Eduardo Fonseca apresenta exposição com novo olhar sobre BH
Por meio dos animais, o artista vistual retrata cartões-postais de Belo Horizonte na mostra "Volta funda", em cartaz na Casa Fiat de Cultura
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Depois de viver por anos em Lisboa, Nova York, Chengdu e Paris, Eduardo Fonseca voltou a Belo Horizonte em 2024 para o nascimento da primeira filha. O retorno colocou o artista diante de uma capital muito diferente daquela que havia deixado. A percepção de tamanha mudança abriu caminho para a criação da mostra “Volta funda”, em cartaz na Casa Fiat de Cultura.
“A cidade já era outra, eu era outro e comecei a perceber um movimento de revalorização. Vi acontecimentos espalhados pelos bairros, eventos novos, festivais surgindo”, conta Fonseca.
Pinturas e esculturas produzidas ao longo de 2025 retratam cartões-postais de Belo Horizonte, entre eles Edifício Acaiaca, Praça Sete, Mercado Novo, Praça da Liberdade, Pampulha, Viaduto Santa Tereza e Praça Raul Soares.
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Oito trabalhos se dividem entre pintura em acrílico, folhas de ouro, objetos e esculturas. A mostra fica em cartaz até 25 de janeiro na Piccola Galeria. Atualmente, a Casa Fiat abriga também exposição de gravuras originais de Rembrandt (1606-1669).
Acaiaca e Praça Sete
O primeiro projeto de Eduardo Fonseca retratava o Acaiaca. Depois veio a Praça Sete, com pássaros circulando o Pirulito. A criação coincidiu com a abertura do edital que veio a selecionar a proposta de Fonseca.
A partir daí, o artista aprofundou a investigação sobre transformações recentes da capital, iniciadas justamente no ano em que ele deixou Belo Horizonte, quando surgiram a Praia da Estação e a renovação do carnaval de rua, entre outras ações.
“Durante muito tempo, existia a ideia de que o mais interessante vinha de fora de BH. Agora, no Mercado Novo, há lojas com souvenirs de capivaras e expressões locais”, observa o artista.
Nascido em Ponte Nova, Fonseca estudou pintura na Escola de Belas Artes da UFMG e concluiu mestrado em 2013 na Universidade de Lisboa.
Em suas telas e esculturas, gatos, cachorros, capivaras, jacarés e pássaros são mediadores de narrativas sobre o comportamento coletivo.
A escolha não nasceu da pauta ecológica, mas do interesse em observar os próprios seres humanos por meio dos bichos. “Quando coloco o animal, estou falando de comportamento social”, explica Eduardo.
A Praça Sete surge tomada por pardais, que se integram ao movimento do Centro. “Essas aves ajudam a entender o que faz a Praça Sete existir: o fluxo de gente. O obelisco quase se esconde para reforçar essa ideia”, afirma.
Na Praça da Liberdade, cachorro urina no semáforo da esquina da Rua Gonçalves Dias com Avenida João Pinheiro, o primeiro instalado na capital. O gesto confronta a lógica da ordem imposta à cidade construída no final do século 19.
“É uma forma de lembrar que mesmo diante das imposições da cidade, sempre há alguém disposto a subverter”, afirma Fonseca.
“VOLTA FUNDA”
Exposição de Eduardo Fonseca. Até 25 de janeiro, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10, Funcionários). Entrada gratuita. Visitação de terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.