Morre Leonardo Fróes, o poeta da natureza
Escritor e tradutor fluminense tinha 84 anos e ganhou o Prêmio Jabuti, em 1996, com o livro de poemas 'Argumentos invisíveis'
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O poeta e tradutor Leonardo Fróes, vencedor do Prêmio Jabuti de poesia em 1996, morreu nesta sexta-feira (21/11), aos 84 anos. A informação foi confirmada pela Editora 34, selo que publica os livros do artista. A causa da morte não foi revelada.
Fróes se notabilizou por ler o humano por meio da natureza e por ter publicado os livros "Língua franca" (1968), "A vida em comum" (1969) e "Esqueci de avisar que estou vivo" (1973).
Nascido em Itaperuna, no Rio de Janeiro, Fróes viveu em um lar de classe média baixa. O pai do poeta trabalhava na seção administrativa de uma companhia elétrica, enquanto a mãe era dona de casa.
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Na juventude, estudou no Colégio Pedro II, onde se destacava por ser um aluno dedicado. Fez faculdade de artes plásticas, mas interrompeu os estudos para uma temporada nos Estados Unidos e não os retomou. "Não tenho nenhum talento para a pintura. Pinto com as palavras", disse em uma entrevista à Folha de S. Paulo, em 2016.
"Desde o ginásio, sabia que estava condenado a fazer poesia, mas tinha vergonha de me declarar poeta sem ter um livro publicado. Além disso, o concretismo era o movimento da moda. Dizia-se que poesia em verso tinha acabado. Mas eu não tinha intenção nenhuma de fazer aquele negócio. Pensava: 'não sou geômetro!' E ficava envergonhado."
Após deixar de lado a tentativa de ser artista plástico, ele passou a trabalhar em editoras. Atuou, inclusive, como diretor de um selo espanhol com filial no Rio de Janeiro. Nesse período, transitava no meio intelectual carioca, levava uma vida sofisticada e desfrutava de prestígio.
No entanto, o cenário mudou quando fez 30 anos. Abandonou o trabalho e se mudou com a mulher para Secretário, na região serrana fluminense, onde levava uma vida reclusa e se dedicava à poesia.
'O poema se escrevia em mim'
"Quando vim para cá, esqueci de tudo", disse o poeta à Folha de S. Paulo, em 2021. "Não dizia 'vou escrever poema'. Ele se escrevia em mim. Fui ficando cada vez mais um instrumento, uma flauta de osso. O poema tocava em mim. Aqui você vive em meio a uma poesia", contou.
Além da poesia, Froes se dedicou à tradução, o que lhe valeu em 1998 o Prêmio Paulo Rónai, da Fundação Biblioteca Nacional.