LUZ QUE NÃO SE APAGA

BH: saiba o significado de um dos letreiros da Festa da Luz

De 14 a 17 de agosto, o evento transforma o centro da capital mineira com arte, tecnologia e diversidade. O destaque é a obra de Amara Moira, em pajubá

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Belo Horizonte será entre esta quinta-feira (14/8) e domingo (17/8) palco de uma ocupação poética e tecnológica: a Festa da Luz 2025, que chega à sua maior edição com 13 instalações de arte e luz espalhadas pelo hipercentro da cidade.

Totalmente gratuito, o festival celebra as culturas urbanas com performances, shows, video mapping e obras inéditas - entre elas, um letreiro da escritora e ativista Amara Moira, escrito inteiramente em pajubá, a linguagem cifrada da população travesti e LGBTQIA+, com os dizeres: "Aqüenda o edi da mona cá gritando nesse oxó do axé". 

A obra de Amara, que significa "vejam só como o meu buzanfã chama atenção nessa roupa que traz sorte", além de ser visualmente impactante, é também um manifesto. Em letras luminosas e expressão carregada de história, o letreiro ilumina uma linguagem marginalizada e profundamente política, nascida da necessidade de comunicação e sobrevivência em tempos de repressão. 

"Mais do que palavras, vejo como um gesto: dizer que nossos corpos, historicamente empurrados para as margens, estão aqui, iluminando o coração da cidade de Belo Horizonte com a potência de quem sobrevive e cria", conta Dandara Rocha, de 31 anos, mestranda em Direito e pesquisadora trans da UFMG. "É arte, mas também é política: um lembrete de que a luz do axé não se apaga e que a cultura travesti é parte viva da paisagem urbana".

A rua fala bajubá

Com origem em línguas africanas como o iorubá e o nagô, o pajubá - ou bajubá, com "b" - combina termos ancestrais com gírias inventadas nas ruas, nas casas noturnas, nos salões de beleza, nas esquinas e becos ocupados pelas travestis brasileiras. É uma língua de segredo e de poder, que ao longo de quase 50 anos circula como um código entre pares e um gesto de autoafirmação diante da exclusão social.

"É uma linguagem cifrada que surgiu durante a ditadura, criada pelas travestis como forma de resistência à violência do Estado", afirma o professor e pesquisador Juarez Guimarães Dias, da UFMG.

"O pajubá não é só uma forma de comunicação. É um modo de pensar, de sentir o mundo e de romper com as normas coloniais da língua e da sociedade", explica Dandara.

A mestranda destaca o caráter revolucionário do letreiro exposto na Festa da Luz. Para ela, colocar uma frase em pajubá no centro da cidade é também devolver à rua - território historicamente travesti - sua potência política. "Essa é uma linguagem de resistência, de sobrevivência, de identidade. Quando ela é projetada em luz, em meio ao espaço urbano, ela se torna também linguagem de futuro", comenta.

Voz travesti na literatura e no espaço público

Autora do aclamado "E se eu fosse puta" e do recente Neca, romance inteiramente escrito em bajubá e publicado pela Companhia das Letras -, Amara Moira é hoje uma das maiores referências no estudo e na criação literária a partir da linguagem travesti.

"A Amara não só pesquisa o bajubá, como o transforma em ferramenta poética, política e estética. Ela faz da linguagem um gesto de autoria e de presença", diz Juarez. "Ao transpor sua criação literária para uma instalação urbana, Amara amplia os horizontes do bajubá, que muitas vezes se mantém restrito aos guetos, aos códigos internos da comunidade. Sua obra se torna um convite ao público: quem não entende, é desafiado a escutar, a decifrar, a se aproximar".

"O pajubá é sobre isso: diferença como resistência. Linguagem que resiste à norma, mas também cria novos sentidos, novas formas de vida", pontua Dandara.

Festa da Luz e as culturas urbanas

Com o tema "Culturas Urbanas", a Festa da Luz 2025 aposta em um circuito que celebra o que pulsa nas ruas: hip-hop, graffiti, funk, poesia, dança de rua e performances que ecoam as periferias e os corpos que nelas criam.

A curadoria une arte e tecnologia para iluminar edifícios, praças e vielas do centro da capital mineira com propostas contemporâneas e acessíveis. Além da obra de Amara Moira, o festival também apresenta a instalação textual de outros 14 artistas icônicos para a cultura brasileira.

