Escritor Jacques Fux comenta seus livros na Academia Mineira de Letras
O bate-papo será no dia 1º de dezembro, às 19h, e contará com a participação dos também escritores Carlos Herculano Lopes e Ana Cecília Carvalho
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Avesso a lançamentos literários convencionais, com manhãs ou tardes de autógrafos, o escritor mineiro Jacques Fux, 48 anos, nunca foge a um bom papo. Ao lado de dois colegas de ofício, Carlos Herculano Lopes e Ana Cecília Carvalho, vai conversar não sobre um, mas sobre seus três mais novos romances. O encontro será no dia 1º de dezembro, às 19h, na Academia Mineira de Letras.
Dos três romances, dois contam com coautores. Um deles é o curitibano Gerson Mazer, que também estará no debate da AML. Com ele, Fux assina “Circenses” (Faria e Silva). Ao contrário de muitos escritores, que não se assumem como ghost writers quando atuam em projetos do gênero, Fux se envolve de tal maneira nas histórias dos outros que elas acabam sendo também suas.
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“Circenses” e “Para que suas lágrimas parem de jorrar” (7Letras), este coescrito com as irmãs Maria e Julie Dutilh, são dessa seara. O primeiro é de uma família de judeus poloneses que chegou ao Brasil, permanecendo na capital paranaense. A partir de um livro de mais de 500 páginas que documentava a história dos Mazer, Fux criou o romance.
O escritor faz um cruzamento entre o povo judeu e o circo. “Todos os povos diaspóricos têm que driblar o destino. Então trago várias histórias da família (Mazer), que veio fugindo das guerras, como também a dos grandes circos. Mágicos como Houdini e David Copperfield são judeus. Na Segunda Guerra, os circos famosos da Europa que eram de judeus foram perseguidos”, conta. A capa é ilustrada pela pintura “O circo” (1964), tema recorrente na obra do pintor Marc Chagall (1887-1985), judeu nascido na atual Belarus.
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NA GRÉCIA
Já o livro “Para que suas lágrimas parem de jorrar” conta uma história cheia de tragédias ambientadas na Grécia. As irmãs Maria (médica, antiga professora do Departamento de Medicina da USP) e Julie Dutilh (doutora em Biologia Vegetal pela Unicamp) só vieram a descobrir o passado de sua família após o diagnóstico de Alzheimer de sua mãe, uma holandesa.
“No processo (da doença), ela começou a falar um pouco de uma história na Grécia, coisa que as filhas nunca tinham ouvido falar”, conta Fux. Para tentar recuperar de seus antepassados o que estava se perdendo, as duas irmãs começaram a investigar, foram à Europa e descobriram raízes em um vilarejo grego, Kato Lechonia.
Uma família grega muito rica que ajudava os judeus diante da chegada dos nazistas acabou morta. As duas mulheres, mãe e filha, foram enforcadas em praça pública. O drama foi longe, com um processo grande pela herança. “Por meio de personagens, fragmentos e fotos, fui reconstruindo a história”, comenta Fux.
O terceiro romance, “Uma impostora em Harvard” (Faria e Silva), segue a linha da autoficção que Fux desenvolve desde sua estreia literária, com “Antiterapias” (2012), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura. Aqui, ele assume uma voz feminina para tentar desmontar os mitos em torno da academia. Para tal, acompanha a trajetória de K., uma pesquisadora que chega à célebre universidade norte-americana.
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“É um livro que fala um pouco sobre as minhas experiências em Harvard. Trato do mundo acadêmico com algumas fofocas também”, comenta Fux, que realizou na instituição, entre 2012 e 2014, pós-doutorado. Um personagem que emerge na narrativa é o escritor David Foster Wallace (1962-2008), ele próprio ex-aluno de Harvard (onde abandonou um mestrado em filosofia). Fux mantém a verve irônica e crítica que caracterizam seus romances. “Todo escritor é um impostor”, comenta ele.
Um dos próximos personagens de Fux é o pintor, escultor e gravador judeu Lasar Segall (1889-1957). No início de dezembro, ele parte para residência literária de três semanas em Vilnius, na Lituânia. A capital lituana é Cidade da Literatura da Unesco, que patrocina a temporada do mineiro. Fux pretende pesquisar a história do jovem Segall, que viveu até a adolescência em Vilnius, sua cidade natal. n
SOBRE O IRMÃO
Além dos três romances, Fux também lançou neste ano “Benny, o inventor” (FTD, 48 páginas, R$ 70). Com ilustrações de Lalan Bessoni, o livro traz como personagem central o próprio irmão do escritor. Cinco anos mais velho, Benny nasceu com paralisia cerebral. “Como ele não é oralizado, criou seus próprios gestos para se comunicar com as pessoas e o mundo”, comenta Fux. Voltado para o público neurodivergente, a obra, já adotada por várias instituições, traz recursos que facilitam a leitura. O livro também está disponível em versão audiovisual.