Nos últimos anos, o Bairro Palmital, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, vive uma guerra de gangues, sendo quatro no total: “Amália”, identificada como parceira do PCC (Primeiro Comando da Capital), “Setor 6”, “Nicácia” e “Hot Boys”. Durante a Operação Caniço, da Polícia Civil, que envolve policiais de duas delegacias, Deoesp (Departamento de Operações Especiais) e DHPP (Departamento de Investigações de Homicídios e Proteção à Pessoa), na manhã desta terça-feira (18/11), 13 pessoas foram presas, três mulheres e 10 homens, sendo três chefes de organizações criminosas, dos quais um deles, o chefe da “Amália”´(conhecido por “Gordo”), foi preso em Curitiba (PR).

As investigações, segundo o delegado Álvaro Huertas, seguem com o objetivo de identificar as ligações desses rivais, além de prender outros integrantes das facções, já identificados, mas que ainda estão foragidos.

Imagens

“Em julho, tivemos, no Bairro Palmital, a realização de uma festa junina tradicional, “Arraial do Campo”. Nessa comemoração, aparecem, nas imagens, alguns integrantes de gangues exibindo armas. São imagens frequentemente mostradas no Rio de Janeiro. Não aqui”, diz o delegado Huertas.

As imagens foram veiculadas em agosto de 2024, o que chamou a atenção da Polícia Civil, segundo o delegado. A partir dessas imagens, a polícia conseguiu identificar os homens que desfilavam com as armas. “Foram o ponto de partida”.

“Essas imagens chegaram até a polícia, enviadas por moradores, que ficaram apavorados e se sentiam ameaçados e desprotegidos”, conta o delegado.

Na investigação, não só os criminosos foram identificados, como a polícia conseguiu chegar à identificação das gangues, que são rivais, principalmente, detectar a ligação da “Amália” com o PCC.

Guerra

Segundo o delegado Huertas, ss quatro gangues guerreavam, no Palmital, pelos pontos de vendas de drogas, as chamadas “bocas de fumo”. Mas a investigação levou a outras descobertas. “Elas faziam lavagem de dinheiro. Criavam empresas fantasmas, mas não durava muito”, diz ele.

A partir daí, a polícia entendeu a dinâmica das operações das gangues. As empresas fictícias eram criadas virtualmente. “Eram sempre no Paraná e em Rondônia, para despistar as investigações”, afirma o delegado. Tais empresas eram abertas e fechadas menos de um ano depois, usadas apenas para a lavagem de dinheiro. Foi assim que a polícia descobriu, também, que o capital de abertura era de apenas R$ 30 mil, mas a movimentação financeira de cada uma, ultrapassa, e muito, esse valor.

Além disso, o maior negócio de cada uma das empresas era a compra de drogas, só que no exterior. O dinheiro obtido, segundo o delegado, era colocado nas empresas de fachada, por isso a grande movimentação de dinheiro.

Mortes

Outros crimes ajudaram nas investigações, como a morte de um menor, Robert Aquino Oliveira, de 17 anos, em janeiro deste ano, na chamada “Praça da Savassi”, no Palmital. 

Na época, chamou a atenção da polícia o fato de o crime ter ocorrido num horário peculiar, no início da manhã, num momento em que a Praça da Savassi está com uma grande circulação de pessoas que se dirigem ao trabalho. As investigações, no entanto, mostraram que o autor, um homem identificado como Iago, de 29 anos, preso em 11 de junho último, integrava uma gangue que era rival da que pertencia à vítima.

Quando foi morta, a vítima estava sentada no meio-fio, quando Iago se aproximou e atirou. A vítima teve morte imediata, enquanto o suposto atirador fugiu. O local da morte era ponto de venda de drogas.

Um outro crime ocorreu também em decorrência da guerra das gangues. Novamente um adolescente, de 16 anos, foi assassinado, no Bairro Palmital, em 24 de outubro passado. Ele foi assassinado com 10 tiros na cabeça.

Segundo a família da vítima esteve numa unidade socioeducativa e lá, foi convidado, por outro interno, para vender drogas no Palmital. Tão logo saiu, o adolescente, que morava no Bairro Serra Verde, se mudou para o Palmital. A polícia descobriu que ele era integrante de uma das gangues.

Existe uma outra morte, segundo o delegado Huertas, que faz parte das investigações - de um chefe da gangue “Hot Boys”, morto num laboratório de drogas, em São Paulo, durante um confronto com a Polícia Militar daquele estado.

Números da operação

Um total de 100 policiais civis participaram da Operação Caniço, na manhã desta terça-feira, que incluiu 80 ordens judiciais. Foram cumpridos 13 mandados de prisão de 20 emitidos pela Justiça. Os mandados de busca e apreensão foram 25, além de 35 ordens judiciais nos quais incluem sequestros de bens e arresto de bens. “Apreendemos R$ 20 mil em dinheiro vivo, cinco veículos, sendo três carros e duas motocicletas. Foi feito o bloqueio de R$ 6,5 milhões e 80 CPFs foram bloqueados”, diz o delegado.

Estado seguro

Letícia Gamboge, chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, exalta a Operação Caniço. “Aqui, em nosso estado, bandido não tem vez. esse é o nosso lema, o nosso ideal." Segundo ela, a Polícia Civil tem como objetivo manter o estado seguro e exalta a participação da população, a partir de denúncias anônimas.

As pessoas podem fazer as denúncias pelo número de telefone 181. O sigilo é garantido. Há também um sistema de envio pela internet, na nossa delegacia virtual, através do endereço https://delegaciavirtual.sids.mg.gov.br/sxgn/.

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