Irene Bertachini, Alcione Oliveira, Lilian Amaral, Sidarta Riani e André Oliveira criaram o espetáculo e a trilha, com a colaboração do diretor Eugênio Tadeu -  (crédito: Lucas Bois/Divulgação)

Irene Bertachini, Alcione Oliveira, Lilian Amaral, Sidarta Riani e André Oliveira criaram o espetáculo e a trilha, com a colaboração do diretor Eugênio Tadeu

crédito: Lucas Bois/Divulgação

Um caracol vive tranquilamente na natureza, até o dia em que decide nadar no rio. Saindo da água depois do mergulho, não podia ser maior a surpresa: a concha espiralada que lhe servia de casa fora levada embora pela correnteza. Não se trata apenas da moradia do escargot, e sim de parte de sua própria identidade que foi embora, limitando-o à condição de lesma. Para recuperar sua individualidade, ele parte em busca de algo que possa substituir sua concha.


Esse é o mote do musical infantil “Caracol”, que tem apresentação gratuita neste sábado (16/3), na Funarte, e com cobrança de ingresso (R$ 30, a inteira) no domingo.


A cantora, instrumentista e compositora Irene Bertachini, que idealizou a montagem, interpreta o Caracol. “É um espetáculo que fala sobre a criação da nossa identidade. A principal questão colocada ali é: como que a gente pode se sentir em casa e se sentir bem com a gente mesma?”, diz ela.


“Porque existe essa ideia que nós construímos de que o lar é exterior a nós, como se nossa identidade estivesse nas coisas que nós temos, e não nas nossas atitudes ou no que a gente pensa”, acrescenta.


Essa é, talvez, a principal descoberta do caracol. Mas, até chegar a essa conclusão, ele faz um périplo no qual encontra amigos dispostos a ajudá-lo a encontrar uma nova concha e também quem só quer atrapalhar.


“Caracol” nasceu de uma colaboração entre Bertachini, Eugênio Tadeu (diretor do espetáculo) e os multiartistas Alcione Oliveira, Lilian Amaral, Sidarta Riani e André Oliveira, que completam o elenco, ora interpretando os antagonistas do caracol, ora se revezando em instrumentos e na voz nas cenas musicais.


As canções também são fruto de criação coletiva dos artistas, com elementos da MPB, de estilos afro-brasileiros e tradicionais de países latino-americanos. “A gente quis trazer uma diversidade de ritmos e estilos musicais para as crianças, um público que está em formação e que pode ser um grande consumidor de música de uma forma crítica”, diz Bertachini.


Diálogo com a literatura

Um espectador mais atento poderá perceber em determinado momento da peça um diálogo entre o musical e a obra do escritor e poeta Edimilson de Almeida Pereira voltada para as crianças. A relação ocorre quando o Caracol, em sua jornada na busca por uma concha, encontra dois erês e estabelece vínculos afetivos com eles.


Bertachini explica que, depois que o roteiro estava pronto, teve vontade de levar para o texto poemas infantis. “Acho muito interessante promover esse intercâmbio, essa diversidade de linguagem dentro de uma obra.”


O requisito era que o poema fosse de um autor associado à cultura negra. “Eu queria muito trazer isso de uma forma respeitosa. Já conhecia a obra do Edmilson, mas ainda não conhecia o trabalho dele voltado para o público infantil. Ao procurar autores negros que falassem sobre a cultura negra, encontrei dois livros lindos dele que tinham três poemas que se encaixavam em nosso roteiro”, conta ela, citando “Os reizinhos de Congo” (2004) e “Poemas para ler com palmas” (2017), dos quais retirou poemas que abordam a capoeira, o reinado e o batuque.


“Pode parecer que abordamos temas muito profundos e de difícil entendimento. Mas a verdade é que, como é um espetáculo voltado para as crianças, trazemos essas discussões de maneira muito leve e, em certa medida, engraçada. Mas, claro, sempre com o maior respeito”, afirma.


“CARACOL”
Direção: Eugênio Tadeu. Com Irene Bertachini, Alcione Oliveira, Lilian Amaral, Sidarta Riani e André Oliveira. Texto: criação coletiva. Na Funarte (Rua Januária, 68, Centro). Neste sábado (16/3), às 16h, com entrada franca. No domingo (17/3), às 16h, com ingressos à venda por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), no site do Sympla ou na bilheteria do teatro uma hora antes do espetáculo.