Chef mineiro trabalha apenas com menu degustação em restaurante
Yves Saliba, chef do Per Lui, em Belo Horizonte, muda os pratos a cada três meses, apostando na sazonalidade dos alimentos regionais
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Ir a um restaurante e não escolher nenhuma entrada, prato ou sobremesa pode ser uma experiência diferente para os belo-horizontinos. Por mais que alguns restaurantes da cidade já apostem em menus degustação, em que a sequência é previamente definida pelo chef, há apenas uma casa 100% focada nisso: o Per Lui.
Situado no Bairro Serra, Região Centro-Sul da capital, o restaurante é comandado pelo chef Yves Saliba e serve exclusivamente menus degustação, que mudam a cada três meses, apostando na sazonalidade dos alimentos regionais.
Origem
Evidentemente, Yves não se aproximou dessa proposta em BH. Aliás, ele nem fez isso no Brasil. O lugar onde conheceu de perto a operação de um restaurante que trabalha com menu degustação foi a Itália, em uma viagem em 2017. O chef fez estágio no Villa D’amelia, restaurante em Benevello, comuna na Região de Piemonte. Lá, o seu mentor, quem lhe treinou na casa, foi o chef Damiano Nigro.
“Ele foi a pessoa que mais me formou na cozinha, é uma pessoa brilhante na criação, na organização...”, explica Yves.
De volta a BH, ele apostou em algo completamente diferente do que havia aprendido no país europeu: um restaurante universitário. O empreendimento, entretanto, sofreu muito com a pandemia de COVID-19 e, em 2021, Yves precisou fechá-lo. “Meu crescimento foi orgânico. Não sou um grande investidor, a base de investimento do meu negócio foi endividamento bancário, então, chegou um momento em que realmente fali”, conta.
A pandemia também foi um período decisivo para o chef devido a uma internação a qual precisou ser submetido. Por pouco ele não entrou para as estatísticas como uma vítima fatal do coronavírus. “Quando saí do hospital, tive certeza de que não queria trabalhar com algo que demandasse tanto volume de produção. Queria algo que me desse qualidade de vida.”
Surpresas
Assim, Yves começou a colocar em prática o que havia aprendido com o chef Damiano Nigro na Itália. Os jantares eram na sua casa e ele fazia menus degustação harmonizados com vinho por preços justos, o que o ajudou a atrair mais clientes. Um deles, inclusive, foi o médico que lhe tratou na internação: Victor Hugo Barcelos.
“Nesse período em que recebia em casa, precisei, inclusive, mudar para um espaço maior. Aí entendi que poderia ter um restaurante e resolvi chamar o Victor para ser meu sócio”, destaca.
Em 2022, cerca de um ano após a alta do hospital do chef, o Per Lui foi inaugurado. “O restaurante nasceu de muita confiança na nossa ideia. Não tivemos estudo de campo ou contato prévio com essa área. Acreditamos em um bom custo-benefício, produtos de muita qualidade por um preço honesto.”
Reconhecimento
O crescimento de um restaurante tende a ser gradativo e, com o Per Lui, não é diferente. A cada ano, mais belo-horizontinos são levados ao ambiente aconchegante no Bairro Serra com a expectativa de, justamente, serem surpreendidos pelo paladar. O reconhecimento também aumenta e isso, evidentemente, reflete no salão, afinal, atrai mais curiosos e apaixonados por comida.
“Em 2024 tivemos o nosso ápice. Me lembro até hoje de quando me ligaram e disseram que a gente estava no ranking dos 100 melhores restaurantes do Brasil, segundo a revista Exame. Foi nesse ano também que nos destacamos como melhor restaurante de cozinha contemporânea no Prêmio Encontro Gastrô”, conta o chef, orgulhoso. Em 2025, a casa venceu novamente, nessa mesma categoria.
Por falar em contemporâneo, Yves ressalta que prefere o termo “autoral” para se referir ao seu trabalho.
“Se alguém me pergunta a descrição do Per Lui, digo que contemporâneo não seria minha primeira palavra, prefiro autoral, já que estou criando, testando, explorando. Sinto que, com a contemporaneidade, trazemos também uma ruptura com o passado, com a tradição, mas às vezes quero usar e servir comidas clássicas”, explica o chef, que está à frente de duas outras casas de BH: o Odoyá, na Savassi, e o Pastaio, no Bairro Funcionários, ambos na Região Centro-Sul.
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Dez tempos
O menu degustação atual é composto por 10 tempos, do couvert às sobremesas. O valor por pessoa é R$ 305 (sem bebida e sem serviço). “Esse menu é uma vontade de fazer comida sem regra, sem rótulo, trazendo fusões da nossa cozinha com comidas do mundo”, explica o chef.
No segundo ato do menu, chega à mesa uma dupla de snacks: sanduíche de brioche amanteigado com tartare de angus e tempurá de capuchinha (flor medicinal e comestível) com crudo de atum e sour cream defumado. O robalo no vapor com curry e tartare de banana é servido no sexto ato. O jantar se encerra com frangipane (creme) de pistache, ganache de cranberry, gelato de framboesa, suspiro e coco tostado.
Serviço
Per Lui (@perluibh)
Rua Muzambinho, 608, Serra
(31) 98365-9397
De terça a sábado, das 19h à 00h
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino