SAÚDE INFANTIL

Caderneta digital colabora para identificar o atraso psicomotor infantil

Criada em 2005 pelo Ministério da Saúde, a caderneta da criança chegou à sua sétima edição como substituta do antigo Cartão da Criança

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A caderneta digital da criança para acompanhamento da saúde infantil, lançada em abril, foi tema central do simpósio “Contexto prático da utilização da caderneta digital: como a ferramenta colabora para identificar o atraso psicomotor infantil”, realizado nesta segunda-feira (16/6), durante o 38º Congresso do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), no Expominas, em Belo Horizonte. 

Criada em 2005 pelo Ministério da Saúde, a caderneta da criança chegou à sua sétima edição como substituta do antigo Cartão da Criança. Agora em versão digital, ela reúne dados fundamentais relacionados à saúde infantil, do cartão de vacinas ao histórico neonatal, passando por indicadores de crescimento e desenvolvimento, aleitamento materno, saúde bucal, auditiva, visual, intercorrências clínicas e orientações para a promoção do cuidado com a criança.

Segundo Sônia Venâncio, coordenadora-geral da Saúde da Criança, Adolescente e Jovem do Ministério da Saúde, a iniciativa marca um avanço na política pública. “A nossa política nacional tem dois objetivos principais: garantir a sobrevivência das crianças diante das desigualdades e promover o desenvolvimento pleno. Para isso, é preciso um sistema que acompanhe, oriente e fortaleça as famílias na jornada do cuidado com seus filhos. A caderneta digital vem nesse sentido”, explicou.

A versão física do documento continua sendo distribuída nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Segundo Sônia, “retomamos a distribuição nacional com a entrega de seis milhões de exemplares”. A caderneta teve a impressão e distribuição suspensas durante a pandemia de COVID-19. A empresa com a qual o ministério havia firmado contrato, na época, alegou dificuldades para conseguir matéria-prima e, eventualmente, entrou em situação de desativação, o que causou o rompimento do contrato.

Com isso, Sônia alertou para o risco dos estados e municípios produzirem versões próprias e incompletas. “Isso traz prejuízo, pois deixa de haver um acompanhamento global. Os estados e municípios não precisam criar cadernetas próprias; devem adotar a versão do Ministério”.

Além da distribuição física, outra frente importante foi o lançamento da caderneta digital. “O objetivo é ampliar o acesso às informações e registros do acompanhamento da atenção primária, garantindo também a continuidade dos dados. As famílias terão acesso ao espelho da caderneta por meio do aplicativo, incluindo informações clínicas e registros de vacinação”, disse.

Crescimento e desenvolvimento

A digitalização dos dados será feita pelas equipes de saúde, mas sem gerar sobrecarga. “Não queremos sobrecarregar os profissionais. As informações do acompanhamento migram automaticamente para o app. Mas é essencial que os dados sejam anotados corretamente, especialmente os marcos de crescimento e desenvolvimento”, destacou a coordenadora, mencionando que o sistema também já incorpora um instrumento de rastreio do transtorno do espectro autista (TEA).

A gestão dos dados será integrada entre os sistemas municipais, estaduais e federal por meio do Sistema de Automação de Processos (Sisap). “A caderneta digital não é apenas um repositório de dados, mas uma ferramenta que modifica a vida. Democratiza o acesso ao conhecimento em saúde e fortalece a atuação das equipes multidisciplinares na atenção à primeira infância”, afirmou Luciana Albuquerque, secretária municipal de Saúde de Recife (PE).

Recife foi um dos exemplos apresentados no simpósio. Durante a pandemia, a capital pernambucana desenvolveu o “Conecta Recife”, uma plataforma que chegou a cadastrar 1,7 milhão de pessoas. “Materializamos o vínculo com a linha materno-infantil, incluindo pais e responsáveis com login e dados dos filhos. Oferecemos pílulas de conhecimento de acordo com a faixa etária da criança, calendário vacinal, registros das vacinas tomadas e das que ainda estão pendentes”, explicou Luciana.

A meta, segundo ela, é ampliar a integração de dados com áreas como a educação e a assistência social. “Queremos unir os dados da matrícula escolar, desempenho, desenvolvimento e acompanhamento clínico com informações do CadÚnico e do Bolsa Família. Facilita não só a vida na saúde, mas a inclusão e proteção social”.

