Wilson Brumer vai gerir a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Ex-presidente da Vale, Usiminas e BHP Billiton substitui Diomar Silveira em fevereiro, com o desafio de ampliar a sustentabilidade financeira da orquestra
compartilhe
SIGA
Mudança na gestão da Instituto Cultural Filarmônica. Diomar Silveira, presidente do ICF desde a criação da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, em outubro de 2007, vai deixar o cargo. Em 1º de fevereiro de 2026, o posto será ocupado por Wilson Brumer, que entrou para o Conselho de Administração no meio deste ano.
A decisão veio a público ontem (20/11), por meio de e-mail enviado aos assinantes da orquestra e participantes do programa Amigos da Filarmônica.
Leia Mais
Na carta, Silveira destaca que os 18 anos de gestão da orquestra foram, “além de minha maior empreitada, um grande presente que a vida me deu. Um dos aprendizados sobre os quais fui também me conscientizando foi reconhecer a necessidade de uma renovação na posição que ocupo, convencido da importância de nova energia capaz de levar adiante um projeto que demanda tanto.”
Silveira disse ao Estado de Minas que a decisão do conselho foi recente. “Eu mesmo havia manifestado, há muito tempo, que era necessária fazer a minha sucessão. O conselho se reuniu e avaliou que 2026 vai ser muito desafiador em termos de orçamento, de captação de recursos. Dentre os conselheiros, quem tem grande currículo junto ao empresariado é o Brumer, que se mostrou disponível”.
- Governo Zema anunciou mudança de gestão e de perfil da Sala Minas Gerais
- 'Uma sede não se cede', discursou Fabio Mechetti, regente da Filarmônica de MG
- Fiemg desiste de assumir a Sala Minas Gerais
Referência em gestão empresarial, especialmente no segmento da mineração, Wilson Brumer já presidiu a Vale, Acesita, BHP Billiton e Usiminas. Foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, na gestão Aécio Neves, e presidente dos conselhos de administração da Cemig, Light e Codemig. Atuou no conselho da Embraer e Localiza, é cônsul honorário do Consulado do Japão em Belo Horizonte.
Self-made man, Brumer, de 77 anos, começou a trabalhar aos 16 em um posto de gasolina de Belo Horizonte. Aos 18, chegou à Veminas, como auxiliar de caixa. Terminou como gerente administrativo-financeiro aos 28, quando entrou na Vale depois de ver anúncio, no EM, de envio de currículo. Tornou-se presidente da empresa aos 42 anos.
A reunião do conselho da Filarmônica, presidido pelo ex-ministro Paulo Paiva, e a assembleia que decidiu pelo nome de Brumer ocorreram na terça-feira (18/11). “Não há nada de dissidência no processo, foi uma transição tranquila, pois temos (Silveira e ele) respeito mútuo. Sem a figura do Diomar, é difícil imaginar o sucesso alcançado pela Filarmônica”, afirmou Brumer ao EM.
Desafio pessoal
De acordo com ele, sua gestão vai trabalhar para dar “maior sustentabilidade financeira” à orquestra. “Precisamos nos antecipar, criar condições financeiras adequadas para não passar sufoco todo fim de ano para fechar o orçamento. Aceitei como um desafio pessoal e também pelo meu lado cidadão, de preservar um ativo que, indiscutivelmente, é um dos maiores de Minas, motivo de orgulho para todos nós. Nós, da parte da gestão, somos o suporte. No final das contas, a Filarmônica é o maestro e os músicos.”
Silveira chegou à Filarmônica com Fabio Mechetti, maestro e diretor artístico. “Guardo vívida a memória do dia em que a professora Berenice Menegale e meu saudoso ex-professor Jacques Schwartzman me empossaram... Em apenas três meses e meio, estreava, no dia 21 de fevereiro de 2008, a nova orquestra do estado, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, em memorável concerto. Um dia histórico, iniciando um período virtuoso para a música de concerto em Minas Gerais e no Brasil. Também em tempo muito curto conseguimos que, em fevereiro de 2015, fosse aberta ao público a Sala Minas Gerais, sede da orquestra e uma das salas de concerto mais importantes da América Latina”, afirmou Silveira na carta de despedida.
Contrato com Petrobras
Diomar segue à frente do ICF até 31 de janeiro. Espera fechar a maior cota possível de patrocínios. Um deles veio a público nesta semana. Depois da negociação que durou um ano, contou Silveira, a Petrobras fechou contrato de R$ 2,5 milhões de patrocínio para a Filarmônica.
Desse valor, R$ 1 milhão foi destinado a eventos neste semestre. Já a outra parte, R$ 1,5 milhão, vai viabilizar 18 concertos e duas transmissões ao vivo, além de apresentações dos programas Filarmônica em Câmara, Tinta Fresca, Laboratório de Regência e das turnês estadual e nacional de 2026.
Legado relevante deixado por Silveira é o contrato de gestão da Filarmônica firmado entre o ICF e o governo do estado, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult). O contrato, assinado em 2024, é de três anos.
“Quando fizemos o contrato, estrategicamente deixamos até dezembro de 2027, de maneira que cobrisse o primeiro ano do novo governo”, explicou. Dessa maneira, a Filarmônica tem garantido, anualmente, até 2027, repasse do governo de R$ 19,5 milhões.
O atual presidente do ICF afirmou que há “boa sinalização de renovação” dos patrocinadores da orquestra. “Ainda está cedo para fechar números, mas tenho prognóstico de, no mínimo, R$ 15 milhões (de patrocínio). Estou lutando e vou continuar, pois esse valor não dá, os custos têm aumentado e temos de chegar a R$ 20 milhões. O desafio da captação é também o desafio de quem vai assumir (a gestão do ICF)”, conclui Silveira.