
Emoções de Maria Bonita e Lampião inspiram peça de alunos do TU da UFMG
"Bonita", que estreia nesta quarta-feira (29/1) em BH, aborda o universo intimista do cangaço e dos sertões brasileiros
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Siga noOs cangaceiros Lampião e Maria Bonita formam um dos casais mais famosos da história brasileira. Ele é lembrado como o saqueador destemido do início do século 20; ela, como a primeira mulher a integrar o movimento banditista do Nordeste.
Nesta quarta-feira (29/1), estreia em BH o espetáculo “Bonita”, com a turma de formandos do Teatro Universitário (TU) da UFMG. Adaptação do conto homônimo de Dione Carlos, a peça traz uma abordagem poética do sertão e a visão intimista da trajetória de Maria Bonita no cangaço.
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A direção é assinada por Adriana Chaves, professora convidada do TU e responsável pela escolha do texto. Antes de “Bonita”, ela dirigiu 40 estudantes no cordel “Heroínas negras brasileiras”, da escritora cearense Jarid Arraes.
Com raízes no sertão baiano e mineiro, Adriana Chaves desenvolve pesquisa artística voltada para as relações migratórias e familiares. Ela trabalhou essas questões com os estudantes da UFMG.
“A maioria da turma são pessoas que vêm dos sertões mineiros e têm famílias migrantes desses lugares, assim como do Norte e do Nordeste. A gente queria sair dos estereótipos sobre o sertão e destacar como ele foi inventado politicamente no país. Temos a visão de que sertão é Nordeste, mas ele também está no Sul e aqui nos interiores de Minas Gerais”, pontua.
“Bonita” retrata o casal cangaceiro mesclando ficção e história. Fatos como a causa da morte dos personagens, executados pela polícia em Sergipe, em 1938, são a base do conto, mas o que distingue a peça é o universo emocional de Maria Bonita.
A produção utiliza o sistema coringa – diversos atores interpretam um personagem – para os papéis principais. Dessa forma, não apenas a maioria dos formandos dá vida ao casal, como é possível “descentralizar” as complexas personalidades dos dois.
“Quando um ator fica com a Maria Bonita, por exemplo, vai interpretá-la com alguns trejeitos próprios ou dentro de um estereótipo muito demarcado. Nossa proposta foi trabalhar várias versões dos personagens. No início, é uma Maria Bonita, depois ela ganha outras singularidades. A peça não tem performances muito fechadas”, explica Adriana Chaves.
A dramaturgia de Dione Carlos se destaca pelo caráter poético, substituindo diálogos tradicionais por versos e monólogos. A diretora investiu em uma construção simbólica, integrando cenografia, figurino e direção musical, também assinada por ela.
Vermelho
O vermelho é a cor predominante, em contraste com o marrom típico das representações do cangaço. A cor evoca os sentimentos de dor, paixão e desejo, conectando a plateia com a intensidade do texto.
“Em todo o processo de criação, provoquei os estudantes a não só pensar no espaço e no tempo, mas nas situações que o texto suscita. Assim, eles trouxeram propostas musicais que tivessem relação com o cenário e o vermelho. Além disso, escolhemos usar tecidos que 'ventassem' nas paredes, para criar um elemento estético provocador das corporeidades. Tudo colaborou para um espetáculo visual e corporalmente integrado”, conclui.
“BONITA”
Peça de formatura dos alunos do Teatro Universitário da UFMG. Texto de Dione Carlos, com direção de Adriana Chaves. Apresentações desta quarta-feira (29/1) a domingo (2/2), às 20h, e de 5/2 a 9/2, às 19h, na Funarte/MG (Rua Januária, 68, Centro). Entrada franca, com retirada de ingressos uma hora antes do espetáculo.
*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria