Reprodução humana: a história do médico que se tornou paciente
Especialista em reprodução humana relata sua jornada pessoal em busca da paternidade e explica como funciona o congelamento de embriões
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Para o médico Alfonso Massaguer, especialista em reprodução humana e diretor da Clínica Mãe, os Natais passaram a ter um significado ainda mais profundo desde o nascimento dos seus dois filhos.
Pai de Nicolas, de sete anos, e Mark, de três, ele reflete sobre uma jornada pessoal que espelha a de milhares de seus pacientes. Alfonso e a esposa, que enfrentaram dificuldades para engravidar, realizaram o sonho da paternidade através da fertilização in vitro (FIV), uma experiência que transformou sua visão profissional e fortaleceu seus laços familiares.
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A história do casal começou quando, aos 34 anos, sua esposa não conseguia engravidar devido a dificuldades de ovulação. A decisão de recorrer à FIV foi o primeiro passo de uma jornada que os levaria a uma escolha ainda mais significativa: o congelamento de embriões. “Devido à idade dela e ao nosso desejo de ter mais de um filho, decidimos congelar um número grande de embriões”, relata Alfonso.
A sorte sorriu para eles, com uma coleta que resultou em um número expressivo de óvulos e, consequentemente, de embriões, garantindo a tranquilidade para planejar o futuro da família. O processo, segundo o médico, foi uma decisão conjunta e estratégica. “A nossa decisão foi congelar embriões para saber mais a qualidade do material congelado e, com isso, ter mais chance de gravidez futura”, explica.
Hoje, a prática de congelar todos os embriões é comum na fertilização in vitro, pois permite preparar melhor o útero para a transferência. Para o casal, a escolha foi duplamente recompensadora: além de aumentar as chances de sucesso, permitiu que planejassem a chegada dos filhos com segurança.
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A lição de quem vive na pele
Vivenciar na prática os resultados do seu próprio trabalho trouxe lições inestimáveis. “É claro que a lição que a gente tira disso é passar por tratamentos que vemos todos os dias há 25 anos. Passar por isso em nossa família muda tudo, você tem uma visão como paciente”, reflete o especialista. A experiência trouxe a tranquilidade de ter embriões congelados para o futuro, mas também um aprendizado crucial que ele aplica hoje em sua prática clínica.
Ele recorda casos passados em que casais, após o nascimento do primeiro filho, retornavam anos depois para tentar o segundo, mas se deparavam com o avanço da idade da mulher e a queda na qualidade dos óvulos. “A gente se arrepende de não ter congelado mais embriões ou até óvulos no passado”, admite. “Hoje, cada vez mais, é importante não só entregar o bebê que as pessoas querem, mas também já preparar para o segundo, ou até terceiro bebê, caso desejem, ou pelo menos deixar essa porta aberta.”
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O lado humano da medicina
Passar pelas inquietações e ansiedades do processo de fertilização permitiu a Alfonso uma conexão ainda mais profunda com seus pacientes. “Sem dúvida, passar por isso foi uma experiência. Tenta-se sempre ter empatia com as pessoas, mas passar por aquilo na sua pele é realmente diferente”, afirma.
Ele destaca que, embora difícil, a jornada uniu ainda mais o casal. “O que passei com a minha esposa me uniu mais ainda com ela. Acho que aquilo também te prepara para ser um pai e uma mãe, porque você passa por uma dificuldade tão grande que, depois, a maternidade e a paternidade ficam mais fáceis.”
Um dos pontos que o médico faz questão de esclarecer é a segurança do congelamento a longo prazo. O embrião do seu filho mais novo, Mark, ficou congelado por cinco anos, enquanto o do mais velho, Nicolas, por um ano. “Não há nenhuma influência na característica da criança. Temos bebês que ficaram congelados por mais de 20 anos e que são 'normais'. O congelamento é muito seguro e eficaz”, garante.
A história de Alfonso é um testemunho de esperança, perseverança e da importância do planejamento reprodutivo. É um lembrete de que, por trás da ciência e da medicina, existem histórias humanas de amor e do desejo de construir uma família, e que a preparação para o futuro é uma responsabilidade compartilhada. “Essa decisão de pensar no futuro não é uma coisa que tem que cair só nas costas das mulheres. Os homens estão tão envolvidos nisso quanto”, comenta.
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