Comer frango xadrez, rolinho primavera e yakisoba não era algo comum. Se hoje há ainda quem estranhe o toque agridoce, imagine só há 60 anos. Dois restaurantes em BH são referência em comida tradicional chinesa e fizeram muito bem a apresentação dela aos mineiros.
O Yun Ton foi fundado em 1965 por uma família de chineses na Rua Santa Catarina, Bairro Lourdes, Região Centro-Sul. Em 1970, foi comprado por Tso Chi Cheung, avô de David Tso, que está à frente da casa hoje. “Meu avô veio da região de Xangai, na China, para São Paulo, mas viu a oportunidade do negócio em BH.”
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A comida da região da família na China, segundo David, é marcada por ser leve em tempero, quando comparada a outras partes do país asiático. “Atende bem o paladar ocidental, mas, mesmo assim, tivemos que fazer algumas adaptações.”
O lombo frito ao molho de feijão preto fermentado do Yun Ton é típico da região de Xangai
Uma das mais marcantes foi a proporção de carne em relação aos vegetais nos pratos. “Na China, um prato teria cerca de 70% de vegetais para 30% de carne. Aqui tivemos que quase inverter isso”, explica.
Ao longo dos anos, mudanças no cardápio precisaram ser feitas. Eles chegaram a servir até uma sopa de barbatana de tubarão, mas, devido à dificuldade de encontrar a carne e ao estranhamento de muita gente, o que levava a sair pouco, o prato foi retirado do menu.
Em compensação, o lombo frito ao molho de feijão preto fermentado (típico da região da família) é um sucesso desde sempre, vendido por R$ 107.
Apenas delivery
A pandemia foi marcante para todo e qualquer restaurante. No caso do Yun Ton, de alguma forma, eles previram o futuro. Em 2019, por questão de custos operacionais, a família decidiu encerrar o atendimento no salão e focar no delivery, mudando-se para o Bairro Santo Antônio.
Neto do fundador, David Tso (centro) é quem comanda o Yun Ton com o apoio dos cozinheiros Ailton e Milton
A casa continua a atuar apenas com entrega ou retirada. Apesar disso, David não nega que possa voltar a abrir as portas para os clientes em algum momento.
Filas constantes
O apreço dos belo-horizontinos pela comida chinesa também está refletido nas filas constantes na porta do Macau, no Bairro Lourdes, Região Centro-Sul. A casa é 10 anos mais jovem que o Yun Ton. Foi fundada em 1975 por chineses e comprada pelo pai de Roberto Lam Chong, Chon Chong, no mesmo ano.
A família veio da Região de Cantão, ao Sul da China, depois de ter passado por Moçambique, na África, onde também trabalhou com a cozinha asiática. Em cada lugar, Roberto enxerga que a oferta de matéria-prima acaba por moldar as preferências do público.
“Na África, havia abundância de frutos do mar, então os pratos usavam mais eles. Aqui, o maior sucesso é a carne bovina. Nada disputa com ela.”
Mesmos pratos
Os clientes que frequentam a casa não apenas são fiéis ao negócio, como também aos pratos. “Eles não costumam variar, pedem sempre o mesmo prato”, destaca Ricardo Lam, filho de Roberto, que também está atuando na casa ao lado dos irmãos, Camila e Arthur.
A primeira loja do Macau, aberto em 1975, era na esquina da Rua Leopoldina com a Avenida do Contorno
Nesse sentido, para que seja possível manter o padrão de qualidade, ele destaca a importância da atuação de seu pai no dia a dia do salão e de sua tia, Isabel Lam Chong, no cotidiano da cozinha.
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“A gente também sempre acreditou no melhor custo-benefício para o nosso cliente e queremos isso atrelado à nossa marca”, aponta Ricardo, ao falar dos pratos, que, além de saborosos, são muito fartos.
Os grandes sucessos da casa são o rolinho primavera (R$ 18,50) e as opções com corte bovino, a exemplo do “Vaca desfiada com cebola”, vendida por R$ 93.
Orientais em BH
Nas décadas de 1960 e 1970, ocorria um processo intenso de urbanização em BH. “Há nesse período um grande número de rios sendo canalizados, a cidade vai criando mobilidade e isso influencia as pessoas a saírem de casa mais e mais para irem para bares e restaurantes.
A cidade ganha até o apelido de “cidade autofágica”, já que ia se destruindo e se construindo a todo momento, foram muitas modificações”, explica o historiador e pesquisador José Newton Meneses.
“BH teve investimento na área da indústria pelo próprio governo ditatorial nesse momento.” A industrialização pode ter sido importante para o consumo de comida chinesa na cidade, afinal, vieram orientais e muitos estrangeiros com ela. “Esse foi um momento também em que a comida chinesa se espalhou com muita força pelo mundo”, completa.
Serviço
Macau
Avenida Olegário Maciel, 1767, Lourdes, Belo Horizonte
De terça a quinta, das 11h30 às 15h e das 18h às 22h
Sexta, das 11h30 às 15h e das 18h às 22h30
Sábado, das 11h30 às 16h e das 18h às 22h30
Domingo, das 11h30 às 16h e das 19h às 23h
(31) 3337-6193
Yun Ton
Rua Marabá, 252, Santo Antônio (apenas retirada)
De segunda a sexta, das 11h às 15h e das 18h às 22h
Sábado e domingo, das 11h às 22h
(31) 3337-2020
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino
