No fim da gestação, Key Alves tem sono difícil. O que muda na gestante?
Mudanças no padrão do sono são esperadas na gravidez, mas dormir mal de forma recorrente pode ser prejudicial à mãe e ao bebê
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Na fase final da gestação, a ex-BBB Key Alves revelou o desejo de estar descansada, principalmente após passar a noite toda sentada e precisar de vários travesseiros para precisar dormir. “Tô mega inchada. Hoje a noite foi terrível. Passei mal, me deu falta de ar, a minha barriga endureceu demais”, disse a ex-jogador de vôlei. Mas o que ocorre no sono das gestantes?
“Ainda que as alterações no sono sejam esperadas, é importante buscar estratégias de cuidado. Dormir mal de forma recorrente durante a gestação pode trazer consequências tanto para a mãe quanto para o bebê. A privação de sono está associada ao aumento de marcadores inflamatórios e ao desequilíbrio hormonal, o que pode favorecer alterações na glicemia, ganho de peso excessivo e até maior risco de pré-eclâmpsia. Para o bebê, a má qualidade do sono materno pode impactar a oxigenação e o crescimento intrauterino, além de estar relacionada a maiores índices de parto prematuro. Por isso, o descanso deve ser visto como parte do cuidado pré-natal, com o mesmo peso que damos à alimentação equilibrada e ao acompanhamento médico regular”, explica o ginecologista e obstetra, mestre e doutor em tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP), Nélio Veiga Júnior.
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Segundo o otorrinolaringologista especialista em medicina do sono e coordenador científico do grupo Bonviv Brasil, Paulo Reis, durante a gravidez, as principais causas de distúrbios do sono, como insônia e sono fragmentado, são as intensas alterações hormonais, especialmente o aumento da progesterona, que causa sonolência diurna e pode fragmentar o sono noturno. “Desconfortos físicos como náuseas, azia, cãibras, dores nas costas, a necessidade frequente de urinar e os movimentos do bebê também contribuem significativamente. A ansiedade natural sobre a gestação e o parto também desempenha um papel importante na dificuldade de relaxar e dormir profundamente. Além disso, condições como síndrome das pernas inquietas e apneia do sono são mais comuns em gestantes e também contribuem para um sono fragmentado e pouco reparador”, comenta.
De acordo com o obstetra, nos primeiros meses, é comum que a gestante sinta mais fadiga, tenha cochilos frequentes e perceba o sono noturno mais fragmentado, especialmente devido à maior frequência urinária e à adaptação emocional à nova realidade. “À medida que a gravidez avança para o segundo trimestre, há uma tendência de melhora. O corpo já se adapta melhor às alterações hormonais e o desconforto físico tende a ser menor. Nessa fase, muitas gestantes relatam um sono mais reparador, embora possam surgir episódios de azia, congestão nasal e movimentos fetais que interferem na continuidade do repouso. Esse costuma ser o período mais equilibrado da gestação, uma janela de estabilidade entre o cansaço inicial e o desconforto final”, comenta.
“No terceiro trimestre, no entanto, o sono volta a ser desafiado. O crescimento uterino pode dificultar a escolha de uma posição confortável, e sintomas como refluxo, cãibras, dores lombares e necessidade frequente de urinar tornam as noites mais interrompidas. Além disso, há um componente emocional importante: a proximidade do parto e a expectativa pela chegada do bebê aumentam os níveis de ansiedade, o que pode contribuir para quadros de insônia e sono leve. Nesse período, não é incomum que as gestantes passem menos tempo nas fases profundas do sono, o que explica a sensação de acordar cansada mesmo após várias horas na cama”, diz Nélio.
Com o crescimento da barriga, é recomendado que as gestantes durmam preferencialmente do lado esquerdo, segundo Paulo Reis. “Essa posição otimiza o fluxo sanguíneo para o útero, o feto e os rins da mãe, além de evitar a compressão da veia cava inferior, que pode prejudicar a circulação. O uso de travesseiros de apoio entre as pernas, sob a barriga e atrás das costas pode aumentar o conforto e manter a posição correta durante a noite”, ensina Paulo.
Segundo Nélio, a prática regular de atividade física leve, a higiene do sono e o manejo da ansiedade com acompanhamento médico e psicológico são aliados valiosos. “Para gestantes, recomendo manter uma rotina consistente de sono, criar um ambiente adequado (escuro, silencioso, 18-21°C) e evitar telas uma hora antes de dormir. Alimentação estratégica inclui jantar leve de duas a três horas antes de deitar e reduzir líquidos duas horas antes do sono”, diz Paulo.
“Em casos de distúrbios mais intensos, como apneia do sono, insônia persistente ou sonolência diurna excessiva, o obstetra deve avaliar a necessidade de investigação e encaminhamento para o médico especialista para tratamento específicos, uma vez que a qualidade do sono também impacta a saúde materno-fetal”, comenta Nélio. “O sono é um termômetro da saúde. Quando ele perde a qualidade por muito tempo, o corpo começa a dar sinais. E é nessa hora que o acompanhamento do médico do sono pode evitar complicações maiores”, complementa Paulo.
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Para mulheres no puerpério, quando além das interrupções do bebê, a mãe enfrenta uma montanha-russa hormonal que desregula o ciclo do sono, dificultando adormecer ou manter o sono profundo, o médico do sono orienta seguir a regra de dormir quando o bebê dorme, priorizando cochilos de 20 a 30 minutos sobre tarefas domésticas. “O sistema de turnos com o parceiro para cuidados noturnos e exercícios regulares adaptados a cada fase também são essenciais para a qualidade do sono”, reforça Paulo.