Na Sala Minas Gerais, maestro Fabio Mechetti fala sobre futuro da orquestra Filarmônica -  (crédito: MARCOS VIEIRA/EM/D.APRESS)

Na Sala Minas Gerais, maestro Fabio Mechetti fala sobre futuro da orquestra Filarmônica

crédito: MARCOS VIEIRA/EM/D.APRESS

“Uma sede não se cede”. Diretor artístico e regente titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua fundação, em 2008, Fabio Mechetti também é bom criador de bordões. Foi este o mote que norteou o discurso do maestro na noite desta quinta (11/5), abrindo o primeiro concerto da orquestra desde iniciado o imbróglio, uma semana atrás, com a assinatura do acordo de cooperação técnica para nova gestão da Sala Minas Gerais.

 

Mechetti não é de falar muito. Mas falou por 15 minutos, só interrompido, de quando em vez, pelas longas palmas da plateia que lotou a sala. Lembrou-se da história da criação da sala; explicou, didaticamente, das especificidades do espaço dedicado à música sinfônica; destacou o trabalho da equipe tanto no palco quanto atrás dele.

 


Mas não dourou a pílula. Pela primeira vez, falou publicamente sobre o acordo que tira do Instituto Cultural Filarmônica a gestão da sala. Pelo documento, assinado na sexta (5/4) pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemge), proprietária do espaço, a gestão passará a ser, já no início do próximo semestre, do Sesi Minas, braço social da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

 

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Os planos são de ampliar o uso da sala para outros usos que não somente a música de concerto. Menos ensaios, mais espetáculos.


“As partes signatárias do tal acordo desconhecem que a Filarmônica utiliza a sala uma média de 270 dias ao ano. Para cada concerto, como o desta noite, são necessários cinco, seis ensaios. Nada acontece por mágica assim que o maestro começa a agitar sua varinha de condão. Seria o mesmo que assumir que um time de futebol profissional que joga geralmente quartas e domingos, deixe seus jogadores ociosos no resto da semana”, afirmou Mechetti.

 


O regente também comentou sobre o uso da sala. “Por definição e mérito, é prioridade da orquestra. Mas ela nunca foi pensada para ser de uso exclusivo, isso não existe e nunca existiu.”


Mechetti também fez uma sugestão: “Se a real vontade da Fiemg, expressa pelo seu presidente em declarações à imprensa, é simplesmente ajudar o governo e a cultura do Estado, que o faça, não abrindo o espaço para que se transforme num salão de eventos, mas que abra as portas, com a força e influência que exerce entre as indústrias mineiras, para que mais delas passem a ser apoiadoras, patrocinadoras. Esse tipo de colaboração seria visto como um ato visionário, efetivo e cidadão, trazendo não a desconfiança, mas a gratidão de toda a sociedade. Enfim, queremos somar e não dividir.”

 


Ainda citou Martin Luther King: “Ele disse: ‘Nunca é a hora errada para se fazer a coisa certa’. Não podemos deixar que esta seja a hora certa para se fazer a coisa errada. O certo sempre deveria ser legal. O certo é o diálogo e não subterfúgios. O certo é a transparência das ações e não artimanhas sub-reptícias.”

 

Mobilização


A fala de Mechetti veio culminar com uma noite de excelência musical, de afetos e agradecimentos. O programa, que foi também transmitido na parte externa da Sala Minas Gerais, começou bem antes dos primeiros acordes.


A partir das 19h um grupo de assinantes chegou com uma faixa “Zema, a Sala Minas Gerais é nossa”. Havia senhoras distribuindo broches bordados a mão com os dizeres “Filarmônica Fica”. Havia muita gente que nem era assinante desta noite que foi para manifestar solidariedade.

 

“A Filarmônica precisa da sala, ela ensaia na sala, os musicistas usam todas as dependências para ensaiar. Acham Que a sala é subutilizada: pelo contrário, ela é intensamente usada. É o melhor projeto cultural de Minas Gerais. Abrir essa sala para eventos variados? Ela não foi feita para isso”, afirmou a filósofa Joana Farnezi, assinante da orquestra desde a época em que ela se apresentava no Palácio da Artes.

 

A classe artística também demonstrou seu apoio à Filarmônica. Lô Borges, que no fim de 2022 teve uma das maiores alegrias de sua carreira, ao se apresentar na Sala Minas Gerais com a Filarmônica tocando suas canções com arranjos feitos para o encontro, disse que não poderia faltar. Também presentes Flávio Venturini, Marcos Viana, Lelo Zaneti, Makely Ka.

 

Nesta sexta (12/4), às 20h30, a Filarmônica retorna à Sala Minas Gerais para executar novamente o programa: o “Dueto-concertino”, de Richard Strauss e a “Sinfonia no.7”, de Bruckner.