do bioma ajuda a movimentar o dinheiro em Claro dos Poções – município de 7,7 mil habitantes localizado no Norte de Minas. A localidade é humilde: sua renda per capita é baixa, da ordem de R$ 337,07 anuais. A mudança, no entanto, está em curso, promovida pela iniciativa de um grupo de mulheres.

O Essências do Cerrado produz e comercializa produtos da alimentação alternativa (como farinha enriquecida e granola), além de remédios caseiros (as antigas “garrafadas”), obtidos a partir da flora da região.


Quando há esforço coletivo e vontade, as pessoas podem crescer com as próprias pernas, aproveitando os poucos recursos disponíveis. É o que mostra o Essências do Cerrado. Focado no empreendedorismo solidário, o grupo se transformou em um case de sucesso. Tanto que já conquistou dois prêmios nacionais, levando seus produtos em feiras de Minas Gerais e de fora do estado.

O trabalho desempenhado em Claro dos Poções integra a terceira e última parte da série “Mulheres de fibra”, publicada pelo Estado de Minas, que narra também outras iniciativas empreendedoras de grupos femininos, que têm o objetivo de elevar a renda familiar com atividades que vão da colheita da sempre-viva à produção de artesanato em Diamantina.


Liderado por sete mulheres, o Essências do Cerrado nasceu em 2008. “Nosso principal foco é a economia solidária. Cada integrante desenvolve a atividade conforme sua vocação. Quem tem perfil para o trabalho no mato, se dedica mais à coleta das ervas. Quem gosta de vendas, lida com a comercialização.

A distribuição da renda obedece à divisão das tarefas. Todas nós temos as mesmas vantagens econômicas”, explica Sérgia Soares Fonseca, uma das líderes do grupo.


Em 2014, grupo conquistou o prêmio Usinas do Trabalho, promovido pelo Consulado da Mulher – ação social da Cônsul (fabricante de geladeiras e outros eletrodomésticos da linha branca) – e que oferece suporte a mulheres em vulnerabilidade social e econômica para que se organizem e que desenvolvam microempreendimentos para a geração de renda e transformação de vidas em comunidades.

Também recebeu o prêmio Boas Práticas em Economia Solidária”, promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e entregue durante a 11ª Feira Latino-Americana de Economia Solidária, em Santa Maria (RS), em julho do ano passado.


Um das mercadorias de destaque produzida pelo Essências do Cerrado é a farinha enriquecida, feita com fubá de milho, farelo de trigo e pó de folha de mandioca. Além de ser consumida por gestantes, idosos e crianças, o alimento – vendido a R$ 25 o quilo – faz sucesso entre os frequentadores de academias, por assegurar o ganho de massa muscular. Outro item do grupo é o composto “nutrição reforçada”, que conta com gergelim, linhaça, amendoim, mel de abelha, rapadura e outros ingredientes naturais.

TREINAMENTO Por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), o núcleo de mulheres de Claro dos Poções recebeu um curso de capacitação sobre o uso das plantas medicinais do cerrado. As mulheres descobriram que a rica flora do bioma serve não somente para tratar inúmeras doenças, como pode gerar renda.

“A gente sempre pensava em resgatar os remédios caseiros, as “garrafadas” usadas pelo pessoal antigo da região, mas não sabia como fazer isso. Aí, procuramos o Senar”, relata Maria da Luz Marinho, presidente da Associação Essências do Cerrado. “Também fizemos pesquisas com pessoas antigas da região que sempre usaram os chás caseiros”, completa.


Maria da Luz explica que o grupo pesquisa e verifica a eficácia das plantas encontradas na região. As ervas são coletadas no mato pelas próprias mulheres e levadas para a sede do projeto, no prédio cedido pela Prefeitura de Claro dos Poções.

Com o curso do Senar, elas aprenderam a retirar o princípio ativo das plantas, também chamadas de “tinturas”, que correspondem às essências das ervas, daí o nome do grupo. Aprenderam ainda como preparar xaropes, gel e pomadas, assim como as dosagens e o modo de usar os “remédios”.


A presidente da associação conta que os prêmios nacionais conquistados contribuíram com o crescimento do empreendimento solidário. Na premiação do Consulado da Mulher, o grupo recebeu eletrodomésticos que são usados em suas atividades (uma geladeira, um freezer, dois fogões a gás e um purificador de água), além de R$ 5 mil em dinheiro. Como premiação do BNDES, recebeu R$ 20 mil, dos quais R$ 12 mil foram aplicados na compra de um terreno para a futura sede do empreendimento. Os outros R$ 8 mil passaram a ser usados como capital de giro.

Farmácia rica

Mais de 30 tipos de remédios naturais, usados para os mais diversos tipos de doença, como diabetes, pressão alta, artrose, artrite, bronquite, problemas de coluna e outros, são produzidos e comercializados pelas “raizeiras” do Essências do Cerrado. Um dos “carros-chefes” é um estimulante sexual chamado “braço forte”, produzido a partir de uma planta com o mesmo nome, encontrada na região. Os remédios e os ingredientes da alimentação alternativa são vendidos em feiras e também sob encomenda.

Em Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, a ação coletiva para superar as dificuldades foi feita por mulheres que, a cada ano, são deixadas em casa pelos maridos, que saem para o trabalho no corte de cana no interior de São Paulo e na colheita de café no Sul de Minas. A Associação dos Artesãos de Chapada do Norte, criada em 2002, conta com 15 mulheres, que aproveitam a palha de milho e o couro para a produção de sacolas, porta-joias, namoradeiras e instrumentos musicais.

“Os homens saem para trabalhar no corte de cana e na colheita de café e as mulheres ficam sem renda. A gente tinha que arrumar alguma saída para viver”, diz Aleni de Fátima Pereira, presidente da associação de artesãos.


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