A positividade tóxica, muitas vezes confundida com otimismo, pode ser extremamente prejudicial para quem pratica e, também, para quem convive com pessoas que tendem a ter esse comportamento -  (crédito: azerbajian_stockers/Freepik)

A positividade tóxica, muitas vezes confundida com otimismo, pode ser extremamente prejudicial para quem pratica e, também, para quem convive com pessoas que tendem a ter esse comportamento

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Enxergar o lado bom de situações adversas é uma saída para amenizar os danos emocionais que elas podem gerar. No entanto, exagerar nas atitudes positivas, como uma espécie de repetição, pode ser uma lente perigosa para observar o mundo.

A positividade tóxica, muitas vezes confundida com otimismo, pode ser extremamente prejudicial para quem pratica e, também, para quem convive com pessoas que tendem a ter esse comportamento. E infringir ou reprimir todo e qualquer sentimento negativo pode causar diversos efeitos psicológicos negativos.

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De acordo com Eliana Santos de Farias, professora doutora coordenadora do curso de psicologia do Centro Universitário Braz Cubas, é incerto afirmar de onde surge esse tipo de comportamento, mas ele está comumente relacionado com questões psicológicas pessoais.

“Seguramente está ali, no lugar de algum tipo de defesa emocional. Assim, a pessoa não precisa acessar suas inseguranças, imaturidade, conflitos e conhecimento raso ou inexistente sobre si e sobre o outro, bem como evitar responsabilidades, sobre si inclusive”, destaca a psicóloga.

Influenciadores digitais

Segundo a psicóloga, a prática da positividade tóxica, nos dias atuais, está muito relacionada com o desenvolvimento das relações entre influenciadores digitais e o público. Por exemplo, com a disseminação de rotinas altamente produtivas, alimentações regradas, metas facilmente alcançadas e avanços financeiros contínuos, sem considerar que esses êxitos não dependem unicamente de iniciativa e empreendedorismo e ignoram diversos marcadores sociais, como renda, entre outras variáveis.

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O resultado, afora mostrar alguma fragilidade no funcionamento emocional de quem pratica a positividade excessiva, é o distanciamento do público em relação ao outro. “Além de não contribuir para o enfrentamento das adversidades cotidianas”, menciona Eliana.

Como romper o ciclo e o valor da psicoterapia

Para romper com esse ciclo prejudicial, a professora defende que é necessário posicionamento e cautela: “É preciso entender que existem desigualdades bem reais em todo o mundo, seja em condições sociais e econômicas ou em rede de apoio socioemocional. É preciso se posicionar diante do que não nos faz bem”.

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Por isso, a psicoterapia é bastante recomendada nesses casos, uma vez que trabalha o autoconhecimento e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento assertivo e coeso. O tratamento profissional pode ter resultados muito positivos, levando a comportamentos pró-sociais e relações mais humanas e saudáveis consigo e com o próximo.

“É preciso compreender que avançamos não só em situações em que percebemos emoções e sentimentos positivos. De fato, quando me deparo com sensações, emoções ou mesmo sentimentos que nos parecem aversivos, temos aqui uma oportunidade de reconhecer nossos limites e aprender com eles. Quando isso acontece, estamos nos preparando para enfrentar situações semelhantes futuras e, assim, amadurecemos”, alerta a psicóloga.