Integrantes do Grupo Galpão estiveram no velório de Teuda Bara, realizado nesta sexta-feira (26/12), no Palácio das Artes, para se despedir da atriz, que morreu ontem (25/12), aos 84 anos, em decorrência de septicemia. Ela estava internada no Hospital Madre Teresa desde 14 de dezembro, quando passou mal em casa e sofreu uma fratura na perna. 

Em conversa com o Estado de Minas, atores e colegas da companhia de teatro deixaram seus depoimentos e mensagens de carinho.

Paulo André

"Trabalhar e conviver com Teuda era sempre uma alegria. Teuda tem uma energia muito caótica, então era sempre uma surpresa. Por mais que a gente tentasse se organizar, ela vinha essa força desorganizadora que brindava a gente com o novo, com o inesperado. Isso vai fazer uma falta enorme para a gente."

 

Júlio Maciel

"Era uma pessoa forte, alegre, batalhadora, uma guerreira, uma revolucionária. É uma perda para o Brasil inteiro. A principal marca dela como atriz era a alegria, força de vida que ela tinha, uma força de vida grande. Ela foi uma das pessoas mais importantes da nossa vida."

Familiares e amigos se despediram da atriz durante o velório Leandro Couri / EM / DA Press
Participou de 21 dos 26 espetáculos da trupe mineira. Com o Galpão, seu último espetáculo foi "Cabaré Coragem". Leandro Couri / EM / DA Press
Transitou da comédia ao circo, do clássico ao contemporâneo, com forte comunicação com o público. Leandro Couri / EM / DA Press
Coração do Grupo Galpão, que cofundou em 1982, deixou uma série de grandes personagens, o mais célebre deles a ama de 'Romeu e Julieta' Leandro Couri / EM / DA Press
. A causa da morte foi septicemia com falência múltipla dos órgãos. Leandro Couri / EM / DA Press
Ela estava internada no Hospital Madre Teresa desde 14 de dezembro, quando passou mal em casa e sofreu uma fratura na perna Leandro Couri / EM / DA Press
A atriz Teuda Bara está sendo velada hoje (26/12), no Palácio das Artes. Leandro Couri / EM / DA Press
Teuda Bara em cena do espetáculo 'Sonhos de uma Noite com o Galpão' Alexandre Rezende/Divulgação

Beto Franco

"Acho que perder a Teuda é meio como que perder uma família inteira, porque a Teuda era uma mãe pra gente, assim, uma figura carinhosa, acolhedora. Ela era uma irmã também, aquela figura confidente, a figura que viveu as loucuras todas, viveu as criações do Galpão.

Era nossa irmã nesse sentido de ser companheira. E era um pouco nossa filha também, porque a gente tinha que cuidar da Teuda às vezes, né? Tinha que dar bronca nela, tinha que cortar um pouco as asas dela.

É uma perda enorme, a gente vai sentir muita falta da Teuda. Acho que é todo mundo que teve a oportunidade de ter algum convívio com ela vai sentir muita falta."

Chico Pelúcio

 "Olha, trabalhar com o Teuda era uma coisa muito intensa, era uma coisa que ao mesmo tempo transbordava pela criatividade, pela alegria, pela irreverência, pelos não-limites e, por outro lado, tinha hora também era uma coisa difícil, pela loucura dela, as coisas do cotidiano, a questão do horário, sabe, decorar texto, tudo isso, mas a gente via o resultado quando chegava no olhar do espectador, do público, o quanto aquilo transbordava, o que aquilo transmitia para o público.

Não é simples, sabe, não é à toa, é um mistério, o mistério do talento, o mistério da força, o mistério da presença e o mistério da loucura, porque eu acho que o espectador via na Teuda a possibilidade da liberdade, nos detalhes da interpretação, na risada dela. Isso eu acho que é talvez o legado mais rico que Teuda deixa, esse compromisso com a liberdade.

Alguém escreveu um poema para ela ontem, que eu não vou me lembrar agora, que tem um momento que fala assim: a Teuda não cabia em nenhuma moldura, nenhuma moldura deu conta de enquadrar a Teuda, ela sempre sobrava, sempre passava, sempre rompia.

A Teuda foi isso a vida inteira, uma pessoa do instinto, basicamente. O negócio dela vinha lá das vísceras e raramente passava pelo racional, era incrível."

Simone Ordones

"Trabalhar com Teuda era uma grande surpresa, ela sempre surpreendia, trazia algum problema da casa dela, chegava e falava pra todo mundo das questões dela.

E ela sempre polêmica, argumentava, contra-argumentava, mas também era de uma generosidade e de uma amorosidade raras. É uma coisa do espírito mesmo, a Teuda era assim, sempre foi assim, acho que ela nasceu assim.

Era uma mulher livre. Era uma mulher que tinha os desejos dela e ia atrás. Para nós assim, mulheres do Galpão, ela foi meio na frente, cortando, abrindo a trilha.

Ela era uma pessoa de muita opinião, segura de suas opiniões e muito sincera. E era uma atriz de entrega, porque amava o teatro. A gente gosta do teatro, mas ela amava o teatro. Muito. Não queria ficar de fora de jeito nenhum.

