Planet Hemp: veja os perrengues em BH e 5 tretas que marcaram a banda
Marcelo D2 desabafa sobre mudanças no show de BH; relembre outras cinco vezes que a banda esteve no centro de grandes controvérsias e polêmicas
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O Planet Hemp enfrenta novos desafios em sua turnê de despedida, “A última ponta”. Em um vídeo publicado no último sábado (25/10), o vocalista Marcelo D2 desabafou sobre as dificuldades para realizar o show em Belo Horizonte, marcado para esta sexta-feira (31/10) e que precisou mudar de local duas vezes. Depois da capital mineira, a banda segue para outras cidades: Salvador (8/11), São Paulo (15/11) e Rio de Janeiro (13/12).
Depois das alterações, o Mercado de Santa Tereza, na Região Leste, foi o local definido, mas com o horário de término antecipado para as 22h, por exigências do novo espaço. O início do show está previsto para 19h30, com abertura dos portões às 16h.
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“Peço a compreensão e o apoio de vocês”, afirmou D2 em vídeo postado nas redes sociais. Segundo ele, as dificuldades com os shows acompanham o grupo desde 1994, quando a banda começou a se apresentar fora do Rio de Janeiro. “Temos, desde então, que lutar contra essas forças. Mas o show será incrível”, complementou.
Lidar com imprevistos e polêmicas não é novidade para a banda formada por Marcelo D2, BNegão, Formigão, Nobru, Pedro Garcia e Daniel Ganjaman. Ao longo de mais de 30 anos de carreira, o grupo carioca coleciona controvérsias que ajudaram a moldar sua identidade contracultural na música brasileira — fortalecendo a imagem de um conjunto que nunca fugiu do debate.
Parte dessa história é retratada no livro “Planet Hemp: mantenha o respeito”, do escritor e jornalista Pedro de Luna. A obra leva o mesmo nome da faixa lançada em 1995, no álbum "Usuário", em que a banda faz uma crítica ao preconceito e à criminalização do uso da maconha. O livro também mergulha em discussões sobre drogas, desigualdade social e hipocrisia institucional, temas que estiveram presentes na trajetória do grupo.
A biografia revela como o Planet Hemp sacudiu as estruturas do rock nacional nos anos 1990. A fusão entre o rap e rock conquistou uma legião de jovens, ao mesmo tempo em que provocou reações intensas e resistência de setores mais conservadores.
5 tretas que marcaram a história do Planet Hemp
1. Censura na capa e nas letras
Se em 2025 a descriminalização da maconha ainda é um tema delicado, em 1995 era um assunto muito mais espinhoso. Desde o álbum de estreia, “Usuário”, o Planet Hemp desafiou o mercado. A capa do disco e as letras explícitas sobre o uso da maconha resultaram em censura em diversas rádios e lojas.
O clipe do primeiro single do disco, “Legalize já”, gerou polêmica ao exibir uma criança regando um pé de maconha. Na época, a emissora MTV passou a exibi-lo apenas depois das 23h. De acordo com D2, o grupo precisou cancelar apresentações devido à repressão ao conteúdo de suas músicas.
A postura transgressora, no entanto, estabeleceu a banda como um dos nomes mais autênticos e provocadores da música brasileira - embora os holofotes também tenham trazido momentos conturbados.
2. Prisão em Brasília (1997)
Em novembro de 1997, o Planet Hemp desembarcou em Belo Horizonte para um show no extinto Estação 767, na Avenida dos Andradas. A apresentação foi cancelada porque os integrantes foram detidos pela polícia na madrugada anterior, quando saíam do Studio Bar, na Região Central da cidade. Todos acabaram na delegacia, detidos durante cinco horas sob a acusação de apologia às drogas.
Após ser liberados, os músicos viajaram a Brasília, onde fariam uma nova apresentação. Foi na capital federal que ocorreu um dos episódios mais traumáticos da trajetória do Planet Hemp.
Assim que terminaram o show no Minas Brasília Tênis Clube, em 8 de novembro de 1997, foram presos. Policiais federais da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes haviam filmado trechos do show e deram voz de prisão ao grupo.
Eles ficaram presos durante cinco dias. Na época, o caso teve enorme repercussão nacional.
3. O hiato de mais de uma década
Em 2001, a banda anunciou uma pausa que durou mais de dez anos. O hiato foi motivado por divergências criativas e por projetos pessoais dos membros. Para uma legião de fãs, a separação representou um longo período de incerteza sobre o futuro do grupo.
Quem achou que o Planet voltaria mais conservador e nostálgico se surpreendeu em 2022, quando o grupo lançou faixas inéditas no disco “Jardineiros”, retomando temas de consciência social e a defesa da descriminalização da maconha.
4. Posicionamento político recente
Com o lançamento de “Jardineiros”, a banda reafirmou seu forte posicionamento a favor da descriminalização da maconha e adotou um tom abertamente político - especialmente contra o governo de Jair Bolsonaro, durante “esses anos em que o Planet não esteve presente”.
Em “Puxa fumo”, o refrão diz: “O presidente já fumou, o filho dele já fumou, ninguém morreu, olha a viagem.”
BNegão afirma que “o esquema é e sempre foi um olho no peixe e outro no gado”, enquanto D2 faz referência ao então presidente Bolsonaro, citando o verso do samba-enredo da Mangueira de 2019: “Não há futuro sem partilha e nem messias com arma na mão.”
“Ao longo dos anos, encontrei muitos ativistas, alguns que são linha de frente no Brasil, dizendo que começaram a se ligar nas questões sociais a partir das letras do Planet. Então havia muita cobrança, do tipo ‘cadê vocês no meio dessa loucura toda que estamos vivendo?’”, contou o rapper BNegão, em entrevista ao Estado de Minas na época.
5. Prefeito ameaça cortar luz
No ano passado, o prefeito de Criciúma (SC), Clésio Salvaro (PSD), divulgou um vídeo em suas redes sociais no qual ameaça cortar a energia elétrica de um campeonato de skate e de um festival de música na cidade — evento que teria apresentações de Criolo e Planet Hemp, entre os dias 22 e 24 de março.
Na gravação, Clésio autoriza um funcionário da prefeitura, que aparece ao lado dele segurando um alicate, a cortar os cabos da rede elétrica caso houvesse apologia às drogas ou conteúdo sexual durante as competições e shows.
“Qualquer coisa diferente disso, como apologia às drogas, apologia aos crimes, qualquer coisa que mexa com conteúdo sexual, que mexa com nossos meninos e meninas, o Gilberto, com o alicate na mão, está autorizado a cortar a energia”, afirmou o prefeito no vídeo.
Serviço
Planet Hemp – Turnê “A Última Ponta”
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Quando: 31 de outubro de 2025
Abertura dos portões: 16h
Show: 19h30
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Onde: Mercado Santa Tereza – R. São Gotardo, 273, Santa Tereza, Belo Horizonte
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Classificação: 16 anos (menores apenas acompanhados de responsável legal)
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Ingressos: Entre R$ 187,50 e R$ 375, à venda pelo Eventim ou no Shopping 5ª Avenida (R. Alagoas, 1314 – Funcionários, BH).