Nora e Henri formam um casal dentro e fora do palco. Ela é dramaturga e diretora de espetáculos independentes; ele, um ator promissor que até então só atuava nas peças dela. Os dois levam uma relação harmoniosa, em que a vida profissional não interfere no casamento e vice-versa. Pelo menos, até o dia em que Henri aceita protagonizar o novo longa de uma diretora prestigiada, justamente no momento em que ensaia para estrear a nova peça de Nora.


Ele promete conciliar os dois trabalhos, mas não é o que acontece ao longo de “Os bastidores do amor”, filme escrito e dirigido por Victor Rodenbach, em cartaz nesta quarta-feira (10/12), às 19h05, no Cine Ponteio, como parte da programação do Festival de Cinema Francês do Brasil 2025.

 

Desgaste crescente

Ao tentar se dividir entre o set e o palco, Henri logo apresenta sinais de desgaste: atrasos constantes, queda de desempenho, lapsos de memória, irritação e um cansaço cada vez mais evidente. Seria compreensível, se os prejuízos não recaíssem quase exclusivamente sobre a peça de Nora.


“Ter que fazer vários projetos ao mesmo tempo é uma realidade muito comum para os atores na França – e, imagino, em muitos outros países” –, afirmou Victor ao Estado de Minas, durante sua passagem pelo Brasil com a delegação artística do festival.

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“Nora não acredita ser possível conciliar os dois trabalhos. Ela acha difícil e que pode dar errado, o que, de fato, acontece naquele momento”, acrescentou.


Estrelado por William Lebghil (Henri) e Vimala Pons (Nora), o filme acompanha o desarranjo que surge quando as tensões profissionais ultrapassam os limites do palco e invadem a vida íntima do casal. A exaustão de Henri é percebida por Nora quase como uma forma de infidelidade. Afinal, ele já estava comprometido com o espetáculo muito antes de aceitar o papel no cinema.

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Victor Rodenbach sabia exatamente o terreno que pisava ao escrever o roteiro. Ele também é casado com uma diretora de teatro, com quem trabalhou diversas vezes. “Há vários pontos em comum entre a história deles e a nossa”, revelou. “Quis fazer uma comédia romântica. E as melhores comédias românticas são declarações de amor”.


A vida real, porém, não teve o mesmo grau de turbulência vivido pelos personagens. No filme, a relação entre Henri e Nora se desintegra. Ele vê outra pessoa assumir seu papel na peça e, simbolicamente, também ao lado de Nora. Para agravar, ao finalizar as filmagens, Henri não se sente realizado.


“Intuitivamente, eu tinha começado o roteiro do ponto de vista dele, porque era o personagem com quem eu mais me identificava”, explicou Victor. “Depois, ao olhar de maneira carinhosa para Nora e me esforçar para entender o que ela estava vivendo, percebi a complexidade do conflito dela. Ela está mais na resistência, o que, à primeira vista, pode parecer menos estimulante, mas é algo muito profundo.”

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Isso permitiu ao diretor construir uma narrativa delicada, capaz de expor, com honestidade, os dois lados de um conflito conjugal. Em vez de apontar culpados, “Os bastidores do amor” revela o quanto ambições artísticas, inseguranças e limitações humanas podem se entrelaçar de forma inevitável – e, em muitas vezes, irreconciliável.


“OS BASTIDORES DO AMOR”
França, 2025, 84 min. De Victor Rodenbach. Com William Lebghil (Henri) e Vimala Pons.. Classificação: 12 anos. Ponteio 2, às 19h05

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