NOSSA HISTÓRIA, NOSSO PATRIMÔNIO

Joias tecidas com fé e nobreza

Arquidiocese de Mariana guarda um presente do imperador dom Pedro II, a capa e a túnica de Nossa Senhora das Dores, e busca especialista para restaurá-las

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De Mariana – No ofício de repórter, temos oportunidades de ver o que está distante dos olhos da maioria das pessoas – é a profissão nos conduzindo a múltiplos lados da vida, com surpresas, novidades e, muitas vezes, admiração pelo mais belo da criação humana. Pois foi com puro encantamento que contemplei a túnica e a capa pertencentes à imagem de Nossa Senhora das Dores, da Catedral Basílica Nossa Senhora da Assunção, em Mariana, cidade em festa pelos 280 anos da primeira diocese de Minas.
Em veludo, com bordados em fios de ouro, adornados por pedras preciosas, capa e túnica, procedentes de Portugal, ficam sob guarda do Museu de Arte Sacra da Arquidiocese de Mariana, e há quatro décadas não saem nas procissões ou são expostas. Foram um presente do imperador dom Pedro II (1825-1891), último monarca a governar o Brasil e que, também neste mês, tem a memória reverenciada no Bicentenário de nascimento. Em 1881, ele viajou durante 35 dias por Minas na companhia da imperatriz Teresa Cristina (1822-1889).

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Ao lado da museóloga da arquidiocese, Fabiana Martins Souza, o pároco e reitor da catedral, padre Geraldo Dias Buziani, mostra a necessidade de restauração das peças ofertadas a Nossa Senhora das Dores. O desgaste causado pelo tempo deixou marcas – partes rasgadas, fios de ouro e alguns motivos se desprendendo – sendo necessário um especialista para fazer o delicado serviço. “Em Minas, há muita gente trabalhando com madeira e outros materiais, mas com tecido é muito difícil encontrar. Localizei um no Rio de Janeiro, embora com um custo muito alto”, diz o reitor.
Para abrir o caminho e resolver a questão, vai aqui a informação apurada pela coluna. A Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em BH, tem duas especialistas em conservação e restauração de têxteis.

FIOS DE OURO

Na reserva técnica do Museu de Arte Sacra, Fabiana Martins mostra, com cuidado, as vestes, e meus olhos brilham diante da riqueza de detalhes, do valor histórico e do significado da capa e túnica para a devoção popular. Foram muitos cortejos da Semana Santa, a Procissão do Encontro com Jesus, tantos pedidos a Nossa Senhora e tantas graças alcançadas. História, fé e emoção impregnam o manto.
Conforme a ficha de inventário, a túnica de veludo roxo, de mangas curtas e barra virada para dentro, é revestida nas partes bordadas por algodão cru, tendo na parte interna cetim verde. Na barra, há motivos de folhas estilizadas feitos com fios de ouro entrecruzados. A parte frontal, partindo da barra até a gola, é marcada por motivos florais e foliares feitos em brocado e fios de ouro entrecruzados e interligados. Ramagem também em fios de ouro contornam as letras M e A, com destaque para lantejoulas e pedras incrustadas de diversas tonalidades. A parte final das ramagens é marcada por uma flor incrustada por pedras brancas e verdes, e o miolo traz uma grande pedra lapidada.
Já a capa de veludo, na cor vinho, apresenta fios de ouro entrecruzados, tendo ao centro motivos formados por lantejoulas. Toda a peça é demarcada por motivos florais e foliares que se entrecruzam nos ramos em alto relevo. Há também pequenos desenhos em prata.
Tomara que as peças sejam restauradas logo para que brasileiros e estrangeiros possam admirar e conhecer mais sobre o vasto patrimônio de Minas. E que o reitor e pároco da catedral se acerte com a Escola de Belas Artes da UFMG para ficar tudo por aqui mesmo.

 

MAGIA DO PERÍODO NATALINO TEM...

Um dos maiores atrativos do Natal em BH, o Presépio do Pipiripau, patrimônio cultural e artístico, está de portas abertas, gratuitamente, para receber moradores e visitantes: de quarta-feira a sábado, das 8h30 às 16h (para entrar, podendo ficar no local até as 17h). Localizado no Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Bairro Santa Inês, na Região Leste, o Pipiripau foi criado ao longo de mais de oito décadas pelo artesão Raimundo Machado Azeredo (1894-1988). Reinaugurado em 2017, após cinco anos fechado, ele reúne religiosidade, cultura, história, beleza e muita criatividade. Com 586 figuras móveis em 45 cenas, o inventivo e movimentado presépio conta a história da vida e da morte de Cristo, alinhado ao cotidiano de uma cidade com sua variedade de artes e ofícios. Estão lá o nascimento do Menino Jesus, a chegada dos três reis magos, a santa ceia, a crucificação, Judas se enforcando e a ressurreição, com os anjos.

