CINEMA

"Paddington: Uma aventura na floresta" leva o ursinho de volta ao Peru

Com trama que envolve a terra natal do personagem, terceiro e último capítulo da trilogia, em cartaz, celebra a identidade migrante de um ídolo britânico

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Que pode um ursinho de sobretudo e chapéu de pescador falar sobre o Reino Unido do brexit? Se ele for o Paddington, bem, pode de tudo. Ao menos é essa a mensagem da trilogia que "Uma aventura na floresta" encerra, apesar deste terceiro capítulo em cartaz nos cinemas ser claramente inferior aos anteriores.


Não conhece Paddington? Sem problema, não é uma febre mundial. Mas o personagem infantil criado por Michael Bond é desses que só perde no imaginário popular britânico para a rainha Elizabeth II. Não por acaso, a mascote foi convidada de honra no jubileu da monarca, tomando chá com sanduíches de geleia de laranja.


Para os cinéfilos, o bichinho se tornou uma espécie de sucesso "cult" pelas adaptações live-action estrelando Nicole Kidman – no primeiro e melhor filme, de 2014 – e Hugh Grant, em "As aventuras de Paddington 2", de 2017.


Dessa vez, o clima é tropical – Paddington volta à sua terra natal, a porção peruana da floresta amazônica. Peru? Pois é, o ícone britânico é um imigrante. Não à toa, o filme abre com o bichinho ganhando seu passaporte e um guarda-chuva Windsor Deluxe, digno de qualquer cavalheiro.


Mas ele e sua família adotiva vão por necessidade. Sua tia Lucy, que resgatou o ursinho órfão, ainda filhote, de um rio turbulento, morre de saudades e parece ter feito uma descoberta importante. Chegando lá, percebem um clima estranho. A tia desapareceu e a madre superiora que cuida do lar para ursos aposentados, vivida por Olivia Colman, tem palpites suspeitos sobre o paradeiro da velhinha.


Número musical


É lá também que transcorre o primeiro e único número musical do filme, onde se reflete um olhar debochado para a tradição católica e seus conventos misteriosos, mas com pouca criatividade.


Depois a bola do humor cai no colo de Antonio Banderas, no papel de um barqueiro acometido por uma hereditária febre do ouro. Daí saem boas sacadas para manter o ritmo, quando ele começa a ver e conversar com os fantasmas de seus antepassados – aventureiros, militares, padres, aviadores, todos espumando o colonizador sangue espanhol.


Naturalmente, o desaparecimento da tia Lucy desemboca numa busca pelo Eldorado. A aventura engrena entre trapalhadas e trocadilhos, até, a horas tantas, deixar de engrenar. Não por incompetência dos seus atores, mesmo que automatizados nos exageros que esse tipo de filme infantil pede, mas pela falta de empenho em elaborar as cenas.


Exemplo maior é o embate de Paddington e Banderas pelas ruínas de uma antiga civilização. Vai-se de um lado para outro sem muita razão, lhamas correm, Banderas tropeça, pedras rolam etc.


Só não se perde tudo pelo charme e carisma dessas personagens tão irreais quanto simbólicas, seres de desenho animado, enfim, imunes a pancadas e desastres de avião. Tudo combinado com uma sutil mensagem ambiental – Paddington é um urso-de-óculos, única espécie do animal na América do Sul, considerado um animal sagrado na cultura andina – e política.


Paddington, sem saber, está atrás das suas raízes. Ama a geleia de laranja, mas avança sobre uma pitaia com a mesma voracidade. Ruge pela selva em busca da tia até se deparar com o eco da própria voz. A trama culmina numa imagem do Reino Unido de portas abertas, celebrando a identidade migrante desse símbolo nacional que escolheu sua própria família.

Pode soar inocente. Mas que pode o cinema infantil senão dar a ver esse horizonte? Lição que o nosso "Chico Bento e a goiabeira maraviosa" ensina com ainda mais encanto.

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