Na avaliação da atual CEO da Roche Farma Brasil, Lorice Scalise, o monitoramento precoce dos marcos motores pode fazer diferença para toda a vida da criança. “A gente entende que há uma barreira de cuidado pela falta de entendimento dos pais e do acesso ao diagnóstico no tempo adequado. Até você perceber que o desenvolvimento está diferente, pode levar anos. Essas pílulas que chegam por meio da caderneta digital antecipam o diagnóstico e possibilitam o tratamento adequado”, afirmou.

38º Congresso do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems)
Recife foi um dos exemplos apresentados no simpósio. Durante a pandemia, a capital pernambucana desenvolveu o Nara Ferreira/EM/D.A Press

Marcos infantis 

Lorice é mãe de três filhos, sendo um diagnosticado com TEA aos 17 anos, e reforça que o custo do diagnóstico tardio é alto: “Você só descobre que a criança precisa de ajuda quando já perdeu tempo valioso. E, quando não diagnosticadas na infância, essas pessoas crescem sem apoio, sem inclusão social. A caderneta digital consolida dados que podem acompanhar o indivíduo até a vida adulta, e ainda servir como base para políticas públicas eficazes”.

O ortopedista pediátrico e ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também participou da discussão e defendeu o uso da caderneta como ferramenta de transformação. “Eu sempre me dediquei aos temas de dificuldade motora e sei o impacto que a falta de políticas públicas adequadas tem na vida dessas crianças. Precisamos reforçar o acompanhamento dos marcos infantis e garantir diagnósticos precoces, especialmente em populações vulneráveis, como indígenas e moradores de periferias”, afirmou.

Mandetta lembrou que, atualmente, 15 milhões de crianças são visitadas por agentes comunitários de saúde. “Temos um exército vocacionado para mudar a realidade de um país tão assimétrico. Mas para isso, precisamos de informações universais. Se cada um tiver um pedaço da informação, ninguém consegue perceber cedo os sinais de atraso no desenvolvimento.”

Ao final do painel, Sônia Venâncio reforçou que a caderneta digital não substituirá a versão física, mas será complementar a ela. “Estamos fazendo estudos de viabilidade, mas a distribuição da caderneta física seguirá. O que queremos é fortalecer as famílias, democratizar o acesso ao cuidado e ampliar a qualificação da atenção primária à saúde.”

A adesão à caderneta digital já soma 70 mil acessos, e a expectativa é de crescimento com a inclusão de novos módulos,  como educação, boletins escolares e outros dados que reforcem o desenvolvimento integral da criança. “É uma política de Estado, não de governo. Não se trata de aderir por vontade política, mas por ser uma ação benéfica e essencial para o paciente”, afirma Lorice. 

Curso gratuito 

Lançado em março, o curso “Atraso Psicomotor na Primeira Infância” é uma iniciativa gratuita oferecida pelo Conasems, em parceria com o Grupo Roche. A formação é voltada a profissionais da Atenção Básica do SUS e aborda temas fundamentais como diagnóstico precoce, revisão dos marcos motores e o impacto social e econômico das doenças raras.

Com carga horária de 40 horas, o curso é dividido em três disciplinas principais: marcos motores entre 2 meses e 5 anos de idade; classificação do atraso psicomotor; e doenças raras com comprometimento motor. Além do conteúdo teórico, a capacitação inclui a simulação de um caso clínico para demonstrar, na prática, como aplicar os conhecimentos adquiridos e garantir um diagnóstico adequado.

Totalmente online e autoinstrucional, o curso oferece flexibilidade para que os profissionais de saúde estudem no seu tempo, em qualquer lugar e por diferentes dispositivos. O formato é dinâmico e interativo, com recursos como teleaulas, e-books, vídeos temáticos e aulas web. Os participantes que completarem ao menos 40% das aulas e atingirem 60% de aproveitamento nas atividades avaliativas de cada disciplina receberão certificado de conclusão.

À reportagem, Lorice Scalise reforça que a criação do curso surgiu de uma demanda concreta observada no dia a dia das equipes de saúde. “Percebemos que muitos profissionais,  agentes comunitários, secretários e gestores,  não tinham clareza sobre quais perguntas fazer ou como observar os primeiros sinais de atraso no desenvolvimento. Então nos colocamos à disposição para trabalhar juntos, com o Ministério da Saúde e os municípios, para desenvolver uma formação que apoie esses profissionais e também prepare os pais”, afirmou.


“Essa não é uma ação isolada da Roche, mas sim uma construção conjunta com o Conasems, as secretarias e os próprios profissionais de saúde. Acreditamos na força da parceria para transformar o cuidado na primeira infância.”

As inscrições para o curso estão abertas e podem ser feitas gratuitamente no portal mais.conasems.org.br.


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