...ENDEREÇO CERTO EM BELO HORIZONTE

Em dezembro, o Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG (Rua Gustavo da Silveira, 1.035, Bairro Santa Inês) tem agenda variada, com atividades culturais e educativas, gratuitas, para celebrar o período natalino e as tradições mineiras. Além do Pipiripau, há oficinas lúdicas e apresentação de Folia de Reis. Nos próximos dias 18 e 19 (das 9h30 às 11h e das 14h às 15h30), tem “Brinquedos e brincadeiras no Museu”, enquanto no dia 20 (das 8h às 13h) haverá Giro Folia de Reis.


(PAREDE DA MEMÓRIA)

O espaço de hoje traz mais um capítulo – e bem positivo – de uma história que se alonga por muitos anos. Confirmando acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), a ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Maria Thereza de Assis Moura, manteve a decisão que reconhece a obra "Busto de São Boaventura", de Aleijadinho, como parte do conjunto criado pelo artista para a Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto. A ministra determinou a reintegração da peça ao acervo de origem, sob a guarda do Museu Aleijadinho e da Arquidiocese de Mariana. O caso teve início com uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais, após a constatação de que a obra – pertencente ao conjunto de quatro bustos relicários criados por Aleijadinho em homenagem aos doutores franciscanos – estava em uma coleção particular. Foram processados o comprador da obra, que a adquiriu em 2005, e as herdeiras do colecionador, responsáveis pela venda. Assim escreveu a ministra: “A referida peça está fora do comércio, é um bem tombado de circulação restrita, devendo ficar sob a guarda da Arquidiocese de Mariana, no Museu Aleijadinho. É, portanto, um bem incorporado ao patrimônio público cultural, protegido, inalienável e sujeito à tutela pública".


HISTÓRIA DO TROMPETE

Mineiro de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, o músico Tiago Viana apresentou em Lyon, na França, sua pesquisa de doutorado (em andamento) que tem como tema a história do trompete em Minas Gerais, nos séculos 18 e 19, com ênfase no ocorrido na antiga Vila Rica (atual OP). No trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos, ele investiga acervos das bandas de música de Ouro Preto, do Museu da Inconfidência, do Museu da Música de Mariana, o Acervo Curt Lange (UFMG) e demais instituições que têm documentação relacionada à música praticada em Minas no período que estuda. "A divulgação dessa pesquisa é de relevância histórica significativa, pois são poucos os trabalhos que abordam a história do trompete no Brasil e ainda há um campo muito vasto a ser explorado", diz o músico, que participou da conferência do Historic Brass Society, em Lyon, em homenagem aos 200 anos de nascimento de Jean Baptiste Arban (1825-1889) e Julius Kosleck (1825-1905). Considerado o "pai da técnica do trompete moderno", Arban foi professor do Conservatório de Paris e escreveu o método para trompete mais difundido no mundo até os dias atuais.

MANUAL DE PRESERVAÇÃO

“Mãos, madeira e barro” é o nome do manual e do documentário recém-lançados na ex-capital de Minas. Os trabalhos inéditos orientam sobre a preservação de paredes de pau a pique, estuque e tabique na cidade que é patrimônio mundial. Coordenação editorial de Adelaide L.N. Dias e Fernando P. Cardoso, responsáveis pela empresa A Pique Arquitetura e Memória. O projeto foi realizado em parceria com a Ambiental Pesquisas e Projetos e tem apoio da Plataforma Semente, da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais e do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). As publicações trazem diretrizes técnicas essenciais para preservação das paredes mistas que definem a arquitetura tradicional de Ouro Preto, com todas as suas variantes e extraordinária riqueza. Mais informações: arq.apique@gmail.com ou pelo instagram @apique.arquitetura

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PATRIMÔNIO

Muitas atividades amanhã (16/12), das 9h às 21h, no evento "12 horas com o Patrimônio", no Centro do Patrimônio Cultural de Minas Gerais (Prédio Verde do Iepha-MG), na Praça da Liberdade, em BH. Exposição, debates, rodas de conversa, oficinas, apresentações musicais, visita guiada e sarau estão na programação. Realização do governo de Minas, via Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e Iepha, e Appa – Cultura e Patrimônio. O objetivo é valorizar "saberes, fazeres, sabores e sons mineiros".

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