Pedágio na BR-381 começa a ser cobrado neste sábado (27)
A partir da meia-noite de hoje, motoristas que trafegarem pela BR-381, entre BH e Governador Valadares, pagarão pedágio nas praças de Caeté e João Monlevade
Jornalista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Repórter de Gerais com passagem na equipe de redes sociais, além de apoio em áreas como Cultura, Tecnologia, Nacional e Internacional como estagiária.
Pedágio em João Monlevade crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press
A cobrança de pedágio no modelo free flow começa a valer na BR-381 à meia-noite deste sábado (27/9), com a entrada em operação de duas praças, uma em Caeté (Km 411), na Grande BH, e outra em João Monlevade (Km 345), na Região Central. Até novembro, outras três praças devem ser ativadas em Jaguaraçu e Belo Oriente, no Vale do Aço, e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. O trecho conhecido como “Rodovia da Morte” é administrado desde 6 de fevereiro pela concessionária Nova 381, que obteve autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), no último dia 16, para iniciar a cobrança de pedágios nas duas primeiras praças.
O sistema eletrônico não exige parada em cancelas. A cobrança é feita pela leitura da placa ou por TAG em um pórtico instalado sobre as pistas. Para veículos de passeio, a tarifa pode chegar a R$ 28,40 na soma das duas praças, enquanto caminhões com reboque e caminhão-trator com semi-reboque de oito eixos pagam a tarifa mais cara, um total de R$ 227,20. Motociclistas terão passe livre. A novidade divide opiniões. Motoristas relataram melhora no asfalto e aprovaram a rapidez do sistema, mas criticaram o preço e a ausência de duplicação em todo o trecho. Entidades e políticos também pedem a suspensão da cobrança do pedágio até que obras estruturais sejam concluídas.
O técnico de segurança e administrador de empresas Sebastião Caetano, de 58 anos, tem um sítio na região de João Monlevade e estava indo para Sete Lagoas, nessa quarta-feira (24/9), quando foi abordado pela reportagem do Estado de Minas. “A estrada melhorou muito, o asfalto ficou bem melhor. Só achei o preço salgado, poderia ser entre R$ 8 ou R$ 10”, afirma.
Everson Marine, 31 anos, motorista Leandro Couri/EM/D.A Press
Já o motorista de ônibus de turismo Everson Marini, de 31, discorda da implementação do pedágio na rodovia. Para ele, só deveria ser cobrado após a duplicação total. “Apesar de a rodovia ter melhorado, com um asfalto melhor e boa sinalização, a via ainda é de mão dupla. Então, continua sendo muito perigosa.”
Opinião compartilhada pelo taxista Sérgio Luiz do Prado, de 58, que regularmente passa na rodovia. “Vire e mexe tem acidente nesta região, continua sendo um risco para quem passa aqui em João Monlevade”, argumenta.
Sergio Luiz do Prado, 58 anos, taxista Leandro Couri/EM/D.A Press
Como funciona a cobrança
A concessionária Nova 381 explica que a cobrança é feita pelo modelo free flow, que cobra automaticamente por meio da leitura da placa ou da TAG eletrônica. Equipamentos de monitoramento instalados em pontos da via fazem a captura dos dados dos veículos que passam no local do pedágio.
O modelo free flow, anteriormente instalado apenas na MG-459 em Monte Sião, no Sul do de Minas, foi anunciado no trecho da BR-381 no fim de agosto, com a proposta de agilizar o tráfego, uma vez que os motoristas não precisam parar para efetuar o pagamento da tarifa. O tipo de pedágio, já é utilizado em rodovias estaduais de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Ele foi instalado em Minas Gerais pela primeira vez em julho do ano passado.
Descontos progressivos
Motociclistas estão isentos Leandro Couri/EM/D.A Press
Para veículos com TAG nada muda: a passagem será debitada normalmente pela operadora e haverá dois tipos de desconto. Automóveis e caminhões com TAG (como Sem Parar, ConectCar, Veloe, entre outros) terão Desconto Básico da Tarifa (DBT) de 5%. Para automóveis, exclusivamente, haverá o Desconto de Usuário Frequente (DUF).
Nesse caso, a partir da segunda passagem pelo mesmo pórtico, no mesmo sentido e dentro do mesmo mês, o usuário passa a receber descontos adicionais e progressivos sobre a última tarifa paga. Quando atingir a 30ª passagem, o valor com desconto se mantém fixo até o fim do mês. O cálculo do DUF pode ser feito no site da concessionária (https://nova381.com/tarifas-e-descontos/).
Onde e como pagar
Serviço de Atendimento ao Usuário (SAUs) Leandro Couri/EM/D.A Press
Caso o usuário faça a opção de pagar após a passagem pelos pórticos, a Nova 381 instalou 25 totens de pagamento ao longo do trecho entre Caeté e Governador Valadares. Os equipamentos estão disponíveis em postos de combustíveis, restaurantes e nas sete unidades do Serviço de Atendimento ao Usuário (SAUs).
Por meio do totem, o usuário digita a placa do veículo, verifica as passagens e valores em aberto. Depois, pode efetuar o pagamento utilizando PIX, cartão de crédito ou débito. O valor estará disponível para consulta no sistema em, no máximo, duas horas após a passagem pelo pórtico.