Realizado pela Casinha, Híbrido, Pública, Governo de Minas e Governo Federal, o evento tem patrocínio da Cemig e apoio de instituições como o Museu de Artes & Ofícios, o Consulado da Itália e a Embaixada da França. Todas as atividades são gratuitas.

Dicionário Pajubá/Bajubá

A

Abalou - Tem a mesma utilização de "arrasou", uma forma de elogio para alguém que fez algo de forma bem feita

Adé - Homem homossexual

Adéfuntó - Homem homossexual que ainda não assumiu sua orientação sexual

Aja gangun - Velho

Ajé - Pessoas falsas ou más

Alibã/Alibam - Palavra para identificar "Polícia"

Amapô - Mulher

Aqüé/acue - Dinheiro

Aqüendar - Pegar, entrar, não perder a oportunidade.

Arrasou - Modo de se expressar quando um ato é bem-sucedido, quando alguém faz algo muito bem feito

Atender - ficar com alguém

B

Babado - Fofoca, novidade, acontecimento

Bafão - Alguma forma de confusão

Barbie - Homem homossexual com físico "malhado" e aparência afeminada

Bee (pronuncia-se Bi) - Gíria para amigo gay

Bill - Gay, homem homossexual

Bilú - Homossexual arrogante e "metido a rico"

Bofe - Homem bonito

Bolacha - Mulher homossexual, lésbica

C

Cacurucaia (Cacu) - Homem homossexual acima dos 60 anos

Cacura - Homem homossexual acima dos 40 anos

Caminhoneira - Mulher homossexual com aparência mais masculinizada

Carão - Fazer pose, debochar

Cheque - Cocô

Coronel - Mulher lésbica independente e mais velha que sustenta financeiramente sua parceira

D

Demônio - Pessoa considerada feia

Desaqüendar - Parar, desistir, deixar de lado, ir embora

Destruidora - Gíria para dizer que a pessoa "arrasa" muito, que está fazendo algo muito bem

E

Ebó - Macumba, trabalho

Entendida (o) - Expressão usada para dizer que a pessoa é lésbica ou gay

Elza - Roubar, também usada como "fez a Elza"

Equê/Eque - Mentira

F

Fada-madrinha - Homem homossexual mais velho e experiente

Fazer a Alice - Ato de ser sonhadora

Fazer a Egípcia - Ato de não expressar emoções no rosto, ato de fingir

Fazer a Heleninha Roitman - Bebedeira

Fazer a linha - Fingir, ser falso

Ferver - O ato de dançar muito na pista de dança em uma festa

G

Gongar - Falar mal

H

Hino - Usado como adjetivo para descrever algo considerado muito bom, incrível

I

Ilê - Casa

L

Lacrar/Lacrou - Modo de dizer que você "arrasou", que fez algo muito bem

Ligar o pisca-alerta - Voltar a si, acordar

M

Mafalda - Homem homossexual considerado velho e chato

Mala - Expressão usada para se referir ao órgão genital masculino

Maricona - Homem homossexual com mais de 50 anos

Mati - Sinônimo de "pequeno"

Mona - Mulher ou homem homossexual afeminado

N

Naja - Pessoa fofoqueira

Nena - Outra expressão para se referir a fezes, cocô

O

Ocó - Expressão usada para se referir a um homem

P

Pajubá - Dicionário, dialeto e linguagem da comunidade LGBTQIAPN+

PAM - Sigla de "Passiva Até a Morte"

Passada - Chocado

Pisar - Modo de dizer que você "arrasou", humilhou os demais por fazer algo tão bem

Poc - Gíria para se referir a pessoas gays

R

Racha - Expressão usada para se referir a uma mulher

Recalque - Inveja

S

Suzie - Homem homossexual de biotipo físico "malhado", aparência afeminada e com mais de 40 anos

T

Tata - Homem homossexual com aparência afeminada

Tiro - Algo muito impactante

Tô bege - Expressão de admiração e surpresa

Tô passada - Expressão de surpresa

Trabalhada - Modo de dizer que a pessoa está bonita

Tombado - Impactado

Tombar - "Arrasar", fazer algo muito bem feito

U

Uó - Algo ruim, desinteressante

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*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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