Todas as montagens ela quis fazer. Ela quis fazer "(Um) ensaio sobre cegueira", mas estava muito limitada fisicamente. A gente ficou meio com dó de falar "não, Teuda, você tem que cuidar de você, eu sinto muito". Foram 30 anos de convívio, então foi um aprendizado, uma aula."

Teuda deixa os filhos André e Admar. Em 2016, a atriz foi homenageada com a biografia "Comunista demais para ser chacrete" (Editora Javali), escrita por João Santos. Beto Novaes/EM/D.A Press
No início dos anos 2000, a atriz foi convidada pelo diretor Robert Lepage para participar do espetáculo "K.Á.", do Cirque du Soleil. Na época, ela saiu do Brasil e viveu entre Montreal, no Canadá, e Las Vegas, nos EUA, cidade onde era apresentado o show. Rafa Marques/Reprodução
Em 1987, Teuda Bara foi uma das integrantes do Grupo Galpão a participar da intervenção artística "Queremos praia", realizada pelo coletivo no centro de BH, em prol da ocupação da cidade. Eugenio Sávio/Reprodução
A belo-horizontina Teuda Bara, de 84 anos, nasceu Teuda Magalhães Fernandes. Foi atriz, trabalhou em teatro, cinema e televisão e, ainda, foi uma das fundadoras do Grupo Galpão. Luiza Palhares/Divulgação
Em outubro de 2011,Teuda Bara e Selton Mello estiveram presentes na pré-estreia de "O palhaço", no Pátio Savassi, em Belo Horizonte. Eugenio Gurgel/ Esp EM/D.A. Press.
A atriz foi homenageada com dois painéis em Belo Horizonte. A primeira vez, em 2017, veio em comemoração aos 120 anos da capital mineira. O desenho foi apagado e refeito em 2021 pelo coletivo Minas de Minas. Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press
Na televisão, Teuda participou da novela da TV Globo "Meu pedacinho de chão" (2014), de Luiz Fernando Carvalho, interpretando a personagem Mãe Benta. Além disso, fez parte da série "A vila", com o humorista Paulo Gustavo (1978-2021). Renato Rocha Miranda/TV Globo -
Desde o início da companhia mineira, em 1981, Teuda atuou na maioria dos espetáculos. Neste ano, a peça "Doida" (foto), na qual a atriz divide a cena com o filho Admar Fernandes, completou 10 anos. Fernanda Abdo/Divulgacao.
Teuda também fez diversos filmes. A atriz participou do longa "O palhaço" (2011), dirigido e protagonizado por Selton Mello, interpretando a Dona Zaira, integrante da trupe do Circo Esperança. Imagem Filmes/Divulgacao
Teuda Bara ainda participou dos filmes "As duas Irenes" (foto), de Fábio Meira, que representou o Brasil no Festival de Berlim em 2017, além de "La playa D.C", de Juan Andrés Arango, "Órfãs da rainha", de Elza Cataldo, e "Ângela", da cineasta mineira Marília Nogueira. Vitrine Filmes/Divulgacao

Antônio Edson

"Com o Teuda não havia cotidiano, não havia monotonia. E ela sempre com uma disposição muito difícil de ser encontrada, uma pessoa que viveu para e do teatro.

A gente brincava muito que ela era a nossa diva, a nossa estrela que não parava de brilhar. Ela levou isso por onde foi, no Brasil e fora do Brasil. Teuda era uma pessoa que não falava um A sequer em outra língua.

Uma vez, a gente estava na Itália e tinha um grupo alemão fazendo um workshop também. Eles estavam hospedados no mesmo lugar que nós.

Teuda foi flagrada pelo Chico (Pelúcio), se não me engano, no meio de uma roda com esses alemães falando, falando, e o povo dobrando de rir, prestando atenção e achando o máximo o que ela estava dizendo, só que sem entender bulhufas, porque ela não sabia dizer um A em alemão.

Teuda era uma pessoa, em muitos aspectos, cativante, sedutora, naturalmente sedutora. O Brasil inteiro hoje chora a morte dela, mas eu diria, se pudesse receitar alguma coisa, não chorem, não chorem, pensem nela com aquela gargalhada que ela tinha, que era poderosíssima e inigualável.

Isso, entre outras coisas, é o que vai ficar dela. São mil histórias engraçadas e, lamentavelmente, não a teremos mais como intérprete, como narradora dessas histórias que ela próprias viveu."

 

Lydia Del Picchia

"Quem viu Teuda no palco viu ela fora do palco, porque é a mesma energia, o mesmo calor, o afeto, a loucura, é tudo sem diferença. Uma pessoa que não saía do personagem, absolutamente intensa, na alegria, na raiva, na loucura, na indignação. Uma pessoa muito inteira, o tempo inteiro."

Fernanda Vianna

"O que fica de lembrança mais forte de Teuda é a de uma pessoa revolucionária. É isso que a Lydia fala, uma pessoa muito inteira, mas ao mesmo tempo muito transparente, de uma alegria muito transparente, que se liga muito àquela força na voz, no corpo, na intenção.

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Ficou essa força pra gente, de uma mulher muito resistente, persistente e muito alegre, muito generosa para tudo, para o teatro, para os colegas, um coração enorme, do tamanho da fome dela, da braveza dela. Pessoa sem limite, né, incrível."

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