INTOXICAÇÃO EM PADARIA

Sob aplausos, idosa que morreu após comer torta é enterrada em BH

A aposentada, de 78 anos, estava internada desde 22 de abril e morreu por complicações de grave intoxicação alimentar

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A idosa intoxicada depois de comer uma torta de frango de uma padaria no bairro Serrano, na região da Pampulha, em Belo Horizonte, foi enterrada nesta quarta-feira (28/5), no Cemitério da Paz, Bairro Caiçara, Região Noroeste de BH. Cleuza Maria de Jesus, de 78 anos, morreu na tarde dessa terça (27/5) por complicações causadas por uma grave infecção alimentar.

Antes do sepultamento, familiares e amigos cantaram e rezaram em homenagem à idosa. Ela foi enterrada sob aplausos. Cleuza foi descrita como uma pessoa muito alegre por algumas pessoas que acompanhavam o cortejo.

Muito emocionados, os familiares informaram estarem muito abalados e não quiseram conversar com a imprensa.

Intoxicação alimentar

Cleuza estava internada desde o dia 22 de abril, depois de passar mal ao comer uma torta de frango comprada na Padaria Natália no dia anterior. A sobrinha da aposentada, Fernanda Isabella de Morais Nogueira, de 23 anos, e o namorado dela, José Vitor Carrillo Reis, de 24, visitavam a idosa e também comeram da torta, além de uma empada da mesma padaria.

À reportagem, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) confirmou que o corpo da idosa deu entrada no Instituto Médico Legal (IML) por volta das 14h30. Assim que os três experimentaram os alimentos, notaram um gosto estranho, azedo, e decidiram devolver o que restou ao estabelecimento.

Horas depois, o casal começou a ter sintomas graves de intoxicação alimentar e precisou ser internado em Sete Lagoas (MG), onde mora. No dia 28 de abril, ambos foram transferidos para um hospital particular em BH. Passaram três semanas entubados, já receberam alta da UTI, mas, até esta terça, continuavam internados.

Já Cleuza, que inicialmente não apresentou sintomas, teve uma parada respiratória um dia depois de comer a torta. Ela precisou ser reanimada pelo filho antes de ser levada a um hospital particular, onde ficou internada até a manhã desta terça.

Desde 23 de abril, a Padaria Natália está interditada pela Vigilância Sanitária de Belo Horizonte. De acordo com a prefeitura, o local não tem alvará sanitário e sequer havia iniciado o processo de regularização. Além disso, a fiscalização encontrou diversas irregularidades relacionadas à higiene e à estrutura sanitária.

Resultado dos exames

A principal suspeita para os casos era botulismo, uma intoxicação grave causada por toxina bacteriana. No entanto, exames realizados pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL) deram resultado negativo, conforme informou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) na semana passada. A pasta solicitou análises complementares para investigar outras neurotoxinas e agentes patogênicos que podem ter causado a intoxicação.

A negativa não convenceu os familiares das vítimas. Uma parente, que preferiu não se identificar, relatou em entrevista ao Estado de Minas que os médicos que acompanharam o casal foram unânimes em afirmar se tratar de botulismo. Segundo ela, os profissionais explicaram que esse tipo de exame tem alta taxa de falso negativo.

Ela afirmou ainda que os profissionais não têm outra hipótese de diagnóstico e que a família já havia sido alertada por outras pessoas que o falso negativo em casos de botulismo é comum. "Não tem como descartar, eles estão sendo muito precipitados em descartar porque os médicos afirmam com toda certeza”, concluiu. Não há informações sobre como foi conduzido o tratamento da idosa, nem se houve medidas específicas para tratar um possível caso de botulismo.

O caso segue sob investigação conjunta da Fundação Ezequiel Dias (Funed), da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e da Vigilância Sanitária de Belo Horizonte.

Questões sanitárias

O envenenamento que culminou na morte de Cleuza e na internação do casal ainda está longe de ter uma explicação definitiva. A PCMG informou que as investigações seguem em andamento e aguarda a finalização dos laudos periciais que determinarão a causa e circunstâncias do ocorrido. "A depender da complexidade, o prazo poderá ser estendido", comunicou por meio de nota.

Logo após a interdição da padaria, em 23 de abril, o padeiro responsável pela produção da torta, recém-contratado e com apenas seis dias de trabalho no local, apresentou-se espontaneamente à Polícia Civil, no Bairro Alípio de Melo, Região Noroeste de Belo Horizonte. Ele foi ouvido, negou qualquer envolvimento criminoso e foi liberado.

Na delegacia e à imprensa, o padeiro apontou precariedade nas condições de higiene e armazenamento da padaria como potenciais causas da contaminação. Segundo ele, os alimentos eram guardados de maneira inadequada, expostos a riscos de contaminação cruzada. A esposa do padeiro, Ruth Lazarini, reforçou essa denúncia ao Estado de Minas, relatando que o marido frequentemente comentava sobre a falta de cuidados básicos no local.

“A higienização da padaria, pelo que meu marido me contava, não era de boa qualidade, não. Eles mantinham muitos alimentos jogados, e não havia aquele cuidado com os alimentos que tinha que ter. As comidas ficam todas juntas e abertas dentro do congelador”, disse na ocasião. Ruth contou ainda que o marido levou para casa uma torta de frango preparada na mesma fornada da vendida ao casal, e que nenhum familiar teve problemas.

A Vigilância Sanitária realizou nova vistoria na padaria em 28 de abril, quando apreendeu todos os produtos irregulares segundo as normas sanitárias. O restante, que estava dentro dos padrões, foi recolhido pelos funcionários.

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O dono do estabelecimento chegou a apontar o padeiro como responsável pela contaminação, mas não apresentou prova que sustentasse a acusação. Desde então, a família do trabalhador passa dificuldades financeiras. “As pessoas não estão abrindo oportunidade de vagas de emprego para a gente”, afirmou Ruth Lazarini. Ela afirma que eles e a filha, de 5 anos, tem sobrevivido com a ajuda de amigos e parentes, que fornecem alimentos. Caso contrário, segundo Ruth, eles passariam fome. “As coisas estão cada vez mais difíceis. Até que isso se resolva, a gente fica 'à mercê' da sociedade com julgamentos ofensivos”, desabafou.

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