'Rembrandt – O mestre da luz e da sombra' expõe 69 gravuras do holandês
Exposição na Casa Fiat de Cultura, a partir de terça-feira (25/11), mostra algumas das obras do grande artista Rembrandt van Rijn
compartilhe
SIGA
Uma gravura do grande artista holandês Rembrandt van Rijn (1606-1669) será leiloada em 3 de dezembro pela inglesa Cheffins. A estimativa é de que os lances atinjam de 10 mil a 20 mil libras (R$ 70 mil a R$ 140 mil). A raridade foi encontrada no ano passado por Edward Barlow, filho do artista e cenógrafo britânico Alan Barlow (1926-2005), no antigo estúdio do pai, em Norfolk, interior da Inglaterra.
Ficou comprovado que ela é uma impressão preparatória da célebre “Jan Uytenbogaert, o pesador de ouro” (1639) – ele costumava realizar tais impressões antes de finalizar suas gravuras em placas de cobre. Um exemplar de “O pesador de ouro” será visto em Belo Horizonte a partir desta terça (25/11), quando a Casa Fiat de Cultura abre “Rembrandt – O mestre da luz e da sombra”, exposição com 69 gravuras do artista.
É uma mostra muito expressiva, pois acompanha toda a trajetória de Rembrandt como gravador – ele deixou cerca de 300 obras do gênero. O valor que a gravura pode atingir no leilão vai de encontro com o que o artista preconizou, explica Luca Baroni, curador da exposição e diretor da Rede dos Museus da Região Marche Nord, na Itália, que supervisiona a coleção privada que está no Brasil.
Leia Mais
“Rembrandt foi um dos primeiros artistas – o outro foi o alemão Dürer – a considerar a gravura tão importante quanto a pintura. Ele impôs os preços ao mercado, dando grande impulso à arte da gravura. Outra razão pela qual ele é tão importante na história da gravura é que criava enquanto fazia gravura. Ele trabalhava diretamente enquanto gravava a placa, ao contrário de artistas que preparavam a placa previamente, adotando uma abordagem mais indireta. Diante dessa intimidade, ele fez muitos autorretratos”, diz Baroni.
Uma terceira questão que o curador destaca é a técnica. “Ele tinha um vasto conhecimento dos materiais, em especial do verniz, criando efeitos de preto e de preto aveludado sem precedentes na história da gravura. Assim, ele conseguiu transformá-la em uma forma de arte diferente.”
PRODUÇÃO VOLUMOSA
A coleção que será aberta na Casa Fiat abrange uma produção que vai do fim da década de 1620, quando tinha pouco mais de 20 anos, até 1665, pouco tempo antes de ele morrer, aos 63, em Amsterdã, cidade onde o artista de Laiden passou quase metade da vida. “Isso nos mostra que Rembrandt fez gravuras durante toda a vida. Por vezes, dezenas de gravuras por ano, uma produção enorme para um artista que também se dedicava à pintura, ao ensino, e que desempenhava um papel fundamental na sociedade”, acrescenta Baroni.
Dos teleteatros às novelas, dramaturgia se reinventou na TV Itacolomi
Boa parte das gravuras é pequena, com 10cm X 15cm – há ainda menores, de 3cm X 10cm. O curador explica: “Elas são pequenas em comparação com os nossos padrões. Mas em comparação com os padrões da época de Rembrandt, algumas são bem grandes. Quando você trabalha em uma gravura em metal, que é a técnica de impressão dele, está trabalhando em uma placa, geralmente, de cobre. É um trabalho demorado, e quanto maior e mais pesado, mais caro o material e mais longo o processo de execução.”
Uma gravura pequena, do tamanho de um cartão postal, poderia levar, na época, de uma a duas semanas para ser executada. “As maiores, como as que estão na exposição, ‘A descida da cruz’ (1633) e ‘A morte da Virgem’ (1639), podiam levar meses e até anos para serem feitas, já que a gravura em metal é uma técnica muito lenta.” “A morte da Virgem”, por exemplo, tem 45cm X 30cm. “Em sua época, era uma das maiores gravuras em circulação”, afirma Baroni.
Ele cita esta obra, que mostra a mãe de Cristo cercada por apóstolos, no fim da vida, como um dos destaques. “Não apenas por ser uma das maiores da exposição, mas também porque Rembrandt a criou no auge da carreira. Quando ele realizou essa gravação, tinha em mente outra obra de arte, feita 200 anos antes”, diz Baroni, referindo-se a outra “A morte da Virgem” – uma gravação do alemão Martin Schongauer, que atuou em fins do século 15. “Isso é um sinal muito forte de que Rembrandt tinha pelo domínio da história da arte.”
Maria Fernanda Cândido comenta chance de 'O agente secreto' no Oscar
O curador elenca outra obra-prima, um autorretrato do artista com sua mulher, Saskia van Uylenburgh (1636). “É uma gravura pequena, feita logo após o casamento, quando ele tinha 24 anos. É um dos retratos mais íntimos que o artista dedicou a si mesmo e a sua mulher, e eles estão no mesmo nível.”
Ainda que os temas sacros, do Antigo e do Novo Testamento, dominem boa parte das obras, Rembrandt também tinha um olhar afiado para assuntos mais ordinários. Baroni destaca a obra “O jogador de golfe” (1654). “Na verdade, não se trata de golfe, mas de um ancestral, o kolf. A gravura retrata alguém deitado, provavelmente em um bar da época e, ao fundo, vemos um homem com um taco jogando kolf. É uma das primeiras representações desse esporte. Isso nos permite entender que Rembrandt se interessava também pela vida cotidiana. Por isso, temos a representação de um jogador de golfe, um tema que, hoje, jamais seria considerado digno de uma obra de arte.”
l “REMBRANDT – O MESTRE DA LUZ E DA SOMBRA”
l Exposição na Casa Fiat de Cultura, Praça da Liberdade, 10, Funcionários. Abertura para o público nesta terça-feira (25/11), às 10h. Visitação de terça à sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada franca. Até 25 de janeiro.