Carnaval pretende resgatar tradições da cidade histórica e atrair foliões de todas as idades para uma visão divertida sobre as lendas folclóricas -  (crédito: Divulgação/Arquivo pessoal)

Carnaval pretende resgatar tradições da cidade histórica e atrair foliões de todas as idades para uma visão divertida sobre as lendas folclóricas

crédito: Divulgação/Arquivo pessoal

As histórias de assombração, lendas e causos que dão vida aos fantasmas de Mariana, na Região Central de Minas Gerais, serão inspiração para a decoração das ruas da cidade histórica no Carnaval de 2024, entre os dias 8 e 13 de fevereiro.

De roupa nova, os fantasmas resolveram tirar uma folga e cair na folia. O Caboclo D’água ganhou um tamborim, Maria Sabão está com um colar de flores, Capitão Jack, com sua lamparina assustadora, ganhou um chapéu de flores, e a Mãe do Ouro será uma elegante passista.

 

 

Inspirado em relatos de pessoas que afirmam ter visto as criaturas folclóricas, desde a época que Mariana ainda era o arraial de Nossa Senhora do Carmo, o artista plástico, Emerson Carvalho de Souza, conhecido como Camaleão, personificou a Noiva de Furquim, Caboclo D’Água, Maria Sabão, Capitão Jack, Mãe D’Ouro e a caveira da Procissão das Almas.

As seis assombrações viraram totens que ficarão expostos nas ruas da cidade, que terão mais de 50 atrações que valorizarão as tradições e os artistas locais da cidade.

O artista plástico conta que a inspiração veio a partir da memória afetiva de criança, gestada em volta do fogão à lenha na casa da avó, em que o tio dele contava causos de assombração. A família do artista mora no distrito do Furquim, local onde habita uma das histórias mais famosas de fantasmas da cidade histórica: a Noiva do Furquim.

 

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“Meu tio contava as histórias de assombração, e eu ficava apavorado. Isso ficou incorporado na minha memória de criança. Quando a prefeitura me falou do projeto e falou das lendas, lembrei do meu tio de Furquim”, relata.

Com a licença poética, o artista transformou os fantasmas em foliões e levou o lado cômico, característico das caricaturas.

“Já que tenho a liberdade de artista, coloquei o medo de infância que sentia no papel e comecei a criar os personagens com um lado de humor. Fiz um Capitão Jack com dente de ouro, cavalinho de pau e tamborim. Foi muito prazeroso fazer as caricaturas, nossas histórias são muito mais legais”, conta.

De acordo com o prefeito Celso Cota (MDB), o mais importante do Carnaval de Mariana foi o resgate do folclore brasileiro para que a nova geração conheça e valorize a cultura brasileira.

“Ao trazer nossos personagens, estamos resgatando e reafirmando a cultura da cidade. Estamos fortalecendo nosso folclore e apresentando nossas lendas para as novas gerações. Essa é a Mariana que nem todo mundo conhece”.

 

Muitos carnavais de lendas

 

Mariana é primeira cidade de Minas Gerais, fundada em 1696, e são mais de três séculos de histórias que entrelaçam crenças trazidas pelos os portugueses e negros escravizados, que se misturaram por meio dos bandeirantes, com as crenças indígenas, antes e durante o ciclo do ouro. De lá para cá, novos causos foram criados, e os antigos ganharam novos contornos no imaginário popular.

As histórias de fantasmas são levadas a serio na cidade histórica, a ponto de ter uma entidade que cuida de perto das lendas e causos criadas a partir das situações vividas pelos moradores. A Associação dos Caçadores de Assombração (ACAM), fundada em 2008, surgiu para resgatar e valorizar esses causos contados por gerações. Ao todo, a ACAM catalogou 21 pontos assombrados na cidade histórica que contém lendas de arrepiar.

As investigações dos caça-fantasmas de Mariana tiveram início com o objetivo de investigar os causos sobre o Caboclo D’água, que sempre era visto nos distritos de Acaiaca e Barra Longa. De lá para cá, as pessoas começaram a relatar outras lendas, e a ACAM se viu no papel de documentar todos os contos.