Carnaval com a nobreza de um mineiro
Conheça a história do homem nascido em Nova Lima, na Grande BH, que batiza a passarela do "maior show da Terra"
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Siga noSegunda-feira, folião!, e ainda tem muito chão de estrelas até “tudo se acabar na quarta-feira”, como diz um velho samba. Até lá, o Brasil, em todos os sentidos, celebra o reinado de Momo, com seus blocos, brincadeiras, fantasias, agremiações, batucadas. Na folia, o nome de um mineiro se destaca, Cândido José de Araújo Viana (1793-1875), que entrou para as páginas da nossa história – e para a maior farra nacional, o carnaval – como Marquês de Sapucaí.
E quem foi esse mineiro célebre? Na “categoria” homem público, Cândido desempenhou as funções de deputado, senador, desembargador, conselheiro do Império, ministro das Finanças e da Justiça e ocupante de outros cargos importantes nos tempos de dom Pedro I (1798-1834), da Regência e de dom Pedro II (1835-1891). Agora, para chegar ao carnaval, ocorreu o seguinte: seu nome batizou a avenida do Rio de Janeiro onde, no início da década de 1980, foi construído o Sambódromo, palco do “maior show da Terra”. Na intimidade, todo sambista chama o local de “Sapucaí” – na noite de hoje, o espaço recebe mais um desfile das escolas de samba do Grupo Especial.
A vida do mineiro dá samba. E deu, pois foi eternizada pela Beija-Flor no samba-enredo “Marquês de Sapucaí, o poeta imortal”, em 2016. Natural de Congonhas de Sabará, nome primitivo de Nova Lima, o menino foi registrado Cândido Cardoso Canuto Cunha, mas, aos 13 anos, passou a se chamar Cândido José de Araújo Viana. “A família era mais conhecida por Araújo Viana, daí sua decisão, com a licença do pai”, contou ao EM o historiador mineiro Walter Gonçalves Taveira, autor, com Bráulio Carsalade Villela, do livro “Marquês de Sapucahy, o executivo do Império” (2014). E mais: “Grande brasileiro, de expressão política e idoneidade moral, foi ainda presidente das províncias de Alagoas e Maranhão, preceptor dos filhos dos imperadores e era poliglota”.
VIDA E OBRA
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Nascido numa família numerosa e com dois irmãos médicos, o jovem Cândido, aos 21 anos, foi nomeado pelo príncipe regente Dom João VI (1767-1826) para o cargo de ajudante de ordenança do Termo de Sabará. Dois anos depois, seguiu para fazer os estudos jurídicos na Universidade de Coimbra, em Portugal. Voltou bacharel em direito e pronto para receber nova incumbência em Sabará: ser promotor de Capelas e Resíduos. Na sequência, e cada vez mais solicitado pela competência, Cândido foi juiz em Mariana até que, em 1823, se elegeu deputado por Minas para a Assembleia Constituinte do Império.
A partir daí, foi uma sucessão de cargos de relevância. Cândido assumiu a direção do Diário da Assembleia, no Rio; retornou a Mariana para ocupar novamente o cargo de juiz; foi nomeado desembargador de Relação em Pernambuco, sendo transferido em 1832 para a Bahia; elegeu-se três vezes deputado; e chegou ao Senado como vitalício. Na terra natal, há um busto do Marquês de Sapucaí na Praça Bernardino de Lima, em frente ao Teatro Municipal e à Matriz de Nossa Senhora do Pilar.
REFORMAS
Impossível não ficar impressionado com a multiplicidade de funções desempenhadas pelo Marquês de Sapucaí. De acordo com o livro “Nova Lima, ontem e hoje”, de 2013, o mineiro ilustre “foi nomeado, em 1839, professor de literatura e ciências positivas de Dom Pedro II e suas irmãs e, mais tarde, mestre das princesas suas filhas”. Também “sua participação na vida política melhorou a instrução pública e o aprimoramento da direção científica do Museu Nacional (…) Era profundo latinista, versado em grego, hebraico e várias línguas europeias”.
