ABRIL MARROM

Setor óptico: da saúde visual às armações e lentes

A Expo Óptica 2025, realizada no ínicio deste mês, reforça a importância do diagnóstico precoce e do acesso a tratamentos para distúrbios visuais

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Este mês é marcado pela campanha Abril Marrom, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a cegueira e a prevenção de doenças oculares. A campanha destaca a importância do diagnóstico precoce, do tratamento adequado e da introdução de óculos ou lentes quando necessário. A ação mobiliza órgãos públicos e entidades de saúde e também foi tema no centro da Expo Óptica 2025, realizada entre 9 e 12 de abril, no Expo Center Norte, em São Paulo.

A feira, promovida pela Associação Brasileira da Indústria Óptica (Abióptica), reuniu mais de 22 mil visitantes, um aumento de 14% em relação à edição anterior. O faturamento da edição superou em 18% o de 2024. Segundo a diretora executiva da Abióptica, Ambra Nobre Sinkoc, os resultados refletem a força do evento como espaço estratégico de negócios para o setor óptico nacional e latino-americano.

 

Além dos lançamentos de armações e lentes, a feira também foi marcada por uma agenda de 38 palestras e workshops voltados à capacitação de ópticos, optometristas e oftalmologistas. A diretora da Abióptica destaca que o setor funciona como um tripé, que une saúde visual e mercado. “De uma ponta, há um aumento nos casos de miopia em crianças e adolescentes. Na outra, o envelhecimento da população, com a presbiopia, popularmente chamada de 'vista cansada'. Ambas as situações exigem atenção à acuidade visual”, afirma. 

A Expo Óptica 2025
Ambra Nobre destaca que os resultados refletem a força do evento como espaço estratégico de negócios Abióptica/Divulgação

Profissionais da área

Na atenção à saúde visual, tanto oftalmologistas quanto optometristas têm papéis distintos e complementares. Márcio Rodrigues, diretor institucional da Confederação Brasileira de Optometria e Óptica (CBOO), explica que o oftalmologista trata das condições patológicas do globo ocular, como catarata,glaucoma econjuntivite, enquanto o optometrista cuida do processamento da visão, incluindo erros refrativos como miopia, astigmatismo e hipermetropia, além de alterações vergenciais como o estrabismo.

O optometrista também atua na reabilitação visual de crianças com dificuldades de aprendizado e no tratamento de alterações causadas pelo uso excessivo de telas. “São terapias que ajudam a corrigir disfunções visuais e contribuem para o bom desenvolvimento da visão”, afirma.

Contudo, mesmo que tenha curso superior, o optometrista não pode diagnosticar nem prescrever tratamento para doenças oculares no Brasil, conforme determina a Lei nº 12.842/2013, conhecida como Lei do Ato Médico, a qual define as atividades privativas do médico e regulamenta o exercício da medicina no país.

Miopia em crescimento 

Estudos apontam que, até 2050, cerca de metade da população mundial terá miopia. No Brasil, 30% da população já apresenta a condição. A professora Célia Nakanami, doutora em oftalmologia pela Unifesp, explica que a miopia ocorre quando o globo ocular é mais alongado ou a córnea tem uma curvatura acentuada. Fatores genéticos, ambientais, comportamentais e educacionais estão associados ao desenvolvimento e progressão do quadro.

A Expo Óptica 2025
A feira foi marcada por uma agenda de 38 palestras e workshops Abióptica/Divulgação

“Entre os fatores ambientais e comportamentais estão o pouco tempo ao ar livre, o uso excessivo de telas a curta distância e a exposição insuficiente à luz solar. Já fatores como o nível socioeconômico e o ambiente urbano também influenciam, por estarem relacionados a maior pressão escolar, acesso à tecnologia e menor tempo em atividades externas”, complementa. 

