Crianças passam até três horas por dia nas telas e má postura já preocupa
Pesquisa revela uso acima do indicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria; fisioterapeuta alerta para impactos do hábito na coluna infantil e dá orientações
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O uso de telas entre crianças brasileiras segue muito acima do recomendado pelos especialistas. Uma pesquisa Datafolha realizada em abril com 2.206 pessoas em todo o país, sendo 822 responsáveis diretos por crianças de até seis anos, revela que pequenos de zero a seis anos passam, em média, de duas a três horas por dia diante de celulares, tablets ou computadores.
O uso diário atinge 78% das crianças com até três anos e 94% daquelas entre quatro e seis anos. Os índices destoam das diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que orienta zero exposição a telas até os dois anos e no máximo uma hora diária entre dois e cinco anos.
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Segundo a fisioterapeuta Aryane Silva, mestre e pós-graduada em fisioterapia neurofuncional adulto e infantil e professora do curso de fisioterapia do UniBH, o cenário acende um alerta não apenas cognitivo, mas físico: o uso precoce e prolongado de dispositivos tem provocado alterações posturais cada vez mais comuns na infância e adolescência.
“Estamos observando um volume muito grande de vícios, como aumento de casos de curvatura anormal e acentuada na região torácica da coluna vertebral (hipercifose), protrusão cervical e encurtamentos importantes da musculatura peitoral”, afirma. Quadros de escoliose também têm sido identificados com frequência.
A especialista destaca ainda que a situação se agrava especialmente entre pré-adolescentes e adolescentes de 10 a 15 anos, fase marcada pelo estirão de crescimento. “É um período de intensa mudança corporal. Se a má postura se mantém, ela influencia diretamente no desenvolvimento das estruturas da coluna”, explica.
Entre os problemas que surgem com o uso prolongado das telas, Aryane também cita a chamada síndrome do pescoço de texto, caracterizada pela flexão excessiva da cabeça e sobrecarga da musculatura cervical. “Ela gera dor, tensão importante na região dos ombros e dificuldade de manter o alinhamento adequado”, descreve Aryane.
A fisioterapeuta reforça que a má postura infantil pode repercutir na vida adulta. “Com o tempo, essas alterações podem se estruturar, gerar dores crônicas, fraqueza muscular e impactar diretamente a qualidade de vida”, alerta.
Onde a postura piora?
Segundo a professora, as posições mais críticas são as sentadas no sofá, cama ou carro, nas quais a criança tende a projetar a cabeça para baixo. Deitar-se de barriga para cima pode ser menos prejudicial, desde que haja apoio adequado, mas não elimina o risco. “É difícil manter o alinhamento cervical quando a criança segura o aparelho com as mãos; a tendência é sempre curvar a cabeça”, destaca.
Para minimizar impactos, Aryane orienta ajustes simples de rotina e ergonomia, entre eles usar mesa, apoio para as mãos e cadeira adequada, sempre que possível; pausas frequentes a cada uma hora, no máximo; e alongamentos rápidos com extensores da coluna e flexores cervicais, que podem ser feitos em qualquer ambiente. “Alongamentos simples já reduzem tensões musculares importantes, especialmente na região do pescoço e do tronco”, diz.
Quando procurar um fisioterapeuta?
Para Aryane, a fisioterapia não deve ser vista apenas como tratamento, mas como prevenção. “Qualquer sinal de dor, desconforto ou alteração postural já justifica uma avaliação. E, mesmo sem sintomas, o acompanhamento preventivo ajuda a manter o alinhamento e evitar problemas futuros”, afirma.
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Entre os tratamentos mais utilizados estão fortalecimento muscular, mobilidade articular e orientações ergonômicas personalizadas. A melhora costuma ser rápida. “Em muitos casos, três sessões já fazem grande diferença para o alívio de dor e evolução funcional”, relata.