Feira no Expominas destaca sustentabilidade do artesanato brasileiro
Evento reúne artesãos de todo o Brasil e se mostra como uma possibilidade para a compra de presentes para o Natal deste ano. A Feira segue até domingo (7)
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Este domingo (7/12) é o último dia para visitar a 36ª Feira Nacional de Artesanato, que funciona das 10h às 22h no Expominas, localizado na Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte. “É inspirador, e uma grande oportunidade de comprar presentes de Natal inusitados, que sempre agradam, e a gente sai daqui encharcada de criatividade e inspiração”, avaliou a relações públicas Ana Laura Guimarães, visitante frequente do evento.
O tema central neste ano é a sustentabilidade, o que, na análise de Ana Laura, é uma questão intrínseca no artesanato. “Eu vi ali uma cooperativa de mulheres que faz um trabalho de bordado e você vê como aproveita cada linha, cada coisa, para criar algo muito especial. Tem muita coisa de reaproveitamento e sustentabilidade, mas acho que, não só esse ano, com essa temática, quando a gente fala em artesanato, sempre temos essa questão”.
Para a cantora Merian Marangon, a sustentabilidade não está no trabalho de todos os artesãos: “Eu me preocupo com o uso de alguns elementos de forma não tão apropriada, como a da madeira. A gente tem, por um lado, que é a manifestação cultural do povo indígena, mas, por outro lado, fica a preocupação se essa madeira é de replantio”. Merian também se diz preocupada com o consumo descartável desses objetos, se seu uso será duradouro ou apenas uma moda, que daqui a algum tempo serão descartados.
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A visitante Luiza Marcela Mesquita Pereira, que trabalha na Casa Cultural Dona Antônia, em Betim (MG), na Região Metropolitana, veio à feira focada na sustentabilidade. A ONG produz artesanato, como brincos e carteiras, com o reaproveitamento de couro que seria descartado.
Além da sustentabilidade, alguns feirantes que preferiram não se identificar criticaram o número de estandes da 36ª Feira Nacional de Artesanato que vendiam panelas e itens de utilidade doméstica industrializados. “O curador tem que tomar muito cuidado com isso. A gente sabe que, para viabilizar uma feira, é necessário que tenha muita gente para custear, mas esse cuidado deve ser tomado. Se começar a abrir muitas exceções a feira se torna desinteressante”, pontuou Ana Laura Guimarães.
Madeira, sementes, barro e fibra dão o tom da sustentabilidade
A artesã indígena Sotome Patachó, de Porto Seguro (BA), trouxe para a feira não só o artesanato do povo Pataxó, mas também de outros povos, para dar visibilidade para os que não têm condição de sair do estado.
De acordo com Sotome, os artesãos colocam sua espiritualidade nas biojoias, feitas de sementes, para a proteção de quem vai usar. “Utilizamos muita madeira, sementes, mas nós não cortamos um tronco para criar a nossa arte, nós reaproveitamos o que a Mãe Natureza está devolvendo. As sementes nós tiramos na hora certa”, explicou a artesã.
Artesã de Turmalina (MG), no Vale do Jequitinhonha, Maria Zélia Gomes da Silva explica que as bonequinhas típicas daquela região são feitas apenas com barro e água. “Tirando o preto, a tinta também é feita com barro. Também não usamos pincel, mas a menor pena da galinha”, mostrando que seu trabalho artesanal convive em plena harmonia com a natureza. Ela pertence à Associação dos Artesãos de Coqueiro Campo, com 48 ceramistas, e diz que o item que mais gosta de modelar são os filtros d’água.
Andando pela feira é possível que o visitante “trombe” com uma apresentação de Bumba Meu Boi ou, também ao vivo, encontre o artesão Osvaldo Inácio de Souza fazendo belas esculturas de animais com um simples canivete.
Carreiro de profissão, há cerca de 35 anos ele começou a fazer artesanato em madeira, tendo iniciado justamente esculpindo pequenos carros de boi, quando o trabalho na roça “minguou”. Natural de São Thomé das Letras, mas morando em Três Corações, ambas no Sul de Minas Gerais, Osvaldo explica que usa a madeira plantada Kiri, que tem rápido crescimento e bom aproveitamento.
Outra arte possível de ser vista em funcionamento é um tear manual. “No resgate da tradição mineira, mantendo técnicas que o tear elétrico não consegue fazer, nós usamos matérias primas que trazem valor agregado ao produto. Nós também fazemos peças exclusivas”, explica Igor Ferreira Machado, sócio-proprietário da Mineira Arte Artesanatos, uma tecelagem de Conceição da Aparecida, no Sul de Minas.
No Norte do estado, em Jaíba, a fibra de bananeira transforma itens que seriam descartados em arte. Pneus viram pufes e mesinhas. A grade de um ventilador vira fruteira. “Eu precisava adquirir um dom e Deus me deu esse. Através da minha arte eu criei dois filhos e me curei de uma depressão”, conta Sirlene Soares dos Reis Pereira, que conheceu a técnica em um curso oferecido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG). A artesã explica como obtém fibra de bananeira: corta o tronco, extrai a capa, deixa secando ao sol para depois enviar para a tecelagem.
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A feira também tem estandes de bebidas e alimentos. Os doces artesanais de Atibaia (SP) também deixam o visitante com água na boca. “O carro-chefe é o Pastel de Belém, uma massa folhada com creme de nata, mas também temos doces alemães, árabes e cristalizados”, enumera Fernanda Cláudia Silva Faria.
A marca paulista Pioneira, produzindo há 38 anos em Socorro, teve a ousadia de trazer suas cachaças de alambique para Minas Gerais. Já sob a administração da segunda geração familiar, eles apresentam um portfólio criativo, com destaque para a Cachaça na Cana, onde o caule é colocado junto com a cachaça, resultando em uma espécie de licor; e a cachaça Dom João, envelhecida por seis anos em barricas de carvalho americano Jack Daniels de segundo uso, garante o produtor Jeferson de Souza Morais.