A prevenção da miopia infantil envolve mudanças de hábitos. Hugo Grimaldi, diretor médico da EssilorLuxottica, ressalta a importância de ações contínuas de saúde pública ocular. “É fundamental que as pessoas cuidem da visão desde cedo, com visitas periódicas ao oftalmologista ao longo da vida”, afirma.

Entre as recomendações estão:

  • Estimular brincadeiras e atividades ao ar livre

  • Controlar o tempo e a distância do uso de dispositivos eletrônicos

  • Realizar pausas durante o uso de telas 

  • Observar sinais como dificuldade para enxergar de longe, cansaço ocular e dores de cabeça

  • Realizar exames oftalmológicos periódicos

A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica recomenda a realização do primeiro exame oftalmológico entre 6 meses e 1 ano de idade, e novos exames entre 3 e 5 anos, e dos 6 aos 9 anos. Crianças com miopia ou risco de progressão devem ser acompanhadas a cada seis meses.

Hoje há diferentes abordagens para o controle da miopia. Lentes de óculos com tecnologia específica, lentes de contato gelatinosas e rígidas (ortoceratologia) são opções disponíveis. Além disso, há o tratamento farmacológico com colírios que ajudam a controlar o crescimento do olho.

No entanto, a adaptação de crianças ao uso dos óculos ainda é um desafio. O tema foi abordado durante a mesa redonda “Miopia infantil: desafios das óticas”, no primeiro dia da Expo Óptica. A oftalmologista Renata Alves destacou a importância da participação da família. “Quando a criança precisa de óculos, a família deve encarar esse acessório como um aliado e o papel do profissional da ótica é oferecer armações que sejam confortáveis e que contribuam para a autoestima da criança”, afirma.

A optometrista pediátrica Juliane Francesquini também reforçou a importância de uma abordagem lúdica para facilitar a adaptação e o uso contínuo dos óculos pelas crianças. “Uma dica que eu dou é referenciar o óculos como se ele tivesse super poderes.”

A Expo Óptica 2025
A miopia foi tema da mesa redonda Miopia Infantil: desafios das óticas Nara Ferreira EM/DA Press

Desafio da saúde visual 

Segundo o oftalmologista, CEO e fundador da Eyecare, Marco Negreiros, o Brasil enfrenta uma realidade alarmante: a distribuição de oftalmologistas nos municípios brasileiros não é equitativa. Para ele, esse dado escancara a dificuldade de acesso a um direito básico: o de enxergar bem, e revela um problema estrutural de saúde pública que afeta desde o rendimento escolar de crianças até a produtividade de adultos no mercado de trabalho.

“Uma das principais causas de evasão escolar e do analfabetismo é a falta de óculos. E, entre adultos, a ausência de correção visual compromete a performance profissional. Estamos falando de um impacto direto no PIB mundial”, afirma Marco, citando um estudo publicado pela The Lancet que estima em US$ 410 bilhões a perda global de produtividade devido à dificuldade visual não corrigida. 

Para enfrentar essa realidade, a Eyecare desenvolveu um ecossistema que conecta tecnologia, médicos e pacientes. A plataforma gratuita é voltada ao paciente - possibilitando que qualquer colaborador de empresas parceiras tenha acesso a prescrição digital validada por um dos mais de 1.800 oftalmologistas cadastrados. “Com esse suporte conseguimos também oferecer exames com validação médica e receita digital em cidades onde há escassez de oftalmologistas. É um modelo que respeita critérios clínicos, legislação e segurança do paciente, sem precisar da presença física em uma clínica”, explica Marco.

Esse cuidado também alcança as óticas, que passam a integrar esse ecossistema de forma ativa: ao identificar um cliente sem receita atualizada, é possível iniciar o processo de triagem e prescrição na hora, evitando a desistência da compra e combatendo práticas como a venda de óculos sem critério técnico. “Se a gente quer transformar a saúde visual no Brasil, precisa fazer isso com escala, tecnologia e segurança.”

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