A I Marcha de Mulheridades Sapatão e LBT (lésbicas, bissexuais e transexuais) ocupou as ruas de Belo Horizonte na tarde deste sábado (19/7). Em defesa da vida, dos direitos e visibilidade de todas as mulheridades, a caminhada ocorreu em meio ao festival Fuzuê, que também acontece pela primeira vez na capital aliado à 26ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de BH. A manifestação política e cultural, teve o Viaduto Santa Tereza, no bairro Floresta, na Região Leste, como ponto de partida, às 12h.
Com o tema “Corpos-Território: Ocupar e Resistir por Direitos, Memória e Justiça”, o ato busca fortalecer a luta contra todas as formas de opressão e violência que atingem as mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais no cotidiano, além de valorizar a memória e a história do movimento LGBTQIAPN+ nacional, que tem um protagonismo importante em BH.
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A marcha foi organizada por coletivos de mulheres militantes e ativistas da causa LBT, Brejo das Sapas, Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual e Identidade de Gênero (Cellos-MG), Clã das Lobas, Coletivo Bil, Rede Afro, Rede Lesbi Brasil e Rolezin das LBPT, e surge como um grito de resistência frente ao apagamento histórico, à lesbofobia, à bifobia, à transfobia e ao machismo estrutural.
Além da caminhada, o evento contou com intervenções culturais, música e materiais informativos. As manifestantes seguiram pela Rua da Bahia, no Centro, por volta de 14h, virando na Avenida Afonso Pena, com expectativa de dispersão no Parque Municipal às 16h, no “1º Festival Fuzuê LGBTQIA+: Arte, Celebração e Luta!”.
O Fuzuê, em sua primeira edição, contou com dois palcos: um principal, com atrações locais e nacional, e um palco eletrônico voltado à música e à dança. Todas as apresentações foram selecionadas por meio de um edital aberto, o que garantiu a participação de 48 artistas que contemplam todas as letras da sigla LGBTQIA+.
26ª Parada LGBTQIAPN+ em BH
Com o tema "Envelhecer Bem: Direito às Políticas Públicas do Bem Viver, ao Prazer e à Cidade", a Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ estreia um novo formato em 2025, neste domingo (20/7). A proposta é dar visibilidade à população LGBTQIA+ com 60 anos ou mais, garantindo debate sobre políticas que assegurem direito à longevidade com dignidade, liberdade e prazer. Segundo os organizadores, a expectativa é reunir cerca de 350 mil pessoas.
A concentração da Parada será no cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Avenida Brasil, a partir das 14h deste domingo e encerramento previsto para às 20h. O cortejo seguirá pelo Centro até a Praça Sete, com discursos, homenagens e apresentações culturais.
Uma pesquisa da Belotur e UFMG mostra que o público do evento é majoritariamente preto, periférico e não tão jovem como antes, perfil refletido na programação e estrutura, que terá intérpretes de Libras, banheiros e rotas acessíveis, além de equipes para acolhimento físico e emocional, com atenção especial à população trans e não binária.
Com custo estimado em R$ 1,3 milhão, a Parada conta com a cervejaria Vibes, ligada à Heineken, como principal patrocinadora. A expectativa é de um impacto econômico de cerca de R$ 20 milhões para a cidade, especialmente por atrair turistas de estados como Rio de Janeiro e São Paulo.
Liminar
O primeiro dia da Parada de BH começou depois de dois dias de uma decisão judicial, que impede o repasse de R$ 450 mil da Prefeitura de BH (PBH), ter sido expedida pela 3ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Municipal. No entanto, a liminar não interfere na realização do evento, que promete ser ainda maior do que o dos anos anteriores. De acordo com o presidente do Cellos, Maicon Chaves, o evento continuará acontecendo com ou sem recurso.
"Quando atacaram o Cellos, atacaram pessoas, que fizeram a instituição acontecer e não por elas próprias. Manter o pé na resistência, fazer parada, manter essa sede é honrar pessoas que vieram antes de nós e que não puderam estar aqui, mas é preciso afirmar: vai ter parada, sim!", disse Chaves, em coletiva de imprensa nessa sexta (18/7).
Segundo o presidente da instituição, o movimento continuará fazendo a parte deles, fazendo a economia da cidade girar e, ainda, sorrindo. No entanto, ele reforça que a liminar é uma tentativa de criminalizar o movimento LGBTQIAPN+, pois a sexualidade mexe com os conservadores. Ele comentou, ainda, que a medida trata-se de um processo orquestrado para desestabilizar o movimento, mas que a instituição está amparada por uma equipe de advogados e apoiada por parlamentares.
“Isso é de uma covardia tão grande, mas também de uma fragilidade imensa de querer invisibilizar nossa existência. Só demonstra que nossos corpos abalam esses sistemas, mas esses corpos nunca precisaram de dinheiro para existir”, reforça o presidente do Cellos.
A decisão judicial foi movida pelos vereadores Uner Augusto (PL) e Pablo Almeida (PL). Os parlamentares questionam a ausência de chamamento público para a escolha do organizador da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+. Na liminar, o juiz Danilo Couto Lobato Bicalho, da 3ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Municipal, aceitou, em parte, esse argumento e suspendeu o repasse.
De acordo com a medida, "a falta de um orçamento detalhado do evento ou de um estudo técnico comparativo de preços de mercado por parte dos autores na exordial impossibilita, neste momento processual, a formação de um juízo de convicção integral sobre a adequação do valor total de R$ 450.000". No entanto, os advogados dos organizadores acreditam que a ação foi planejada como uma tentativa de invisibilizar a comunidade LGBTQIAPN+.
Apesar de ter suspendido os repasses, a mesma liminar pontua que a LGBTQIAPN+ "é uma manifestação de grande porte e relevância sociocultural e econômica, já inserida no calendário oficial do município, com impacto significativo na promoção de direitos humanos e na economia local". Um recurso contra a liminar foi protocolado na noite dessa sexta, mas, até a publicação da matéria, não havia resultado do julgamento.
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A perda desse recurso, há poucos dias do evento, pode impactar na segurança dos participantes, isso porque, além da segurança disponibilizada pelo Executivo municipal, a Parada tem um custo com segurança privada, o que pode gerar incidentes.