Os feitos do marquês são infinitos, pois teve grande influência no Império, em especial na economia, no período em que foi ministro das Finanças (entre 1831 e 1834). Durante a Regência, empreendeu reformas, propiciando a estabilização financeira do país. O dedo do marquês esteve presente na decisão que permitiu a entrada de capital estrangeiro na mineração, reforma do correio e instituição do Selo Nacional
CONGONHAS DE SABARÁ
A história de Nova Lima começa no fim do século 18, quando o bandeirante paulista Domingos Rodrigues da Fonseca Leme chega em busca de ouro. O primeiro nome dado ao lugar é Campos de Congonhas, que se refere a uma planta. Mas, devido à grande quantidade do metal, o nome muda para Congonhas das Minas de Ouro. Em 1836, é criado o distrito subordinado ao município de Sabará, daí a denominação Congonhas de Sabará. Em 5 de fevereiro de 1891, a localidade é emancipada e passa a se chamar Villa Nova de Lima, em homenagem, segundo pesquisa do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), ao historiador, poeta e político Antônio Augusto de Lima (1859-1934), que nasceu no local nos tempos de Congonhas de Sabará. Em 1923, o município recebe o nome de Nova Lima.
IEPHA FAZ CADASTRAMENTO...
Minas quer conhecer mais sobre seu samba. Para isso, está aberto o cadastro destinado a grupos, coletivos e expressões associadas à importante manifestação cultural. A iniciativa da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico visa mapear a diversidade e a riqueza das tradições do samba mineiro. Enfim, fortalecer o patrimônio imaterial e garantir que futuras gerações conheçam e possam apreciar o ritmo, a dança, as músicas, os compositores, enfim, o conjunto da obra.
...PARA MAPEAR NOSSO SAMBA
Conforme os organizadores, grupos, coletivos e indivíduos envolvidos com o samba estão convidados a se cadastrar e contribuir para o mapeamento. Com isso, haverá melhor compreensão, reconhecimento e valorização das diferentes expressões do samba em Minas, além de possibilitar a criação de políticas públicas voltadas para a preservação e a promoção. E, claro, garantir mais visibilidade para participação em eventos e projetos culturais. Interessados devem acessar o site www.iepha.mg.gov.br e preencher o formulário disponível.
PAREDE DA MEMÓRIA
Belo Horizonte tem, hoje, um dos maiores carnavais do Brasil, com milhares de foliões nas ruas, mas, lá pela década de 1950, o cenário era outro. Naquele tempo, faziam sucesso mesmo eram os bailes nos clubes. No ar, havia muito mais do que serpentinas, confete e o som ritmado das marchinhas. Estavam em cena os tubos dourados de lança-perfume fabricados por empresas como a Rhodia, que gravou seu nome na folia com o Rodouro. Tinha também o Pierrot e outras que ficaram na memória de muita gente. O uso da substância ficou imune até 1961, quando foi proibido pelo então presidente Jânio Quadros (1917-1992). Veja, na foto do carnaval de 1963, a animação do povo fantasiado no Baile do Marinheiro, no Iate Clube, na Região da Pampulha.
SERRA DA PIEDADE
Já está em operação a linha de ônibus ligando a Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso, no Centro de Caeté, ao Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, no alto da Serra da Piedade. Tem o nome de Expresso Crer, referência ao Caminho Religioso da Estrada Real (Crer). A novidade, patrocinada pela Prefeitura de Caeté, contempla o programa “Tarifa zero" (a passagem é gratuita) e funciona apenas nos fins de semana. Confira os horários: 7h – Saída da Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso com destino ao Santuário; 11h – Saída da Estação da Piedade em direção à Matriz; 13h30 – Saída da Matriz para o Santuário; e 17h – Saída da Estação da Piedade para a Matriz. O expresso Crer tem ponto de embarque e desembarque na Estação da Piedade, estrutura no conjunto arquitetônico do Santuário para acolher peregrinos e visitantes.
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A vida rebrota em arte, cultura e história no distrito de Vargem de Santana, em Belo Vale. Foi reaberta a Casinha Velha, construção do século 19, cujas obras de restauro demandaram 12 meses, custeadas pelo Programa Minas para Sempre, do Ministério Público de Minas Gerais. Os recursos provêm de medidas compensatórias. Destinado a manifestações da cultura popular da região, o imóvel tombado pela prefeitura estava “em processo de arruinamento”, conforme avaliação da equipe do Joaquim Artes e Ofícios, entidade responsável pelo serviço.]
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Na palavra dos especialistas encarregados do restauro, a Casinha velha apresenta “comunhão entre patrimônios material e imaterial”. Já a secretária Municipal de Cultura de Belo Vale, Grasiele Regina Ribeiro, conta que a edificação, na zona rural, tem grande importância. “Trata-se de um espaço para encontros culturais dos congadeiros, numa forma, também, de reavivar nosso pertencimento a esse patrimônio e buscar aflorar nas pessoas a sensibilidade com as matrizes religiosas africanas”.