Além disso, os totens exibem um QR Code que direciona o usuário para baixar o aplicativo da Nova 381. Com o app, é possível realizar o pagamento sem parar na rodovia, via PIX ou cartão de crédito.
De acordo com o gerente de Operações da Nova 381, Diego Dutra, o totem é fundamental para facilitar o pagamento dos usuários que preferem pagar o pedágio de maneira presencial, com praticidade e agilidade. Caso o usuário não pague dentro de um prazo de 30 dias, será considerado evasão de pedágio, infração grave pelo Código de Trânsito Brasileiro, sujeito à multa de R$ 195,23 e cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do infrator.
Mais caro e mais rápido
Pedágio em João Monlevade Leandro Couri/EM/D.A Press
Apesar das manifestações contrárias à cobrança de pedágio, especialmente de moradores de Caeté, na Grande BH, que reclamam do gasto na ida e na volta para a capital mineira, que fica a uma distância de 57 quilômetros, especialistas avaliam como positiva a instalação do sistema free flow, principalmente pela fluidez no trânsito de veículos, sem, no entanto, entrar no mérito dos custos recorrentes para os usuários. No caso de Caeté, os moradores terão um gasto de R$ 31, a cada viagem a BH, sendo R$ 15,50 na ida e R$ 15,50 na volta, no caso da tarifa mais barata para automóveis .
A motorista Poliana Ribeiro, de 40, que trabalha com viagens particulares, saiu de Ipatinga rumo à capital mineira. Ela elogiou a agilidade do sistema free flow, no qual o motorista não precisa parar para pagar. “A estrada melhorou bastante, até achei o preço justo. Só que poderiam duplicar, igual fizeram em Caeté”, reivindica.
Em entrevista ao EM, o professor Marcelo Franco Porto, do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia (ETG) da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a adoção do pedágio free flow economiza tempo. Segundo o engenheiro, a ausência de cancela beneficia não só os motoristas, como as concessionárias, já que diminui custos com infraestrutura e mão de obra.
Porto reforça que a eliminação da infraestrutura física das praças de pedágio permite a integração com sistemas inteligentes de transporte para contagem de fluxo e tráfego, podendo até ser utilizada inteligência artificial (IA). Conforme o especialista, a ausência de paradas nas cancelas reduz o tempo de viagem e melhora a eficiência. Ele menciona, ainda, a implementação bem-sucedida desse modelo em shoppings.
Embora existam desafios tecnológicos, como a necessidade de conectividade constante em áreas com sinal de internet fraco, Marcelo Porto acredita que a tecnologia já existente em outros países, como Estados Unidos e outros da Europa, pode ser adaptada. Ele sugere, inclusive, a possibilidade de implantar pedágios free flow em trechos menores, o que reduziria o custo para o usuário nesses trajetos mais curtos.
Suspensão
No último dia 15, deputados, prefeitos, vereadores e lideranças políticas de Minas Gerais protocolaram no Tribunal de Contas da União (TCU) pedido para suspensão da cobrança de pedágio na BR-381. A representação questiona a legalidade de iniciar a cobrança antes da conclusão das obras de duplicação, manutenção e sinalização no trecho.
Eles também protocolaram o pedido de suspensão da cobrança ao Ministério Público Federal (MPF). Nas redes sociais, o deputado estadual Christiano Xavier afirmou, nessa quarta-feira (24), que os pedidos ainda seguem em análise.
O pedido conta com a assinatura do deputado estadual Christiano Xavier, dos prefeitos Waldir José dos Santos (Nova União), Wanderlei dos Santos Ribeiro (Bom Jesus do Amparo) e Alberto Nazaré Pires (Caeté), além do vereador Magno Augusto Motta Macieira Drumond (Bom Jesus do Amparo), da advogada Rosilene Félix Guimarães e do vereador Luiz Henrique Consoli Souza (Santa Bárbara).
De acordo com a denúncia, a tarifa pode representar até R$ 600 por mês para trabalhadores que utilizam a estrada diariamente, sendo que a BR-381 é considerada uma das estradas mais perigosas do estado. Em agosto, um funcionário de uma empresa terceirizada da concessionária morreu em acidente no trevo de Caeté, fato citado pelos denunciantes como exemplo da insegurança do trecho.
A representação pede a suspensão imediata da cobrança nos cinco pedágios previstos (Caeté, João Monlevade, Belo Oriente, Jaguaraçu e Governador Valadares); realização prévia de obras estruturais em toda a rodovia; isenção para moradores do entorno das praças; reavaliação do modelo de cobrança automática; estudos detalhados sobre o impacto socioeconômico na população.
Toten do Posto Amigão Leandro Couri/EM/D.A Press
Serviço de Atendimento ao Usuário (SAUs) de São Gonçalo do Rio Abaixo Leandro Couri/EM/D.A Press
Pedágio começa a ser cobrado neste sábado (27) Leandro Couri/EM/D.A Press
Vista aérea do pedágio em João Monlevade Leandro Couri/EM/D.A Press
Toten ficará em alguns restaurantes Leandro Couri/EM/D.A Press