Incêndio no Museu da UFMG vira filme e revela apagamentos históricos
Diretor e roteirista de ‘Palimpsesto' falam ao podcast Divirta-se sobre perdas, repatriação e futuro dos acervos.
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Nas primeiras horas da manhã de 15 de junho de 2020, um curto-circuito provocou o incêndio no Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O fogo atingiu a chamada Reserva Técnica 1, onde estavam guardadas coleções não expostas — entre elas material paleontológico — e que acabou parcialmente comprometida. Não houve vítimas humanas, mas a perda do acervo gerou imediata apreensão entre pesquisadores e na sociedade.
O episódio trágico é revisitado pelos documentaristas Felipe Canêdo e André Di Franco no filme “Palimpsesto”, em cartaz dentro da programação do Fórumdoc.BH. O documentário terá exibições neste domingo (23/11), no Cine Humberto Mauro, às 19h; e no próximo dia 28, no Cine Santa Tereza, às 17h. Todas as sessões são gratuitas.
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Felipe Canêdo e a roteirista do filme, Lara de Paula, são os convidados do episódio mais recente do podcast Divirta-se, já disponível no canal do Portal Uai no YouTube e no Spotify. Na conversa, os dois não só reconstroem o dia do incêndio como discutem o que restou depois da tragédia: a dimensão material (o que foi perdido ou danificado), a dimensão afetiva (a relação de comunidades e pesquisadores com objetos-testemunho) e as implicações institucionais para políticas de preservação.
“O documentário toma o incêndio como ponto de partida para refletir sobre outras questões (como apagamentos históricos, institucionais e simbólicos que atravessam acervos e memórias)”, destaca Felipe.
A Reitoria da UFMG e a direção do museu empenharam-se em avaliar os danos e articular medidas de recuperação e proteção dos acervos remanescentes. A tragédia também despertou manifestações de entidades nacionais e internacionais sobre a necessidade de políticas públicas mais robustas para museus.
Do incêndio às discussões contemporâneas, a conversa no Divirta-se abordou dois temas que ganham tração no país e no exterior, que é a repatriação de peças e novos modelos de museu. O Brasil tem ampliado negociações de retorno de peças e fósseis ao território nacional. As iniciativas recentes de repatriação e acordos internacionais mostram que o tema está na agenda diplomática e científica.
“Além disso, há um forte debate sobre novas formas de museu”, destaca Lara.
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De acordo com ela, em alguns países andinos existem museus comunitários e de sítio onde a ênfase é a transmissão de saberes e práticas vivas — oficinas, demonstrações, ensino do modo de vida local — em vez da apresentação de objetos isolados em vitrines. Esses modelos colocam povos como protagonistas das narrativas e da guarda do patrimônio, e inspiram repensar como os museus brasileiros podem se aproximar de comunidades e de formas de cuidado menos excludentes.
Tragédias como o incêndio no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG não resultam apenas em perdas técnicas. São pistas sobre fragilidades de políticas públicas, de infraestrutura e de relações de poder que regulam memória e ciência.
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A reação das instituições, os processos de repatriação e o debate sobre modelos comunitários de museus são elementos centrais para pensar não apenas a restauração física de coleções, mas a reconstrução de práticas e de ecossistemas de memória mais justos.