"Capote vs. Swans" tem elenco estelar e Gus Van Sant na direção de seis dos oito episódios

crédito: STAR/DIVULGAÇÃO

 

Truman Capote (1924-1984) sempre entrou na vida de seus personagens sem pedir licença. Um dos maiores escritores norte-americanos do século 20, que com “A sangue frio” (1965) fez um dos clássicos (se não o mais importante) do jornalismo literário, era também pouco confiável – traiçoeiro, por vezes.

 


É deste Capote que trata a segunda temporada da série antológica “Feud”. Disponível no Star+, a produção capitaneada por Ryan Murphy foi baseada no livro “Capote’s women: A true story of love, betrayal, and a swan song of an era” (2021), de Laurence Leamer. A adaptação televisiva ganhou o subtítulo “Capote vs. The Swans”.

 


Swans (cisnes em inglês), era como Capote chamava suas amigas, grupo restritíssimo de socialites que reinava na elite nova-iorquina das décadas de 1960 e 1970. A narrativa, que vai e volta no tempo, acompanha o relacionamento do escritor com elas.

 


Seu ocaso se deu quando um trecho de seu livro “Súplicas atendidas” (1986, inacabado, publicado postumamente) chegou à revista “Esquire”. A edição de somente um trecho espalhou o horror no jet set, já que Capote revelava ali segredos de alcova do grand monde. Ele caiu em desgraça e entrou numa espiral de autodestruição, potencializada pelo abuso de álcool e drogas.

 


Grandes nomes

 

“Feud: Capote vs. The Swans” é daquelas produções que enchem os olhos, com um apuro estético que faz jus aos nomes dos envolvidos. Gus Van Sant dirige seis dos oito episódios, que reúnem um elenco de bons atores e atrizes vindos do cinema.

 


No episódio piloto, Capote (o britânico Tom Hollander, que convence com os maneirismos do escritor) conhece Babe Paley (Naomi Watts), aquela que se tornará a favorita. É também a rainha das socialites, sobre quem o escritor certa vez comentou: “Babe Paley tinha apenas um defeito. Ela era perfeita. Caso contrário, ela era perfeita”.

 


Só que a perfeição tem seu preço. Ela vive um casamento fracassado com Bill Paley (Treat Williams), presidente da rede de TV CBS. Quando a vemos, está em completo desespero. Aguentando por anos as constantes traições do marido, quando chega em casa de uma viagem a Paris o encontra limpando sangue no tapete e lençol do quarto. Este seria de uma das amantes, a mulher do governador de Nova York na época.

 


Capote rapidamente vai ajudar a amiga em crise, entupindo-a de remédios e tirando de casa empregadas e quatro filhos. Fica claro que, mesmo que ele se compadeça das agruras de Babe, também está colhendo, com a visita, material para um novo livro.

 


O episódio inicial vai, por meio de flashbacks, mostrando como se dá a dinâmica entre o escritor e seu círculo íntimo. Além de Babe, o grupo é formado por Slim Keith (Diane Lane), C. Z. Guest (Chloë Sevigny, que foi lançada por Gus Van Sant em “Kids”, de 1995) e Lee Radziwill (Calista Flockhart), a irmã mais nova de Jacqueline Kennedy Onassis. Já a Ann Woodward (Demi Moore) é o patinho feio entre os cisnes. Graças a Capote, ganhou o apelido de Bang Bang – ele espalha que foi ela quem matou o marido.

 


A química entre Hollander e Watts é impressionante – é só na presença dela que o escritor, conhecido como uma figura para lá de extravagante, se aquieta um pouco.

 


A exemplo de sua temporada inicial (2017), que tratou da rivalidade entre Bette Davis e Joan Crawford, “Feud” acompanha personagens glamourosas, ricas, que têm o mundo a seus pés. Mas que também são quebradas por dentro. Ao trazer à tona essas rachaduras, a série chega ao seu melhor.

 

“FEUD: CAPOTE VS. THE SWANS”
• A temporada, com oito episódios, está disponível no Star+