
“O panorama que estamos antevendo é que, em setembro ou outubro, quando chegar o pico da seca, a situação poderá ser pior mais ainda”, alerta o secretário-executivo da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), Luiz Lobo.
Mesmo faltando mais de 100 dias para o chamado período seco acabar, 136 municípios já decretaram estado de emergência em Minas por causa da seca, quase a totalidade deles situada no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha. A tendência desse número é subir. “Normalmente, a situação piorava mesmo em setembro. Mas, neste ano, no início de julho o quadro já está drástico, com os municípios reivindicando caminhões-pipas e cestas básicas. Até agora, no entanto, não foi adotado um plano de emergência, pelo governo federal, para socorrer os municípios atingidos”, relata Lobo.
O técnico Reinaldo Nunes de Oliveira, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) em Montes Claros, salienta que as consequências estão sendo piores porque a região acumula três anos seguidos de estiagens prolongadas. Um dos setores mais afetados é a pecuária, um dos suportes da economia regional. De acordo com os dados da Emater, nos últimos quatro anos, além das perdas de milhares de reses, que morreram de fome e sede, mais de 600 mil cabeças de gado saíram da região. Neste ano, as perdas nas lavouras foram superiores a 70%, atingindo em cheio os pequenos produtores, sustentados pela agricultura familiar.
Êxodo
A saída de moradores dos pequenos municípios, devido à falta de emprego e renda nos locais de origem, é outro problema. Uma das cidades mais castigadas pela seca no Norte de Minas é Espinosa, de 31,1 mil habitantes, na divisa com Bahia. No município, sofrem com a escassez de água em torno de 1 mil famílias, moradoras de 84 comunidades, segundo o presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável de Espinosa, José Maria França Alkimin. “Muitas pessoas já deixaram o município por causa da escassez de água. Falta água até para a sobrevivência”, revela José Márcio.
Ele salienta que os caminhões-pipas que circulam no município não dão conta de atender a demanda e, em diversas localidades, as pessoas têm que carregar água na cabeça, em carroças ou no lombo de animais para encher latas e tambores no reservatório onde chega o caminhão.
No município de Montes Claros, centenas de pequenos produtores sofrem com a estiagem prolongada. É o caso do lavrador aposentado Valdomiro Ribeiro de Almeida, de 55 anos, casado e pai de três filhos, da comunidade de Valentina. A água que é fornecida pelo caminhão-pipa chega a cada 30 dias, não sendo suficiente para abastecer a família. O lavrador busca água para beber em sua moto em um posto de combustíveis a dois quilômetros de casa. Por conta da seca, teve de interromper uma pequena criação de porcos, o que fez minguar a renda da família.
Opostos
Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, em dezembro passado foi castigada pelo excesso de chuvas, que levou a prefeitura a decretar estado de emergência no município. Meses depois, a prefeitura voltou a decretar emergência, dessa vez por os danos provocados pela falta de chuvas. O prefeito, Erildo Gomes, afirma que, no final do ano passado, foram registrados no município 271 milímetros de chuva em 24 horas. O “dilúvio” danificou 42 pontes e estradas vicinais ficaram intransitáveis, isolando diversas comunidades rurais.
Neste ano, a região foi castigada por um veranico, em janeiro e fevereiro, e as últimas chuvas foram registradas em março. Segundo o prefeito, muitas comunidades já começaram a sofrer com a falta de água, tanto para o consumo doméstico quanto para a agricultura familiar.
Morador na localidade de Lagoa do Bonga, situada numa região isolada, a 33 quilometros da sede do município, o agricultor Manoel de Lourdes Barroso perde sono com a triste situação do córrego do Bonga, que, segundo ele, já correu caudaloso no passado e hoje se resume a um filete. “Nunca vi esse córrego secar tanto. Do jeito que está indo, em poucos dias ele e vai secar de vez. E não sei como viver, pois aqui não tem outra fonte de água por perto”, assombra-se Manoel.
Menos café e leite no Sul de MG

Em Varginha, a 300 quilômetros de Belo Horizonte, o volume do Rio Verde recuou tanto que fez reaparecer o paredão de uma barragem erguida há mais de 100 anos. A represa fazia parte de uma usina que abastecia 52 cidades daquelas bandas e foi desativada na década de 1950. “Tenho 43 anos e é a primeira vez que vejo o paredão. Dá tristeza testemunhar a cena, pois significa que o volume d’água está baixo”, lamentou o carpinteiro Cláudio Rogério. Ele foi ao local nesta semana para “ver com os próprios olhos” o que os moradores de Varginha comentam: “O leito passava por cima do paredão”.
O Rio Verde, que nasce na Serra da Mantiqueira e deságua no Lago de Furnas, beira diversas fazendas produtoras de café. A estiagem não deixou as lavouras se desenvolverem como em anos anteriores. Resultado: a oferta menor da commodity elevou o preço da saca de 60 quilos. “O valor estava R$ 250 no início do ano. Saltou para R$ 520 há algumas semanas e, depois, caiu para R$ 360. Em seguida, houve uma nova alta. Agora, o preço está entre R$ 400 e R$ 420 (aumento de até 68% em relação a janeiro)”, disse o presidente da Cooxupé.

“O volume está baixo”, afirmou Manuel Tadeu de Oliveira, de 61 anos. Ele também reclama da paisagem a poucos metros da represa: “O pasto está seco. A estiagem este ano está brava. Eu retirava 50 litros de leite de duas vacas. Atualmente, caiu pela metade”. Manuel mora numa comunidade rural de Lavras, a poucos quilômetros das comportas da Funil. Apesar da estiagem, a água do local ajuda na sobrevivência da horta de vários moradores da região, como o caseiro Ronaldo Alves, de 40. “Não teria como cultivar a hora se não fosse o rio.”
