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ARTES VISUAIS

Retrospectiva da artista Radeir destaca produção cubista em Minas

Exposição "Radeir: Horizonte vertical", em cartaz no Parque do Palácio a partir deste domingo (19/1), reúne obras da artista capixaba que fez carreira em BH

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O Cubismo chegou ao Brasil como um dos desdobramentos da Semana de Arte Moderna de 1922. A partir da publicação do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, uma das marcas do movimento foi a mescla de influências europeias com elementos da cultura brasileira. Para celebrar o centenário da chegada dessa vanguarda artística ao país, o Parque do Palácio inaugura neste domingo (19/1) uma retrospectiva da artista brasileira Radeir (1947-2016).


Nascida em uma fazenda de café no interior do Espírito Santo, Radeir começou a pintar na adolescência. Na década de 1980, foi aluna da Escola de Belas Artes da UFMG e fez carreira na capital mineira. Suas obras foram exibidas também na Inglaterra, Portugal, Alemanha, Suíça e Itália. Porém, sua discrição, somada à divulgação de sua obra no meio digital, contribuiu para que, após sua morte, em 2016, ela fosse gradualmente esquecida pelo circuito de arte.


Em cartaz até 4 de abril, a mostra “Radeir: Horizonte vertical” tem como objetivo revisitar e iluminar o legado dessa artista. “Ela tinha um trabalho muito discreto, escolhia com cuidado para quem dedicaria uma obra e em qual acervo cada peça seria inserida”, afirma a curadora Sarah Ruach. Muito acadêmica, Radeir também estudou na Escola Guignard, além da UFMG.


“Quando traçamos a linha do tempo do cubismo em Minas Gerais, poucos nomes surgiram, mas o dela foi uma unanimidade entre colecionadores. Ela tinha um traço muito marcante”, comenta Sarah. “Escolhemos Radeir como a primeira artista do ano no Parque do Palácio por ser cubista, por ser mulher e porque, em breve, a morte dela completa uma década. Esses fatores nos motivaram.”



Pesquisas realizadas junto a colecionadores de arte mineiros trouxeram à tona histórias dos grandes comércios de arte de Belo Horizonte entre as décadas de 1970 e 1990, como os encontros nas extintas galerias Marília de Dirceu, no bairro Lourdes, e AMI, do marchand Fernando Paz.


Grande parte das obras em exposição foi cedida do acervo do colecionador Paulo Marliere, que conheceu Radeir nos anos 1970, por intermédio de um tio, e manteve amizade com ela até o fim da vida da artista. Marliere desempenha um papel essencial na preservação do legado da artista, com cerca de 80 obras em sua coleção. Com o auxílio do restaurador Antônio Vieira, ele realiza um trabalho de conservação das peças.


“O que mais me impressiona na obra de Radeir é a beleza e a riqueza dos detalhes. Dos artistas que conheci, ela foi a que mais me marcou”, afirma Paulo. Apaixonado por seu trabalho, ele conta que passava dias inteiros observando a artista pintar. “Ela era fantástica, fora de série.”


O objetivo do colecionador e do restaurador é que a exposição desperte nas pessoas o senso de importância das artistas brasileiras. “Nós conhecemos a fundo a relação dela com a arte. Nos dedicamos há mais de uma década a buscar locais e pessoas que entendam essa relevância. Queremos resgatar a história de Radeir e, um dia, reunir uma biografia à altura de seu legado”, comenta Antonio Vieira.

Figura feminina

Segundo Sarah Ruach, no processo de curadoria foram selecionadas as melhores peças do acervo de Marliere, com destaque para a produção de Radeir entre as décadas de 1980 e 1990, quando ela explorou tons pastel e ampliou o espaço para a figura feminina em suas telas. “Optamos por essa fase, em que ela traz mais liberdade e abstração feminina em suas obras”, explica Sarah.

Radeir encontrou no cubismo um espaço para experimentar com o corpo humano e formas geométricas, desconstruindo a imagem tradicional. Uma das principais obras da mostra é o quadro “Chorinho”. “É um cubismo muito mineiro”, comenta Sarah sobre a peça de dois metros de altura. “Ela acreditava que o vertical expande mais porque aponta para o alto. Essa filosofia é um marco no traço dela e justifica o título da exposição”, diz a curadora.

Produzida seis décadas após a chegada do cubismo ao Brasil, a obra de Radeir propõe novas interpretações para o estilo, amplamente difundido internacionalmente por artistas como Pablo Picasso e Georges Braque, além de Tarsila do Amaral no país. O cubismo de Radeir incorpora texturas e cores que refletem sua vivência pessoal e a diversidade cultural brasileira.

“No início, ela desenvolveu uma abstração geométrica em suas obras, que gradualmente formou um cubismo próprio, muitas vezes focado em figuras femininas. Ela trabalhava a liberdade feminina e a abstração nas composições, que acabaram sendo consolidadas como obras cubistas, mesmo sem essa intenção inicial”, analisa a curadora.

Durante o percurso na mostra, o público poderá observar duas assinaturas diferentes nas obras. No início da carreira, a artista assinava como Adeir, seu nome de batismo. “A medida em que as peças foram se tornando mais abstratas e geométricas, ela adotou o nome Radeir, acreditando que o “R” conferia mais energia e potência à sua identidade artística”, diz Sarah Ruach.


"RADEIR: HORIZONTE VERTICAL"


Retrospectiva da artista. Em cartaz a partir deste domingo (19/1), no Parque do Palácio (R. Prof. Djalma Guimarães, 161 - Portaria 2 - Mangabeiras). Visitação de quarta a sexta, das 10h às 18h, e aos sábados e domingos, das 9h às 18h. Até 4 de abril. A entrada no parque custa R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) e os ingressos devem ser retirados pelo Sympla.

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