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Bolsonarismo aparelha o Brasil, como fez Jair
Dinheiro do contribuinte estava sendo gasto enquanto os parlamentares se digladiavam sobre um tema que não afeta em nada a vida de quem habita a capital mineira
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15/03/2025 06:00
- atualizado em 15/03/2025 08:02
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“Pretendo beneficiar filho meu, sim”. A frase que saiu da boca de Jair Bolsonaro em julho de 2019, ao defender a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, é um exemplo singular sobre a forma como o ex-presidente geriu o país. No Palácio do Planalto, o capitão reformado do Exército fez jus a uma campanha quase integralmente baseada em uma pauta de costumes.
Aparelhou a máquina pública para investigar seus rivais políticos e atuar a seu favor nas eleições de 2022. E lotou a Esplanada dos Ministérios com figuras que colecionaram pérolas, semana após semana, com completo desconhecimento das áreas que deveriam comandar.
Com Jair já fora do poder e na iminência de uma condenação criminal por tentativa de golpe de Estado, o bolsonarismo segue vivo e, tal como seu líder fez com o Executivo federal, toma de assalto a pauta pública para discutir temas que ao seu líder interessam.
Na última quinta-feira (13/3), a Câmara Municipal de Belo Horizonte gastou toda uma tarde de sessão no plenário para discutir o envio de duas moções de apoio à anistia aos presos pelos atos antidemocráticos e vândalos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Os documentos serão enviados aos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que devem solenemente guardar a nobilíssima manifestação em alguma gaveta de seus gabinetes.
O dinheiro do contribuinte estava sendo gasto enquanto os parlamentares de BH se digladiavam sobre um tema que rigorosamente não afeta em nada a vida de quem habita a capital mineira. Não é a primeira vez do ano e não será a última. A nova legislatura na cidade está absolutamente atenta aos caríssimos temas belo-horizontinos de evitar que crianças frequentem o carnaval. Ou ainda que a prefeitura encerre o nunca iniciado financiamento a shows musicais com incitações ao crime e à pornografia.
As iniciativas de projetos como a lei anti-Oruam, o combate à “cristofobia”, a proibição de crianças em eventos LGBTQIAPN+ e uma série de medidas de restrição ao carnaval não são exclusividade da capital mineira. Os parlamentos de grandes centros como São Paulo, Cuiabá, Campo Grande, Goiânia, Porto Velho, Salvador, Vitória, entre outros, também tratarão sobre estes temas que em nada versam sobre a vida nas metrópoles brasileiras, tão caóticas e desordenadas.
A ação orquestrada do bolsonarismo para pautar a agenda de costumes e, agora, a anistia aos condenados pelo 8 de janeiro sequestram a discussão localizada, como se a política só pudesse existir para servir aos interesses ultraconservadores à defesa do ex-presidente.
Amanhã, no ato comandado por Jair em Copacabana, todos os discursos descentralizados nas Casas legislativas pelo Brasil se concentrarão na Zona Sul carioca, de onde será possível também antecipar a argumentação que irradiará pelo país pela voz dos milhares de bolsonaristas eleitos em 2024.
A postura de tratar o jogo eleitoral como um tabuleiro de War vem do próprio Jair Bolsonaro, que não esconde que, depois de tentar viabilizar sua candidatura à Presidência da República em 2026, seu principal foco é eleger senadores por todo o país. Para tanto, se esforça para concretizar movimentos como lançar seu ex-superministro da Economia e “Posto Ipiranga”, Paulo Guedes, por Minas Gerais, mesmo que o “Chicago Boy” não tenha qualquer conexão com o estado.
Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) não termina seus julgamentos e o pleito do ano que vem não chega, o que se pode abstrair da atual legislatura municipal ao redor do Brasil é que Bolsonaro, com ou sem sua caneta Bic, consegue aparelhar o país.
Alckmin piadista
Geraldo Alckmin (PSB) segue em seu “rebranding” iniciado na campanha eleitoral de 2022. Ao lado de Lula nos palanques, o vice-presidente aposta desastradamente em sua versão descontraída. Na terça-feira (11/3), durante as visitas presidenciais a Betim e Ouro Branco, ele fez piadas para encerrar seus discursos. Primeiro, começou com uma charada: “Por que a estrela não mia? Porque astronomia”. Na segunda visita, o ex-tucano brincou com um líder sindical presente no evento e declarou, aproveitando a proximidade com o carnaval que “é dos carecas que elas gostam mais”, em referência à antiga e infame marchinha.
O último comunista
Na semana passada, a visita de Lula ao acampamento do MST em Campo do Meio, no Sul de Minas, marcou uma reaproximação do presidente com suas bases e, nesse sentido, o reencontro com velhos companheiros. Por exemplo, em meio à chegada do presidente ao evento, o líder histórico do movimento, João Pedro Stédile, não escondeu sua euforia ao encontrar o deputado federal Rogério Correia (PT-MG). Ao ver o parlamentar, ele abriu os braços e bradou com forte sotaque puxando os erres “Rogério! O último comunista das Minas Gerais”.
Licença renovada
Fuad Noman (PSD) está fora da Prefeitura de Belo Horizonte sob efeito da quarta licença médica desde janeiro. Os documentos que mantêm Álvaro Damião (União Brasil) como prefeito em exercício têm sido ampliados de 15 em 15 dias e uma nova renovação do afastamento deve ser emitida na próxima semana. Desta vez, porém, o atestado deve ser mais longo, por mais de duas semanas.
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Concessão
Com a privatização já assinada e as primeiras obras em andamento na BR-381 entre BH e Governador Valadares, os trabalhos do Movimento Pró-Vidas BR-381 passaram da cobrança pela concessão para a fiscalização do cumprimento do contrato. Na quinta-feira (13/3), membros do grupo se encontraram com representantes da concessionária Nova 381 e apresentaram suas demandas em relação ao cronograma de intervenções na “Rodovia da Morte”.